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A IRONIA COMO INSTRUMENTO DE CRÍTICA EM MEMORIAL DO CONVENTO
(Márcia Elizabeti Machado de Lima; Rodrigo Porto)

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  A IRONIA COMO INSTRUMENTO DE CRÍTICA EM MEMORIAL DO CONVENTO
         Pretendemos, neste texto, dar enfoque ao funcionamento do recurso da ironia como instrumento de crítica usado para questionar os personagens representantes do Clero, em Memorial do Convento.
          O primeiro destaque diz respeito ao personagem nomeado como Padre pugilista, que mesmo sendo secundário, tem uma marca muito forte na obra, devido ao fato de com ele Saramago mostrar seu estilo de compor narrativas irônicas. Sobre o conceito de ironia, buscamos o que define o dicionário Aurélio: Ironia [Do gr. eironéia, ‘interrogação’, pelo lat. Ironia.] S.f. l. Modo de exprimir-se que consiste em dizer o contrário daquilo que se está pensando ou sentindo, ou por pudor em relação a si próprio ou com intenção depreciativa ou e sarcástica em relação a outrem: Voltaire foi um mestre da ironia. 2. Contraste fortuito que aparece um escárnio: ironia do destino. 3. Sarcasmo, Zombaria. Ironia socrática. 
        Uma das formas de ridicularizar um personagem é constituí-lo como bufão, o que, segundo Brait (1996), é o ato de um ator fazer as pessoas rirem, aqui então, apoiando-me na filosofia de Aristóteles, acredito que Saramago não estava somente em busca do cômico, quando o mesmo ridiculariza e denuncia de forma explícita, o padre garanhão e pugilista, mais sim, tecendo críticas a respeito dos representantes da igreja. A ironia, de acordo com a autora “ tem alguma coisa mais elevada que a bufonaria. Pela primeira, faz-se uma brincadeira em vista de si mesmo, enquanto o bufão ocupa-se de um outro”. Complementando o conceito de ironia, ela “... pode ser enfrentada como afrontamento de idéias e de normas institucionais, como instauração da polêmica em um discurso narrativo”.
        A definição, acima, está, totalmente, em acordo com o discurso metafórico de Saramago, e com sua técnica de recriação, baseada no século XVIII, período em que a sociedade portuguesa estava em busca de punir a quem cometia heresias, ou seja, de punir àqueles que não aceitavam a doutrina da Igreja Católica. De acordo com o próprio Saramago, “A igreja é, de facto (ou pelo menos comporta como tal), a administração das almas e dos corpos, uma vez que não é muito fácil separar uma coisa de outra”. 
             Então, acreditamos que o discurso irônico quer questionar os caçadores de hereges, representantes da Igreja, que não tinham moral nenhuma para fazê-lo. Isto fica, evidente, quando narra episódios que envolvem o Santo Oficio, suas fogueiras e degradações (exílios).
            Para melhor esclarecimento da ironia, trazemos uma mostra da intertextualidade com o texto Bíblico, sobre a história do começo do mundo, de Adão no paraíso, quando o mesmo andava nu e que não havia ainda descoberto o prazer carnal, “... vira entrar o padre refolgando, em figura de inocente Adão, mas tão carregado de culpas...”, (Memorial do Convento, 2007). Em se tratando de Adão no paraíso, andava nu porque não tinha malícia, por ser um homem puro. Mas, um homem que serve a Deus, em pleno pelourinho correndo nu com guardas pretos atrás, é uma crítica tremenda por parte do escritor.
        Para Brait, “A ironia na intertextualidade, assume em um discurso uma função crítica, (...) para estabelecer um perfil da vítima, do alvo a ser atingido...”. Assim, reafirmamos que a ironia utilizada nessa passagem não passa de uma grande crítica aos padres por estarem ligados intimamente com a Igreja. Visto ser Saramago, assumidamente, ateu, volto a apoiar-me em Brait, quando afirma, “ao abordar a ironia em seu texto, os escritores caracterizam seu estilo e a sua forma de ver o mundo...”, e é o que acontece com Saramago, além da ironia ser um estilo próprio, é também uma forma de mostrar sua visão crítica diante do mundo, principalmente, nas questões que dizem respeito à Igreja Católica. 
        Na seqüência, voltamos o olhar a uma outra passagem em que o Cardeal D. Nuno da Cunha vai à corte visitar o rei D. João V. e a sua esposa a rainha D. Maria Ana Josefa. Sendo o cardeal D. Nuno da Cunha mais um personagem histórico, ele ganha um novo perfil, construído pelo recurso da paródia e da ironia, o que o torna um personagem carnavalizado, em que, acompanhando o que diz Bakhtin (1981), “Após penetrar na palavra do outro e nela se instalar, a idéia do autor não entra em choque com a idéia do outro, mas a acompanha no sentido que esta assume, fazendo apenas este sentido tornar-se convencional.”  
         É pertinente destacar a característica barroca, marcante nesta narrativa, lembrando que o Barroco é uma expressão presente do século XVI ao XVIII. Sobre essa forma de arte, temos que: a estética barroca denota o exagero das cores, dos metais preciosos como a prata e o ouro, os jogos de luzes em contraste, principalmente o preto e branco. Ou melhor, tudo na época do Barroco era exagerado, abrangendo também a arte literária, “... acompanha-o o enviado do papa numa liteira toda forrada de veludo carmesim com o passames de ouro, dourados também os painéis, e ricamente, com as armas cardinalícias de um lado e do outro,...” (Memorial do Convento).                                          
.         Para Oliveira Filho(1993),  “... Saramago não nega o estilo barroco em suas narrativas, mas quando ele trata de moralidades, ele dá mais valor a paródia”, No que diz respeito à religião Católica, vimos, então, a característica barroca com um caráter irônico, e, em geral, com caráter polifônico. 
 



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