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Reflexões SOBRE O FILME
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O Homem é o único animal que reconhece um Eu distinto do mundo. Essa individualidade lhe confere a capacidade de transformar a realidade. A transformação ocorre com a articulação entre a ciência e a tecnologia.

Diante de uma pedra que lhe obstruí o caminho, o homem usa um pedaço de galho e empurra a pedra, construiu uma alavanca, fez rude tecnologia. Ao tentar compreender como a alavanca funciona e pode ser aperfeiçoada, ele faz ciência.

Esse Eu que saí do mundo e olha de fora para a realidade a ser transformada, também olha para si e se reconhece mortal, isto custa caro – é a medida da angústia.

A capacidade de transformar o meio em que vive permitiu ao ser humano conquistar todos os ecossistemas do planeta, e, para isso, aprendeu a fazer tecnologias da habitação e do vestuário capazes de proteger seu ser biológico das adversidades climáticas. Sexo, comida e magia, nenhum ser humano vive sem esses três elementos. Por quê?

Qual evolução ocorreu? De um macaco bípede com postura reta para um homem tecno que destrói o meio ambiente e produz montanhas de dejetos, conseqüência do consumismo desenfreado. Lixo é uma invenção humana, os animais não produzem lixo. Considere esta verdade.
O Homem inventou o conforto e em nome dele está destruindo o meio ambiente.

No filme “O Náufrago” a personagem principal se vê desprovido da tecnologia que o ampara, que o conforta e lhe dá subsídios para uma existência supostamente segura. O “homem que sabe” agora está numa ilha com a matéria prima: os recursos naturais em sua forma mais bruta.

Um náufrago com seu conhecimento acumulado: ciência sem tecnologia de materiais de ponta. O que fazer? Re-inventar o mundo a partir da memória? Será possível?

E a ciência manifesta-se em sua memória com fragmentos, com o método de tentativas, acertos e erros, o náufrago constrói o que é vital para sua sobrevivência.

A necessidade do outro, da magia, o medo de enlouquecer o faz construir um objeto com formas humanas. E, assim, ele conversa com o outro que é uma projeção dele mesmo – nasce o Sr. Wilson...

O náufrago sobrevive tocando a loucura, mas retoma com sanidade, em poucos anos, o caminho percorrido em 200.000 anos de civilização.

Surge um desafio: arrancar o próprio dente que o atormenta, sem anestesia, sem assepsia. Ele o faz num ato de coragem, como se fosse um Hércules! Nem parece que é apenas uma extração de um dente podre.

Mesmo desprovido de sua herança tecnológica, não há um retrocesso na sua visão de realidade, porque a experiência do conhecimento continua dentro dele, porém, em xeque diante dos recursos naturais disponíveis na ilha.

A inteligência emocional do náufrago aperfeiçoa-se na medida em que ele vence as ameaças que o hábitat lhe impõe.

A pulsão em manter-se vivo o faz re-significar o cotidiano perdido, olhar para condição humana e o que restou desse Eu demasiadamente humano que produz resíduos, moda, guerras, tecnologia, ciência, música, arte, religião, que compreende e ri de uma piada.

O náufrago jamais voltará a ser o mesmo porque a dor educa.

O que realmente é necessário para se ter paz, ser feliz, amado e respeitado pelo outro? Como não enlouquecer diante da perda de um universo conhecido e conquistado?

Existe um retorno? Ele é salvo? Reencontra sua família? Sim, para o espectador desatento. Nenhum retorno heróico ocorre para quem percebeu como o náufrago re-significou sua existência a partir da tragédia que é reeditar todas as etapas evolutivas do Homem.

Ótimos filmes propõem conflitos multifacetados. Posso analisar o filme como uma questão ontológica. Como posso apenas afirmar que é um filme sobre um náufrago que vence as adversidades de uma ilha deserta. Seria uma escolha a análise e o sentir filosófico diante de uma tragédia?

A ontologia é o ramo da Filosofia que trata do ser enquanto ser; do ser concebido como tendo uma natureza comum que é inerente a todos e a cada um dos seres.

Creio que, ao final do filme, os espectadores que têm arraigados em suas almas os vieses do sentir ontológico, levarão consigo muitas perguntas existenciais. Para Schopenhauer, dor é a fenomenologia que move o mundo.

Excelentes filmes são aqueles que quando acabam, continuam a eliciar reflexões dentro do espectador, “O Náufrago” é um desses filmes, talvez o diretor nem tenha tido tal pretensão.

Pode ser que meu olhar dolorido, idiossincrático e repleto de filigranas filosóficas tenha visto humores além da concatenação do frame.
Saber mais: www.pascarellisciensead.com.br



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