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O poder dos sonhos
(Luís Sepúlveda)

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Aos dezoito anos, sonhava em poder ler todos os livros da Biblioteca Nacional de Santiago do Chile, na sua pátria de gente afável e fraterna.
Anos mais tarde, viveu o sonho colectivo dos mil dias do governo de Salvador Allende, e sonhando, acreditava-se ser possível, outro mundo.
Foram mil dias intensos, sofridos, mas felizes. Com excessos, sim, mas com problemas e soluções, éramos autodidactas. Mas nunca se roubou o povo.
Foi um orgulho ter sido companheiro de luta de Allende.
Desses tempos, recordo a companheira Gladiz Marin, a nossa juventude, os tempos de militância, o trabalho colectivo e a nossa amizade. Onde quer que esteja esta amiga falecida, sei que está a organizar o nosso próximo encontro. “El Siete”, o jornalista Júlio Romero, sempre pronto a lutar pelas causas em que acreditava. Daniel Wordzinsky, meu irmão e companheiro de sonhos e aventuras na Patagónia, por quem nutro orgulho e admiração. Fotógrafo de excelência, mostrava como ninguém, seres reais do mundo real.
Recordo ainda todos aqueles que, depois do sonho desfeito, foram torturados e mortos.
Os sobreviventes, evitamos falar sobre os acontecimentos, mas não nos calamos.
Ontem como hoje, a nossa voz faz-se ouvir.
Falamos da Operação Condor, plano de terrorismo internacional, arquitectado por Pinochet, Videla, Banzer e Strausner, para liquidar os opositores políticos, fora das fronteiras dos seus países.
Falamos da guerra do Iraque, baseada em mentiras, onde além de milhares de iraquianos, civis, militares, jornalistas e muitos outros têm sido abatidos por “ fogo amigo”.
A Europa, ao participar nesta maldita guerra, presta vassalagem aos Estados Unidos e ao seu imperialismo.
O 11 de Março, em Madrid, foi outra mentira do governo de Aznar. Em véspera de eleições, afirmavam ser obra da ETA. Convinha que assim fosse, para ganharem as eleições, como o disseram, sem respeito pelas vítimas e seus familiares.
Lembro-me que no Chile, apesar de não haver negros, nos tratamos uns aos outros por negritos
 Respeitamos negros como Mandela, Sidney Poitier, Armstrong, mas metem-nos asco, negros como Condoleza Rice, Colin Powel e outros como eles que, renegam o legado de Luther King.
No Chile, distinguimos brancos, negros e gente de cor (duvidosa), como Bush, Aznar, Blair, Berlusconi, Le Pen…
Ocorre-me que aos ladrões comuns, quando confrontados com a Justiça, dá-lhes diarreias e cólicas, mas com o assassino e ladrão Pinochet, dá-lhe micro enfartes cerebrais, com desmaios o que o leva até a um luxuoso hospital militar.
Assim se vai livrando de prestar contas à justiça, mas é um cretino porque acredita na sua impunidade e no poder eterno do abuso e do poder.
Mas antes dos micro enfartes, lê jornais e transfere milhões para as contas da ladra da sua mulher, dos tontos dos filhos e outros parentes.
Com estes truques de senilidade, escapa sistematicamente à Justiça, o que não abona nada em favor do Chile.
Em nome da decência, devem ser embargadas as suas propriedades e dinheiros.
Ao que foi apurado, tem 29 contas em diferentes bancos de diversas praças mundiais, no valor de dezoito milhões de dólares e propriedades no valor de cem milhões de dólares.
Onde param carros, casas e jóias roubados aos milhares de mortos?
Bastava conferir o que auferiu em vencimentos, com aquilo que comprou. Tão simples quanto isso.
Não temos a certeza se será julgado, mas receamos ter de dar razão a D.Francisco de Quevada ao afirmar: ” Poderoso caballero, es don Dinero”.
Como filho da oralidade, pois descendo do povo araucano, não me cansarei de levar ao mundo através da minha escrita os princípios da universalidade da humanidade – pão, paz, trabalho, justiça e liberdade.
De Neruda a Victor Jara, muitos foram aqueles que lutaram ou mesmo morreram, pelos mesmos ideais
Em 1990, na transição para a democracia, tínhamos esperança na mudança, mas tudo continuou igual.
 A democracia foi negociada com Pinochet que, manteve o modelo económico, a mesma Constituição, a hegemonia das Forças Armadas e o mesmo Comandante, ele mesmo, como guardião da nação.
 Mas em 2006, voltamos a cantar com ânimo a canção, “Michelle, ma belle” dos Beatles que, entoamos nos anos de 71/72 em apoio a Allende, onde também participava a filha do general Alberto Bachellet, de seu nome Michelle.
Hoje, passados mais de trinta anos, é essa mesma Michelle que  é candidata às presidenciais do Chile e grande parte da população desta nação, aguarda com esperança que tenha chegado a hora de um tempo novo, com o qual muitos de nós nunca deixámos de sonhar e de acreditar.



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