Resumo de Ética e Moral, em busca de fundamentos

Esta se trata de uma breve análise dos três primeiros capítulos do livro:

No presente livro tratado, o autor propõe uma nova tomada de atitude ética em relação ao mundo como forma de salvá-lo. O sentido de seu título “Ética e Moral, em busca de fundamentos” não fica claro pelo menos nos três primeiros capítulos, pois estes se tratam mais de digressões, em alguns pontos até mesmo metafísicas, sobre a urgência de uma mudança de postura ética com relação ao mundo, mas não trata efetivamente de uma busca de fundamentos no sentido filosófico ou histórico.

No primeiro capítulo do livro, o autor propõe achar os “remédios” para uma suposta “doença” ética. De um ponto de vista antropocêntrico e especista (o humano como singular e especial deve zelar pelas outras espécies), propõe o paradigma-cuidado para o planeta, uma proposta aparentemente incongruente levando-se em consideração o ponto de vista do autor. Além de que, o termo paradigma cunhado por Thomas Kuhn e utilizado para análises epistemológicas diz respeito a modelos teóricos dentro de uma determinada ciência, apesar de ser comumente usado no sentido de “modelo”, é estranho o termo “paradigma” vir acompanhado de um adjetivo humano. Por todo o capítulo (e também nos dois seguintes) aparecem vários termos da filosofia, psicologia, teologia, até mesmo biologia, utilizados sem um propósito científico aparente, relacionados de uma forma que às vezes dá a impressão de ser aleatória. Na verdade, são utilizados estes termos “difíceis” para convencer o leitor sobre o que o autor está falando é verdade. No final do capítulo, enumera vários sonhos utópicos que seriam os nossos, mas que poderiam ser alcançados botando em prática o cuidado.

No segundo capítulo, de título “Genealogias da Ética”, não é uma genealogia que encontramos. Impossível não fazer uma relação com o livro de Nietzsche “A Genealogia da Moral”, este sim uma obra genealógica e crítica, adotando uma postura sócio-histórico-filosófica para destrinchar as raízes e os caminhos da moral. Leonardo Boff vai no sentido inverso. Aborda sim a etimologia dos léxicos ethos, morus e daimon, mas daí já passa a formulações de certa forma arbitrárias sobre como tem de ser a nova ética para se salvar o mundo, através de antropomorfizações do conceito, semelhante à antropomorfização do universo pelo conceito do cuidado, que Boff faz no capítulo anterior.

Uma constante destes três capítulos é que Boff faz propostas atrás de propostas sobre como deveremos mudar nossa visão de mundo, nossa ética, nosso espírito, nossa alma e etc, porém em parcos momentos faz uma proposta de fato efetiva e prática que poderia levar à implantação efetiva destas atitudes. O terceiro capítulo também é assim: uma série de propostas de “virtudes cardeais” (autolimitação e justa medida) que devemos assumir na vida sem uma proposta de prática efetiva e possíveis resultados imediatos destas atitudes, justificando novamente as “virtudes” com uma nova antropomorfização do universo pelo conceito de justa medida.

Na verdade, todas as atitudes e sugestões que Boff propõe nestes três capítulos, se fossem realmente assumidas, com certeza dariam ótimos e grandes frutos na direção de uma vida plena e integrada com a natureza e todos os seres humanos, pois dimensão ética e moral, correspondendo a planos que movem o sujeito do âmbito interno, uma vez implantadas são dificilmente mudadas.

Outros autores (Marx, Bakunin, Comte, além dos místicos, santos e profetas) já propuseram medidas drásticas na mentalidade das pessoas como forma de se viver melhor, inclusive medidas práticas altamente executáveis e tais mudanças ainda não ocorreram. Dificilmente uma digressão mal fundamentada poderá colaborar para uma mudança efetiva em larga escala nos “paradigmas” pessoais do indivíduo pós-moderno.

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