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O Processo da Cultura - Cultura e Civilização
(Ivan Gobry)

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Os problemas que se colocam a uma filosofia da cultura estão mal resolvidos por duas razões.
Em primeiro lugar, devido ao ponto de partida erróneo fundada no evolucionismo positivista, segundo o qual os homens primitivos são como bestas no estado de natureza, e como tal irreligiosos e estúpidos.
Em segundo lugar, devido ao uso incorrecto das palavras civilização e cultura. Os primitivos, por definição, não têm cultura, nada contribuíram em relação ao modo de vida que é próprio do Estado de Natureza. Os primitivos não são providos de cultura, logo nada oferecem de novo aos olhos de observadores providos de cultura. Mas então pergunta-se: o homem primitivo poderá ser considerado homem?
A etnografia mostrou-nos que todos os povos primitivos se caracterizam pela posse de um conjunto de crenças (que se exprimem através de narrativas), de instituições e de ritos. Ora as instituições, fundadas sobre as crenças e expressas pelos ritos, implicam uma civilização. Enquanto os animais apenas sobrevivem, mesmo os homens primitivos procuram dar sentido à vida. Os primitivos são, portanto, homens.
As três famosas questões colocadas por Kant no fim da Crítica da Razão Pura, e que ele apresenta como ponto de partida de toda a filosofia: Que posso saber? Que devo fazer? Que me é permitido esperar? – A estas três questões respondem todas as sociedades primitivas através dos mitos e dos ritos, e é esta transcendência que coloca o homem espiritual acima do animal biológico.
O primeiro caracter imanente a toda a civilização é que ela é anterior à cultura. Todas as sociedades possuem uma civilização, não só as que primeiro conquistaram as técnicas de domínio da natureza ou que possuem ciência e literatura, mas inclusive aquelas que com muito esforço se desligaram do estado de natureza. A civilização precede toda a cultura e pode sobreviver indefinidamente sem cultura. O que muda são os fenómenos da civilização, que constituem ao mesmo tempo as suas formas de manifestação e as suas formas de transmissão: e esta mudança é o acontecimento da cultura.
A tradição intelectual europeia criou a imagem de uma homem primitivo que nada tem de humano antes de ter cultura e que passa à humanidade através da cultura. Essa passagem é nesta tradição um mistérios processo metafísico que outros situam entre a natureza e a humanidade.
Segundo o estruturalismo de Lévis Strauss, os arquétipos, que encontramos em todas as diversificações culturais, constituem a civilização a priori. O ponto de partida do estruturalismo é a constatação da repulsa da consanguinidade nas instituições primitivas, facto universal no seio da humanidade e ausente nas espécies animais, e que situam a natureza humana para lá do instinto, metafisicamente ao nível do espírito. Estas instituições estas condutas como o incesto fazem parte da civilização. Ela manifesta o homem essencial antes da cultura, é ela que o conserva na sua essência antes da cultura. A civilização é essencialmente social, os indivíduos são moldados pela civilização que preexiste.
A palavra civilização é descendente de civis: o cidadão, o homem da cidade organizada e regido pelas instituições, pelas quais ele professa uma profunda reverência, e pelas quais ele modela a sua vida – a sua vida de homem, que é a vida do espírito.
Assim, a civilização não é apenas um facto social, é também um facto universal. A cultura, por sua vez, desenvolve indefinidamente os valores secundários, os valores de empréstimo e de facticidade, não apenas no universo exterior e sócio-temporal, mas também e sobretudo na interioridade humana; porque é o homem que deseja e instaura os seus valores, e a sua razão de ser está em si próprio. Quanto mais a cultura cresce, mais a personalidade é levada à vertigem do acessório.
Na cultura, sociedade e personalidade, social e universal estão em oposição; na civilização, eles coincidem. A cultura desloca a interioridade ao separar a inteligência da vontade, a explicação da acção; o homem cultural pode ser um puro metafísico, que raciocina sem aderir a qualquer valor fundamental, assim como um moralista, que adopta uma conduta digna sem lhe achar um fundamento.
A cultura produziu o pensador, o homem douto e grave, cujo objectivo constante é a verdade, cuja ocupação ordinária é manejar as ideias e fundamentar os argumentos.
Ainda que a civilização preceda a cultura e que o primitivo não tenha acedido à cultura, não podemos deduzir que as sociedades primitivas possuem a civilização, ou a perfeição das instituições que exprime com clareza os valores fundamentais da existência.



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