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Contos de Fadas e Realidade Psíquica
(Glória Radino)

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"Sonho que se sonha junto é realidade", disse Raul Seixas, citado ao final da obra de Glória Radino. Pois, para ela, os contos de fadas são sonhos escutados em conjunto (ao menos um ouvinte e um narrador), lembrando rituais primitivos, como as rodas em torno do fogo. Sua função é mágica, como nos tempos mais remotos, porque ajuda a sublimar e elaborar medos, perdas, frustrações e outros sentimentos de quem começa a vida de descobertas, fantásticas e ameaçadoras.  
A visão adulta sobre a infância teme a magia e privilegia a realidade, como se a educação se desse apenas por uma via: racional, didática e utilitarista. Introduz-se a criança no mundo adulto do "compram-se sonhos", ao invés de adaptá-la ao seu mundo infantil (e suas precariedades) por meio do "contam-se sonhos". As personagens dos contos de fadas e suas características próprias, como alegria, felicidade, tristeza, heroísmo, coragem, medo, angústia, ansiedade e outras, levam a criança a identificar e a lidar com suas emoções, sensações e sentimentos.
O reconhecimento dos próprios estados emocionais é estruturante da personalidade e está na base formativa da criatividade, do "eu posso", independente da instrumentalização dada pelo outro, em geral o adulto que dita regras e normas do mundo adulto - no qual só ele pode. O ideal defendido por Glória Radino é este. Mas, a realidade é outra.
Por meio de entrevistas junto a professoras do ensino fundamental em escolas do interior paulista, a psicanalista descobriu que as docentes estão comprometidas apenas com o que é didático, de resultados imediatistas, que justifiquem a escola para os pais, mostrando resultados. Seguem o currículo convencional, mas é mostrado que no período letivo há brechas para ousar. Mesmo assim, os contos de fadas, as histórias, o lúdico, a estruturação do mundo interno de cada um são desprezados como aprendizado, vistos como inutilidades ante a necessidade de introduzir a criança nas áreas do conhecimento do mundo externo (português, matemática etc).
Ironicamente, em um dos capítulos finais do livro, as professoras contam que as crianças, hoje, chegam à escola carentes de tudo, em especial do afeto dos pais. Até aí, nenhuma novidade, pois há notícias na mídia dando conta de que a criançada está cada vez mais medicada contra sua natureza curiosa e, em última análise, anestesiadas da carência afetiva.
As professoras relatam que as crianças esperam que as "tias" supram suas necessidades de afeto, que de outra forma não são atendidas. Cabe aqui mais um parêntesis: tia sugere laços de sangue, idéia mais ilusória do que o temido conto de fadas, acusado por pais e pedagogos de levar os pequenos para o mundo da fantasia, arriscando deixá-los lá para sempre. Estas crianças, tidas como irrequietas e até diagnosticadas como hiperativas, não silenciam para escutar as histórias, para viver um momento lúdico, reclamam as professoras.
As "tias" dizem isso como se as próprias histórias e contos, se muito bem narrados (quando o narrador afeta e se deixa afetar), sem função didática e utilitarista, não fossem um meio de demonstração de afeto e atenção. As ansiedades e angústias infantis atuais, que em psiquiatria atendem por transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), sugerem a dispersão da criança, como se ela necessitasse esquecer um outro déficit, anterior a este e talvez muito mais verdadeiro, mas camuflado porque sugere a impotência dos pais no campo afetivo.
Ou seja, a pedagogia das escolas infantis, que atendem crianças de até cinco anos (ou não muito mais do que isso) repete o discurso da família, em que a ansiedade adulta pelo fazer (falar, andar, comer etc.) sufoca a possibilidade de ser. Ser implicado com sua própria subjetividade, caminho de mão dupla do sonhar, fantasiar, imaginar, criar.
A psicanalista conclui que, embora o mundo adulto venha se preocupando cada vez mais com o universo infantil, esta preocupação não passou ainda da materialidade (vestuário, objetos, brinquedos, mobília etc.). Há "coisas" e locais apropriados para as crianças. Mas na infância não há lugar para o sonhar, fantasiar, pensar e expressar sentimentos e emoções.



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