Nas Tuas Mãos
(Inês Pedrosa)
Foi o conselho de um professor que me levou a escrever algo que há tanto tempo planeava escrever, mas que a preguiça foi sempre adiando.
Era a altura do Natal e as prendas iam surgir, como sempre fiz questão de referir, mais uma vez, a minha preferência por livros, indicando aqueles que eram especiais. No dia do Nascimento de Jesus Cristo lá estava ele, com uma capa dura e resistente, mas muito apelativa. Comecei a ler no dia seguinte quando se dava início há minha viagem para Berlim. Durante o voo não o larguei, pois tornava-se bastante sedutor. Nas noites seguintes, antes de me deitar, lia sempre um pouco, embora estivesse cansada das implicações que a descoberta de uma outra cultura acarreta.
Em cada linha, em cada parágrafo ou em cada página, desvendei algo brilhante; definições geniais de amor, dor, felicidade ou beleza. Deixava-me leve e feliz... Como é que era possível tal devoção a um homem? Lindo!
Inês Pedrosa, pôs nas minhas mãos algo que me fez olhar o amor de uma forma diferente. E o interessante é que não foi só o amor que tomou novas perspectivas. Mas “Escrever? Para quê? As palavras não põem o meu coração no teu.” E, assim, não poderás conhecer a verdadeira sensação de ler este livro.
Sobre a profissão de jornalista também aprendi algumas coisas, como que ”Um repórter (...) tem por missão relatar o que vê, sem nunca se arvorar em guardião da verdade.”, até porque “O chefe de redacção recorda-nos de manhã à noite que ninguém nos paga para pensar: ’O jornalismo não é uma escola de filosofia (...), é uma escola da vida.’ ”. E por isso, “Um repórter quer-se humilde, permeável às evidências que tocam o homem normal, mediano. O repórter existe para dar consistência narrativa à vida desse homem simples, honrado, que acata as leis dos que governam e trabalham para o bem dos seus. A verdade é abstracta, não se vê. E o repórter é um concreto servidor da realidade.”.
Estes ensinamentos juntos quase que preenchem um manual de jornalismo. A vida de um jornalista não são só rosas ou liberdade, como se pôde verificar, neste sentido uma das intervenientes no Nas tuas mãos, diz:” Respondia-lhe que a política se ataca com actos políticos, e que o jornalista não podia agir como um pide da moral alheia, fosse de quem fosse. Acabou por me dizer que um profissional responsável não podia recusar um trabalho que lhe era distribuído pelo chefe (...).”.
No entanto, nem só o amor à profissão é relatado com tal intensidade, também somos levados a pensar sobre as "reivindicações das feministas" que hoje são mais discretas... uma questão que é colocada de uma forma, a meu ver, extraordinária: “Que cirurgia de reconstituição haverá para as mulheres de sucesso de agora, que não se deixam espancar mas deixam que lhes retalhem o coração?”. No mínimo espicaçante!
A autora ainda toca num assunto polémico que é a mudança do modo nos relacionamentos com os outros e tudo o que isso acarreta. A certa altura lê-se: “Ficava a saber que ela era tão capaz de gostar de mulheres como de homens, como de cães e passarinhos. ’Porque o gostar, minha cara, não conhece limites. Mas claro que vocês, os yuppies, obcecados com a eficácia do corpo, são incapazes de gostar assim.’ ”. É que “O amor não quer saber das ideias que tenhamos sobre a nossa identidade ou sobre as nossas preferências sexuais. O sexo é um caso irrelevante diante dos obstinados desígnios da paixão.”.
Ficamos a saber, através desta leitura, que “... a beleza [é] uma consequência natural do acto de amar...”, “... venha ela de onde vier, de dentro ou de fora, congela a vida, e por isso não (...) interessa. Aparece demasiado depressa, completamente pronta.”. Estas citações parecem contradizerem-se, mas o sentido pode ser objecto de reflexão e curiosidade de leitura.
Para mim, beleza pode ser um sorriso, “... expressão física dos afectos.”, e será fruto da felicidade, a qual “... é uma colecção de instantes suspensos sobre o tempo que só depois de amarelecidas pela ausência se revelam.”. Segundo uma das personagens, “... a dor é um bónus da sabedoria que a felicidade deixa.”, devido ao facto de lidarmos com “... pessoas transitórias em situações transitórias, tal como...” nós.
Quando se menciona dor, a palavra que nos surge de seguida é sofrimento e para curá-lo “... é preciso enterrar a vaidade do sofrimento primeiro. É preciso enterrar a vaidade do pensamento, também, que é a que custa mais a sair.”.
Esta obra de uma portuguesa discreta, torna-se uma bíblia para aqueles que desejam saber viver e prolongar, assim, a nossa temporada na terra.
Resumos Relacionados
- HÁ.... Este Tal Amor!
- Frases Para O Dia Dos Namorados
- Estória De Amor
- Quero (2)
- I Have Dream
|
|