Foi Apenas um sonho
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FOI APENAS UM SONHO
Quem já se apaixonou há de concordar, não é só o corpo ou aparência de uma pessoa que nos faz apaixonar, é a idéia que ela transmite. Sinceridade nas palavras, coragem de se expressas e um olhar compreensivo são algumas coisas que transmitem uma idéia acolhedora. Quando o coração se aquece, tudo começa a parecer um sonho tão intenso que custa para a pessoa perceber que aquilo virou pesadelo. O amor é como um analgésico nesse filme, quando tudo parece desmoronar as pessoas se lembram que por amor tudo vale a pena. Mas será que amor pelo o que? O casal que Kate Winslet vive com Leonardo de Caprio se agarram um ao outro, acreditando que o amor que sentem dá força para conquistar tudo. Para mim, nesse filme o que parecia ser a solução virou um problema. O amor os incapacitou de ver que o que estavam amando é o que um dia um representava para o outro, e aos poucos entraram na escuridão do conformismo de viver com uma pessoa transformada pela rotina.
Foi apenas um sonho é um daqueles filmes que vai direto ao ponto apesar de ser um romance. A água com açúcar que faz parte de muitos filmes é representada mas com um outro enfoque. A vida dos próprios personagens é como a água que se mistura com a doçura de sua inocência. Inocência transformada, na juventude refletida em desejos de tornar a vida em uma aventura e na vida adulta expressa na aceitação passiva de que a vida não é uma aventura. É encantador ver o romance e paixão que norteiam o filme.
Tudo vivido por pessoas que apesar de ter seus sonhos corrompidos procuram sentir a alegria que uma vez tiveram ao sonhar tomando atitudes por impulso e esquecendo de seguir regras. Algumas cenas são irônicas, pois se vê claramente como desejar o impossível ou fazer o impensável traz graça e alegria, cegando as pessoas de todos seus defeitos ou barreiras. A impressão que tive ao vê-lo é a de que em muitos aspectos culturais nossa sociedade infelizmente não mudou dos anos 50 para cá.
O roteiro contém um tema que nos aflinge até hoje, o de sonhar e depois deixar tudo de lado para levar uma vida igual a todos. Atualmente a maior parte das pessoas só vivem sonhos em suas mentes sem nunca realizá-los e constantemente são bombardeadas por novos sonhos de consumo ou idéias, deixando assim uma vida inacabada. Esse bombardeio não existe no filme, pois nele a vida parece ser completa e perfeita, sem chance de grandes alterações.
Acho que mesmo sem realizar nossos sonhos nós normalmente acabamos nos acomodando com a vida seja ela boa ou ruim e tudo começa a parecer aparentemente tranqüilo. O filme traz a perspicaz sensação de que podemos facilmente nos tornar iguais aos personagens, felizes só aparentemente e interiormente confusos. Os diálogos e olhares transmitem a incomoda e inteligente visão de que existe uma grande diferença entre sonhar e realizar o sonho.
Parece até normal esquecer suas ambições de jovem conforme vivemos, triste mas aceitável. Só que o que esse enredo traz é justamente a tristeza que muitos nós não sequer ousamos ver, a de se conformar tanto com a própria vida que o medo toma conta de todos outros desejos. Medo de tomar uma atitude errada ou de não conseguir se imaginar dentro ou fora de uma situação. Até que ponto temos coragem de mudar nossas vidas de acordo com o que realmente queremos ou até onde é possível seguir só o que parece mais fácil?
Refletir sobre o que acontece ou deixa de acontecer é fácil só que o que vemos nas cenas é nossa dificuldade em ver nossa própria beleza e de se espantar com nossa crueldade.
O homem interpretado por Leonardo de Caprio não consegue enxergar que ele pode ter uma beleza oculta que só precisa de tempo para aparecer e sua mulher é o oposto. Ela acredita que todos temos algo especial para oferecer ao próximo e que a vida é mais do que comer e trabalhar só que não encara a crueldade que a vida nos impõe com a coragem necessária. Todos são personagens querem escapar de situações incômodas só que um quer correr e o outro quer encarar só gritando.
Eles parecem infantis, explodindo sentimentos sem saber o que fazer concretamente. Parece que sabem, mas no fundo não sabem porque ninguém tem a coragem de aceitar que tudo é conseqüência de decisões que tomamos e não que outros tomaram por nós. Os personagens se culpam e agridem já que não sabem como chegaram àquela situação.
Nem refletindo dá para descobrir o quanto de suas vidas foram vividas só para agradar o próximo e quanto foi vivida só por convenção. Ninguém pensou sobre o que estava fazendo até sentir um nó na garganta para dizer que estavam vivendo a promessa não declarada de realizar um sonho que no fundo nunca irá ser realizado.
De que adianta apenas conversar sobre sonhos? Viver seus sonhos, esquecer o medo de fracassar e só depois refletir é melhor. Só que o medo do fracasso futuro ou atual é tanto que o casal entra em desespero e saem pelo caminho aparentemente mais fácil de suportar.
O que se esquecem, no entanto, é que não é a saída mais fácil que irá trazer a melhor conseqüência.
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