Desenvolvimento Cognitivo e Aprendizagem na Adolescência
(Mario Carretero; José Cascón)
1- A Concepção piagetiana das operações formais
1.1- Características gerais
O estádio das operações formais, que emerge entre os 11-12 anos e se consolida entre os 14-15, é o estádio final da sequência do desenvolvimento cognitivo, segundo Piaget. Para comprovar experimentalmente a sua teoria, Piaget socorreu-se do método clínico. Este consistia em apresentar a sujeitos de idades entre os 15-16 anos, uma série de tarefas relacionadas com a Física, Química e outras disciplinas relacionadas com a física newtoniana. Para tal, dispunham dos instrumentos necessários (um pêndulo, uma balança, etc.) que podiam manipular e experimentar. O objectivo seria testar a estratégia cognitiva dos sujeitos.
Fruto dos seus trabalhos, Inhelder e Piaget (1955) concluíram que o estádio das operações formais se podia resumir a certas características estruturais e funcionais: as primeiras referem-se às estruturas lógicas utilizadas por Piaget na sua intenção de formalizar o comportamento dos sujeitos perante as tarefas que se lhes deparam; as segundas referem-se a rasgos gerais deste tipo de pensamento que representam formas, enfoques e estratégias para resolver problemas. Têm sido associadas três características funcionais a este período:
a) A realidade é concebida como um subconjunto do possível
Quando se depara com um problema, o adolescente não só tem em conta todos os dados reais presentes, mas tem de prever todas as situações e relações causais possíveis entre os seus elementos. b) O carácter hipotético-dedutivo
O adolescente utiliza agora uma estratégia que consiste em formular um conjunto de explicações possíveis e, posteriormente, submetê-las à experimentação empírica.
c) O carácter preposicional
Os sujeitos neste estádio servem-se de proposições verbais como meio ideal em que expressam as suas hipóteses e pensamentos, assim como os resultados obtidos.
1.2- Dificuldades de aquisição
Características do desenvolvimento do pensamento formal:
• É universal – aparece em todos os adolescentes entre os 11-12 anos e consolida-se entre os 14-15;
• É uniforme e homogéneo – propicia um sistema de conjunto ao qual o adolescente acede a todos os esquemas operacionais formais;
• Dado o carácter o seu preposicional, atende mais à estrutura das relações que ao seu conteúdo;
• Ainda que as operações formais constituam o último estádio do desenvolvimento intelectual, o pensamento dos adolescentes é similar ao dos adultos.
Porém, as investigações recentes assinalam que o pensamento formal não se adquire facilmente nem de forma homogénea como pensavam Inhelder e Piaget. Existia certo acordo em admitir que o adolescente ia adquirindo um tipo de pensamento cujas principais características se assemelhavam às do pensamento formal. Contudo, existiam também pontos de desacordo:
? As diferentes tarefas formais não apresentavam a mesma dificuldade;
? O conteúdo da tarefa mostrou-se como uma variável que influía na sua resolução;
? A percentagem de alunos que mostraram possuir um pensamento claramente formal situava-se à volta de 50 em 100, o que desmente a ideia de que o pensamento formal é universal.
2- Novas perspectivas sobre o pensamento formal
2.1- A influência do conteúdo
As investigações recentes vieram estabelecer uma distinção competência-actuação, segundo a qual muito adultos e adolescentes não aplicam todas as suas capacidades quando enfrentam uma tarefa escolar. O próprio Piaget sugeriu que quando a situação experimental não corresponde aos interesses do sujeito, pode ocorrer que utilize um tipo de raciocínio característico do estádio anterior. Inversamente, o sujeito que enfrenta tarefas dentro da sua especialidade tenderá a exprimir um alto nível operacional formal. Muitos estudos sugerem que os indivíduos diferem na utilização das operações formais segundo o grau de familiaridade que possuem com a tarefa.
Consequentemente, o conteúdo da tarefa possui uma influência definitiva na resolução do problema.
2.2- A influência do conhecimento prévio
Parece lógico pensar que a experiência seja um elemento facilitador da resolução da tarefa. Porém, essa familiaridade pode estorvar a resolução do problema. Quando os sujeitos possuem ideais prévias fruto da sua experiência, podem ter uma concepção equivocada que leve a produzir erros na resolução da tarefa.
A que se deve esta incapacidade do pensamento formal para modificar ideias estabelecidas? A psicologia cognitiva recente e a psicologia do pensamento consideram que o conhecimento humano se rege por critérios pragmáticos ou funcionais em vez de critérios lógicos, como dizia Piaget. O nosso pensamento parece responder a critérios de sobrevivência entre os quais se inclui a tendência para controlar e conservar os acontecimentos.
3- Tarefas formais de conteúdo social
3.1- A compreensão das noções sociais na adolescência
Qual a influência dos conteúdos escolares (matemática, ciências naturais, ciências sociais) no nível de raciocínio alcançado por adolescentes, tendo em conta não só os aspectos psicológicos mas também educativos? O que se concluiu foi que têm dificuldades para aplicar o método hipotético-dedutivo a problemas das ciências sociais. Ficou claro que a solução de problemas complexos requer não só capacidades inferenciais (pensamento formal) mas também redes conceptuais ou informação específica.
3.2- Operações formais e educação
Porque é que os os adolescentes, não compreendem adequadamente as Ciências Sociais? Um dos factores importantes são as ideias prévias que os alunos possuem quando as relacionam com o conteúdo de tais problemas. Existe a concepção de que os alunos não são capazes de compreender alguns conteúdos das Ciências Sociais porque não alcançaram ainda um determinado nível no seu desenvolvimento cognitivo. Porém, esta concepção não tem em conta o facto de o desenvolvimento cognitivo não ser somente um conjunto de estratégias de raciocínio que podem ser aplicadas a qualquer conteúdo, mas também depender da aquisição de informação específica, que depende da experiência concreta de cada aluno.
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