Expresso
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Os homens não falam destas coisas". A afirmação é de um professor universitário de 53 anos, padrasto há oito e pai há 27. Jorge Lampreia faz parte de uma imensa multidão. Segundo José Gameiro, psiquiatra especializado em casais e novas famílias, 50% das famílias portuguesas passaram por uma separação conjugal. Muitas delas recompõem-se, dando origem a novos modelos parentais.
A grande questão para os padrastos é ter de lidar com uma realidade difícil: educar filhos que não são seus e, muitas vezes, ver os seus próprios filhos serem educados por outros homens.A importância deste grupo social é tal que começam a surgir estudos sobre a realidade dos padrastos portugueses. Até há algumas décadas, eles eram, na maioria, a consequência da morte do pai biológico. Uma figura distante que sustentava a família. "Era o padrinho ou o tio"
A novidade é que, desde os divórcios, os padrastos passaram a ter que competir com a imagem de um pai vivo. Qual é o papel do padrasto? Que espaço a mulher lhe reserva na família? A quem cabe manter a autoridade? Susana Atalaia, investigadora do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, está a concluir um estudo sobre o lugar do padrasto no quotidiano familiar. "Os padrastos fazem depender os seus papéis da atitude do pai biológico. Se não houver concorrência, melhor", conclui o trabalho.
Tudo porque, quando não há laços biológicos que legitimem a relação, alguns homens sentem-se fragilizados na sua masculinidade. "A figura masculina está associada à autoridade, que, neste caso, é delegada", afirma Susana Atalaia. Conclusão confirmada pelos três padrastos retratados. José Gameiro reforça a tese. "A pior coisa que se pode dizer a um padrasto é: 'Não és meu pai'". Expostos à partida, estes homens sabem que precisam entrar na relação conquistando a afeição dos enteados, o que nem sempre é fácil. "Há o mito da família unida - 'finalmente isto vai correr tudo muito bem' - e pensam logo uma coisa delirante que é: 'estes miúdos que não me conhecem de lado nenhum vão-me adorar'. E muitas vezes são postos no lugar pelos enteados", explica o psiquiatra. O mais ingrato desta situação
dúbia é que o padrasto tem de gostar dos enteados, embora estes não tenham de gostar dele.
Um dos problemas enfrentados é que "há pouca história destas novas famílias e, por isso, não há ainda modelos alternativos disponíveis", diz Gameiro. Cabe assim às mulheres decidirem qual o espaço de actuação do padrasto. "Num primeiro tempo, ela aguenta. As relações são muito tensas no início. Depois elas têm de optar quem vão defender e defendem sempre os filhos. Há perigo de ruptura das relações conjugais", conclui.
A nova tendência é que as famílias recompostas organizem o seu quotidiano entre duas casas. O modelo da guarda conjunta em regime de residência alternada, introduzido há três anos na legislação portuguesa, prevê que as crianças passem o mesmo tempo com o pai e com a mãe. Apesar de estes casos representarem ainda um número residual, nos últimos anos, esta prática tem vindo a ser cada vez mais experimentada, sobretudo nos meios urbanos.
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