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A ESCRITA PARÓDICA EM MEMORIAL DO CONVENTO, DE JOSÉ SARAMAGO
(Márcia Elizabeti Machado de Lima; Rodrigo Porto)

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   A ESCRITA PARÓDICA EM MEMORIAL DO CONVENTO, DE JOSARAMAGO

O melhor exemplo de trabalho intertextual de José Saramago, talvez seja o Memorial do Convento, objeto de estudo desse texto. Suas narrativas partem de arquivos (histórias), dos quais ele se apropria. A apropriação, ainda, é nova na arte literária, é uma forma de agrupamento, surgiu na década de 60 com a pop art. Sant’Anna afirma que “...a apropriação chegou na literatura através das artes plásticas, precisamente pelas experiências dadaístas, a partir de 1916 “(2006:43). A apropriação, na verdade, é, no caso dos escritores, uma “bricolagem”, ou seja, uma forma de brincar com os textos dos outros. E, em se tratando de Saramago essa brincadeira tem certo padrão conceitual e ideológico.
Podemos ver essa “bricolagem” quando Saramago apropria-se dos registros históricos. Em Memorial do convento, por exemplo, cruza dois fatos históricos incontrastáveis, que é a construção do Convento em Mafra (Portugal), e a passarola do padre Bartolomeu Lourenço de Gusmão, ambas no século XVIII, durante o reinado de D. João V., quando ele introduz, logo no início, de forma dramática e irônica, a família real. Em toda a obra terá a bricolagem voltada ao cômico, à ironia, rebaixando, ou melhor, destronando a família real portuguesa, e enaltecendo personagens da plebe, que vivem à margem do reinado (palácio).
 Outro recurso que o autor utiliza é a “carnavalização”, que segundo Sant’Anna, “...é uma inversão de papéis, um deslocamento dos significados. Onde o lixo vira luxo e o luxo vira lixo.” (2006:78)
O rei D. João V. e a rainha D. Maria Ana, por exemplo, imagino que casados com a presença de inúmeras pessoas do clero, abençoados por Deus, só dormem duas vezes juntos, ainda com o propósito de fazerem um filho para a sucessão à coroa portuguesa, indago-me e pergunto que espécie de casamento é esse? Quanto luxo para nada! E o amor, onde fica? Aqui podemos ver o luxo virando lixo.
Agora apresentamos outro casal, Blimunda e Baltasar (sete sois), ambos  personagens da plebe, mas que o romance gira em torno deles: como dormem, ou melhor, como  mantêm relações em uma velha barraca, onde servia de moradia de uma burra:
 
Verificamos que esse casal da plebe não tem relações sexuais, mas, sim, fazem amor em lugar que servia de moradia de um animal, totalmente diferente do rei D. João V. e de sua esposa D. Maria Ana. Assim, essa é uma pequena mostra do que é a carnavalização, com a troca de papéis, onde o luxo vira lixo e o lixo vira luxo. Ligados, de certa forma, ao Renascimento. Para Bakhtin “o Renascimento é uma época de” Carnavalização “profunda e quase total da literatura e da visão do mundo...” (Bakhtin in FILHO, 1993:43)
O recurso de criação mais utilizado por Saramago em sua obra é a paródia, suas obras são discursos parodísticos, são recriações, na verdade ele não o cria, mais sim recria. Sant’Anna diz que “...a paródia é um filho rebelde, que quer negar a sua paternidade e quer autonomia”. E como já sabemos da forma exuberante de Saramago escrever, podemos nota esse processo quando ele fala do personagem Padre Bartolomeu Lourenço de Gusmão, o Padre brasileiro, retirado dos arquivos históricos, que constrói uma máquina de voar à qual dá lhe o nome de passarola e a faz voar com a ajuda da alquimia. Podemos ver, também, a presença do maravilhoso, do fantástico e da utopia, pois quem o ajuda a construir essa máquina de voar são dois personagens fictícios, Baltazar e Blimunda, e a toda hora ele dialoga com  esses personagens:
Como vimos, os cúmplices do padre na construção da passarola são dois personagens fictícios, lembrando, ainda, que Baltazar (sete sois) é um homem maneta, pois perdeu sua mão esquerda na guerra, e Blimunda é uma mulher que em jejum podia ver as pessoas por dentro. Aí, sim, reside a presença do maravilhoso, do fantástico e da utopia (dos sonhos).  Para Melo e Castro, “alguns dos personagens de Saramago estão intimamente ligados ao cosmo”. Por isso afirmo que o enredo, no tocante à história do Padre Bartolomeu de Gusmão Lourenço é uma paródia que tem como base a realidade, pois tem um novo perfil, desde o momento em que encontra Blimunda e Baltasar e formam uma “trindade terrestre”. Apóio-me em Sant’Anna,  que afirma: “a paródia não é um espelho. Ou, aliás, pode ser um espelho, mas um espelho invertido”. Então, quando Saramago parodia, consegue autonomia na criação dos personagens. É como se lêssemos sobre o padre Bartolomeu Lourenço de Gusmão, apenas, na obra Memorial do Convento, como se ele não tivesse uma outra história antes.
Vale ressaltar que no mesmo momento em que a palavra é do narrador, a obra passa a ser narrada pelo próprio personagem.
Assim, não há distanciamento entre narrador e personagem. Conforme Melo e Castro, o próprio Saramago diz que “aquilo que ele procura... é uma fusão do autor, do narrador, da história que é contada, das personagens, do tempo em que é vivido...”. Não há vozes menos ou mais importantes dentro de suas obras, todos são iguais, formando uma narrativa globalizante, que atinge de maneira única todos os pontos da obra.
Encontramos um discurso metafórico, como se o narrador e os personagens vivessem mesmo naquela época, é claro, que essa é umas das técnicas de envolver seus leitores, como estivessem vendo tudo em um palco de teatro.



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