Transtorno Bipolar
(Dr Valentim Gentil Filho)
Resumo de Entrevista a Dr Dráuzio Varela. No passado, o transtorno bipolar era conhecido pelo nome de psicose maníaco-depressiva, uma doença psiquiátrica caracterizada por alternância de fases de depressão e de hiperexcitabilidade. Nesta fase, a pessoa apresenta modificações na forma de pensar, agir e sentir e vive num ritmo acelerado, assumindo comportamentos extravagantes como sair comprando compulsivamente tudo o que vê pela frente. Sabe-se que essa doença está associada a algumas alterações funcionais do cérebro que possui áreas fundamentais para o processamento de emoções, motivação e recompensas.
Como diferenciar o quadro normal do patológico. Em psiquiatria, os termos ainda não atingiram a especificidade necessária. Por exemplo, etimologicamente, a palavra euforia quer dizer humor normal, bom humor. Se o indivíduo está eufórico no carnaval, no dia do aniversário ou porque ganhou um prêmio ou um campeonato, isso nada tem de anormal nem de patológico. O que chama a atenção é a desproporção entre as circunstâncias e as reações, ou seja, o comportamento é desproporcional aos fatos ou inadequado ao ambiente. A pessoa está alegre e eufórica quando nada ao redor justifica tais sentimentos. Sua autocrítica fica comprometida e ela age como se estivesse sob o efeito do álcool ou de drogas. Seu pensamento fica acelerado e desorganiza-se de tal modo que os assuntos surgem em tumulto e é difícil acompanhar sua linha de raciocínio.
Em geral, as famílias logo percebem que alguma coisa está errada no comportamento da pessoa e ela também pode notar a diferença. Isso é de extrema importância como sinal de alerta. Na medida em que o próprio indivíduo e os familiares se dão conta dessa liberação exagerada de energia e humor, algumas providências podem ser tomadas para reverter o quadro. A falta de tratamento pode trazer consequências desastrosas. Sabe-se, desde a Antiguidade, que a existência de um caso de transtorno bipolar numa família aumenta a possibilidade de que a enfermidade se manifeste em outros membros da mesma família. É uma doença antiga que vem aumentando na atualidade.
Uma das possibilidades do aumento é que alguns acontecimentos e atitudes podem precipitar a ocorrência de distúrbios do humor, pois, hoje, estamos submetidos a uma carga maior de estresse, dormimos menos e consumimos mais substâncias lícitas e ilícitas que interferem no humor, a interação de fatores ambientais, constitucionais e genéticos é de extrema importância.
Não se deve viver numa redoma, mas, se as pessoas levassem em conta que o sistema nervoso é bastante delicado e precisa ser tratado com respeito, talvez a incidência de casos de transtorno afetivo fosse menor do que é atualmente.
O uso excessivo de cafeína pode produzir convulsão e algumas pessoas ingerem, todos os dias, quantidades absurdas dessa substância. Cheguei a conhecer uma que tomava 14 litros de coca-cola num único dia e era difícil distinguir seu comportamento do de um enfermo de transtorno bipolar. As pessoas usam cafeína para ficarem despertas, com energia e ânimo, mais alerta. Trata-se, de um agente externo, consumido como se fosse alimento, que estimula o humor. No tocante às drogas ilícitas (cocaína, crack, anfetaminas), seu uso aumenta o risco de desenvolver a primeira crise, assim como aumenta a frequência das recorrências, que tendem a tornar-se autônomas, fenômeno já apontado na Antiguidade.
É muito importante o diagnóstico precoce. Em muitas crianças o que é tido como hiperatividade pode ser o transtorno bipolar, principalmente se a frequência dessa patologia é alta na família. Se ela é instável demais e repentinamente oscila entre a euforia e a depressão, a apatia e a hiperatividade, se nada justifica seu estado de excitação e euforia, a falta de sono, a empolgação e há casos de transtorno bipolar ou mesmo de depressões recorrentes na família, os pais devem procurar ajuda.
Essa visão tornou-se tão importante que existe um site [www.bpkids.org] por meio do qual os parentes chamam a atenção de médicos, psicólogos e professores para o comportamento conturbado dessas crianças que mudam de humor várias vezes num mesmo dia. Nos adultos os ciclos são mais longos e chama-se ciclagem rápida quando se repetem quatro vezes num ano, sinal de maior gravidade e complexidade do quadro.
Esse transtorno requer tratamento adequado. Provavelmente, na história humana, muita gente com predisposição à doença e que manifestou um distúrbio de personalidade muito grave, se tivesse sido tratada de forma conveniente, teria desenvolvido uma forma mais branda da enfermidade. Esse assunto é tão importante que a revista Time destacou o transtorno bipolar na infância como matéria de capa na edição do dia 19 de setembro de 2002.
"Informações apenas educativas, precisando de ajuda procure um profissional da área."
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