Leve LAVA, vulcão dos CAPELINHOS
(Paulo Jorge Carmona)
O Arquipélago dos Açores, situa-se numa zona de confluência de várias placas tectónicas, pelo que é natural ocorrerem abalos ao longo do ano.
Vulcões inactivos e fenómenos associados, como furnas, fumarolas e géisers, também são comuns naquele arquipélago.
O que não foi natural, foi o ocorrido, em frente à ilha do Faial, mais propriamente nos ilhéus dos Capelinhos, no período de Setembro de 1957 a Outubro de 1958.
Uma série de abalos e colunas de nuvens negras, cinzentas a sair do mar, assustam as populações e trazem apreensão.
Em dias, um vulcão emerge do mar, lançando cinzas e escórias que formam uma ilhota, baptizada de ilha Nova e que chegou a atingir 800metros de diâmetro e 100metros de altura.
Foi-se tornando cada vez mais activo, acompanhado de roncos medonhos e intenso cheiro a enxofre.
As pessoas com as casas em ruína, campos e colheitas destruídas, começam a abandonar a ilha.
Em Outubro de 1957, uma acalmia, dá a ideia de a sua actividade ter terminado, o que as populações consideram um milagre, fruto das preces realizadas em missas e procissões.
No entanto, foi como se costuma dizer, sol de pouca dura.
A 3 de Novembro, nova erupção, violentíssima, com grandes explosões, jactos de vapores, cinzas e escórias, acaba por ligar o vulcão a terra firme, formando uma península.
Em Maio de 1958, há uma crise sísmica, com a ocorrência de mais de 500 abalos, sendo que o vulcão apresentou uma lava muito fluida do tipo havaiano, proporcionando à noite um espectáculo de chuva dourada e vítrea que o vento levava pelo ar.
A esta acalmia, segue-se uma fase estromboliana, sendo lançados piroclastos incandescentes e lava que iluminava a noite, como fogo de artifício.
Á época, foi considerado um espectáculo, sublime mas dantesco.
Finalmente, depois de expelir os últimos gases sulfurosos, a 24 de Outubro de 1958, adormeceu até aos dias de hoje.
Escusado será dizer que na altura, se deu a fuga de uma parte da população, que viu casas e campos destruídos.
Por coincidência, os Estados Unidos da América do Norte e o Canadá, implementavam políticas de emigração o que facilitou a ida de muitos açorianos para essas paragens e a sua plena integração.
Algumas pessoas que, na altura observaram a erupção e hoje estão na casa dos oitenta anos, dizem que nunca tinham visto nada igual.
Se uns se recordam, de muito fumo, de pedras a voar, da água do mar a ferver, como se estivesse numa panela, outros falam das fendas nas estradas, das casas destruídas e de caminharem a pé e a rezar.
No entanto, todos falam de ter sido bonito e dizem sentirem saudades do vulcão que visitavam regularmente, que viram crescer e que não roubou vidas na ilha.
Quem ficou para sempre ligado ao vulcão, foi Victor Hugo Forjaz, Director do Observatório de Vulcanologia e Geotermia dos Açores que viu pela primeira vez o vulcão, tinha dezasseis anos, levando pela mão do seu pai.
Não fosse esta ocorrência e tem a certeza de que hoje não seria vulcanólogo.
É um profundo e acérrimo conhecedor do vulcão dos Capelinhos.
Este vulcão, é o primeiro vulcão submarino a ser observado, documentado e estudado, pois deu-se a coincidência de ter ocorrido perto de uma ilha habitada, com farol e telefones, o que facilitou sobremaneira as comunicações, as deslocações e as observações.
Foi assim que especialistas e jornalistas souberam quase na hora, do ocorrido e para lá se deslocaram, sendo de destacar entre eles, o geógrafo Orlando Ribeiro e o pai da vulcanologia moderna, Haroun Tazieff.
Será interessante referir que, o jornalista Urbano Carrasco do Diário Popular e o cineasta Carlos Tudela, desembarcaram um dia na ilha Nova, e driblando bombas e cinzas, espetaram a bandeira de Portugal, reclamando-a como solo nacional, não fosse alguma nação estranha ter pretensões.
Diz quem viu que, foi uma cena surrealista.
Surrealista, parece ter sido o facto de anos mais tarde, em 1963, se ter dado a erupção submarina do vulcão Surtsey, na Islândia e pelo facto de terem patenteado o acontecimento, a comunidade científica, passou a designar os vulcões submarinos como de tipo Surtseyanos e não de Capeliano como seria o correcto, já que fora este a ocorrer primeiro. Politiquices, digo eu! Ou não!
Hoje, a vila do Faial, continua a ser um lugar pacato, quase como há 50 anos.
O seu vulcão, é que, fruto do tempo e das águas do mar, tem vindo a perder terreno.
No sentido de tornar presente, esse acontecimento, foi criado um Centro de Interpretação do Vulcão dos Capelinhos.
É um Projecto do arquitecto Nuno Lopes que, pretende ser um museu vivo e inter-activo, para melhor se compreender estes fenómenos e ter uma visão geral da geologia e da vulcanologia.
Numa zona aparentemente inóspita, cinzenta, de aspecto lunar, de onde vão sobressaindo das cinzas, o seu farol e algumas ruínas, este Centro, é acima de tudo uma mais-valia turística e pedagógica para a região.
Do seu vulcão e das suas cinzas, renascerá assim, a vontade de melhor conhecer o único fenómeno de vulcanologia ocorrido em Portugal, nos idos anos de cinquenta, do século passado.
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