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Sobre a Televisão (Parte 1)
(Pierre Bordieu)

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1- O ESTÚDIO E OS BASTIDORESExistindo na televisão uma série de constrangimentos sobre os convidados a quem é pedida opinião, porque é que muitos intelectuais (escritores, cientistas, artistas, políticos, etc.) continuam a aceitar esses convites, sabendo que as suas considerações serão limitadas por imperativos televisivos? Porque “Ser”, como dizia Berkeley, “é ser percebido”. Para muitos intelectuais, ser é ser-se visto na televisão, é ser-se bem visto pelos jornalistas, com tudo o que isso implica de concessões. Uma censura invisível O acesso à televisão implica a perda de autonomia do convidado: o tema é-lhe imposto, o tempo é limitado, e as condições dessa comunicação estão já definidas. Para além disso, em relação aos jornalistas, há também coacções económicas tanto em termos de lógica de mercado, como até do ponto de vista da propriedade, uma vez que existem grandes grupos que monopolizam a informação. Estas coacções fazem da televisão “um formidável instrumento de conservação da ordem simbólica”.Os casos do dia na informação televisiva, os chamados omnibus, são geralmente factos que interessam a toda a gente mas que não interferem com nada de importante: “O caso do dia é essa espécie de género elementar, rudimentar, da informação que se torna muito importante porque interessa a toda a gente sem consequências e porque ocupa tempo, tempo que poderia ser usado para se dizer outra coisa”. Esconder mostrando Os jornalistas, ao investigarem um acontecimento, seleccionam uma parte desse fenómeno em função das suas estruturas subjectivas de percepção, enraizadas numa determinada história, educação, etc. Ou seja, “Operam uma selecção e uma construção do que é seleccionado. (…) O princípio de selecção é a procura do sensacional, do espectacular. A televisão apela à dramatização (…)”.Os perigos políticos da televisão advêm da utilização que pode ser feita tanto das imagens como das palavras. É que a televisão tem o poder de “poder fazer ver e fazer crer no que faz ver”, isto é, tem a capacidade de ser percebida pelos seus receptores como real, pelo que os “jornalistas podem (…) produzir efeitos de real e efeitos no real (…)”. A televisão, sendo por natureza um instrumento de registo, tem também essa potencialidade perigosa de ser um instrumento de criação da realidade. A circulação circular da informação Segundo Bordieu, existe nos produtos informativos uma homogeneização evidente, derivada de uma série de imposições colectivas que vão desde as restrições impostas pelas fontes e pelos anunciantes à própria lógica da concorrência. Diz Bordieu que, os jornalistas, “para saberem o que vão dizer, precisam de saber o que disseram os outros. Tal é um dos mecanismos através dos quais se engendra a homogeneidade dos produtos propostos.Outro mecanismo activo na produção desta homogeneidade é o pressuposto óbvio de que os jornalistas, convivendo, discutindo e avaliando-se mutuamente, acabam por definir nesse círculo, socialmente portanto, as propriedades de uma boa notícia, a maneira como ela deve ser divulgada, que aspectos devem ser realçados, etc. É assim que se forma uma espécie de “círculo vicioso da informação”. Também as principais fontes de notícias dos órgãos informativos são as grandes agências noticiosas, cabendo depois a cada um deles seleccionar aquilo que é considerado importante. No fundo, toda esta homogeneização tem por base o critério das audiências, segundo o qual ninguém pode ser deixado para trás sob o risco de ruptura financeira. É a lógica comercial, e não os jornalistas, a manipular a informação. A urgência e o fast-thinking A televisão é, para Bordieu, um meio avesso à expressão livre do pensamento, devido à pressão exercida pelos índices de audiências: “Será possível pensar na rapidez? A televisão, dando a palavra a pensadores que se considera pensarem a velocidade acelerada, não se condenará a nunca ter mais do que fast-thinkers, pensadores que pensam mais rápido que a sua própria sombra…?”.A comunicação entre estes pensadores é feita através de ideias-feitas e de lugares comuns, já que só assim poderão esperar que as condições de recepção da mensagem não sejam afectadas pela utilização de um código pouco adequado. Tem de ser, portanto, acessível a todos. Debates verdadeiramente falsos ou falsamente verdadeiros Razões desta afirmação: O universo dos convidados permanentes é um mundo fechado de interconhecimento que funciona segundo uma lógica de auto-reforço;Os apresentadores, queiram-no ou não, constrangem e coagem tanto na distribuição do discurso como nas formas de comunicar com os convidados;Os profissionais da comunicação, rotinados na manipulação das palavras, estão sempre em vantagem perante os convidados amadores que se apresentam no estúdio porque um acontecimento qualquer lhes deu estatuto de importância.A composição do painel deve dar a impressão de um equilíbrio democrático, para que as posições opostas assumam, de facto, uma posição de confronto regulado pela linguagem. Contradições e tensões “A televisão é um instrumento de comunicação muito pouco autónomo sobre o qual pesa toda uma série de imposições que têm a ver com as relações simbólicas entre os jornalistas, relações de concorrência encarniçada, (…) relações de conivência, de cumplicidade objectiva, baseadas nos interesses comuns ligadas à sua origem social, à sua formação”. Segundo Bordieu, a consequência mais importante “foi a extensão da influência da televisão ao conjunto das actividades de produção cultural, incluindo as de produção científica e artística”.(ver Parte 2 no link disponibilizado em baixo em 'Links Importantes')



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