Cartas ESQUECIDAS II
(Frei Francisco da Simplicidade)
FINADOS - hoje é o di dos mortos. naquel ano não chovera; havia muito sol na altura e muita mágoa na terra. Das sineiras da igreja, mãos d velhos que sofrera muito, derramavam na plangência dos sinos tôda a tristeza do seu passado morto. E naquelas vozes tristes de bronzes sonoros, subiam para os céu as saudades de todos os que choravam uma ausência, de todos os que pranteavam uma morte. Calcando o solo fôfo da necrópole sem pompas de mausoléus, uma população inteira encontrava-se no cimo do monte e embaixo, como ramagem de fé à milagrosa Basílica, movimentava-se extensa fila de povo. No fundo escuro das vestes, no meneio da marcha, acendim-se, as vêzes como chamas, flôres encarnads para o túmulo de um anjo, grinaldas brancas esplendiam para uma campa de virgem; tudo o mais era roxo. E nós, sem grinaldas nem coroas, porque a ninguem nos roubara ainda a morete, fomos tambem na companhia dos trites. No alto, uma pedra que chorássemos, sem um epitáfio que relêssemos, cheios de saudades ou com lágrimas nos olhos, liamos a todos de coração indiferente e de alm tranquila. E se fizéssemos um trato? Qual? Olha, vês aquela cruz? É a de um esquecido...Porque?
Nem uma flor a seus pés, nem um sipó entre os braço... É duas vêzes triste o esquecimento de um morto! Olha, continuou o amigo, façamos um trato; quando um de nós morrer, o outro, no primeiro dia de finados lhe pantará na campa uma saudade roxa...esta feito? Está feito... E as nossas mãos pousaram trançadas sôbre a crus esquecida. Era um juramento. Descemos. Sobre a terra desciam as trevas da noite e sôbre nós a tristesa, que é a treva da alma. Numa tarde quase dentro da noite, recebi uma carta. Era de luto. Dentro estava escrito - "Morto! -Lembre-se da saudade roxa que lhe prometeu".Assinava-a alguém que lhe ouvira, ao morrer, a confidência do cemitério. Novembro chegou. Sobraçando coroas, subi à montanha. A cruz láestava brunida lampejando ao sol, entrelaçada de flôres; na terra fôfa plantei, entre goivos, a prometida saudade; era roxa e eu quisera, fosse negra; a côr do meu sofrer. Morreram os goivos, mas, a saudade nsceu e lá está roxa, na terra vermenlha do túmulo pobre, como simbolo perfeito da saudade do amigo que ainda chora na alma e no coração me soluça. Eugenia, quando encontrares um tumulo esquecido, cobre-o de flores, planta-lhe alguma saudade, porque nada há mais triste do que o esquecimento de um morto, de um que já desapareceu da vid. Do alto algu~em te acennará com a sua gratidão, amparando os teus passos na terra, porque os mortos não morreram; vivem ao redor de nós, sombras invisivéis, guiando o roreiro desta marcha para o infinito. Quando eu morrer, no meu tumulo planta-me uma saudade, como essa que plantei ao meu amigos e na lagrima constante, a parecer, de manhã, nas suas folhas, encontraras, minha querida, o meo agradecimento cristalizado em pranto, sumo do sofrimento infindavél de quem já traz sepultas em sí as ilusoes melhores de uma pssado imortal.
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