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À conversa com...Luís Sepúlveda
(Miguel Carvalho)

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Luís Sepúlveda, concedeu esta entrevista em 2003, na sua casa em Gijón, nas Astúrias, Espanha, onde reside há cerca de sete anos, na companhia da esposa e poetisa Cármen Yañez, rodeado de objectos de referência, em especial dos seus livros.
Entre as várias questões que lhe foram colocadas, ele afirmou o seguinte:
No Chile, tínhamos um Congresso a funcionar há cerca de cento e quarenta anos, sem interrupção e várias experiências democráticas e pretendíamos construir uma sociedade socialista à moda do Chile, de empadas e vinho, mais próxima da Suécia do que de Cuba.
O Chile teve influência da intelectualidade que emigrou da Europa e já havia uma Universidade  anarquista, a primeira em todo o mundo que formava técnicos em  áreas da imprensa.
O Presidente Salvador Allende, era um homem muito culto, médico de formação, com um sentido de humor acutilante, valente, aventureiro, a atento a tudo e com ele, viveram-se  tempos felizes e alegres. Tive muito orgulho em ter pertencido à sua guarda pessoal.
Se o nosso modelo triunfasse, iria alastrar-se para os países vizinhos - Argentina e Uruguai e daí para toda a América Latina. Nos Estados Unidos, o Presidente Nixon e o Secretário de Estado Kissinger, nunca o permitiriam, pelo que promoveram e apoiaram o golpe militar de 1973, com Pinochet à cabeça.
Foi um golpe militar, cruel e terrível, sendo declarada guerra a um povo pacífico e desarmado.Com o golpe, veio a ditadura que se manteve por longos e trágicos dezasseis anos, tendo sido pago um preço demasiado elevado em torturados, mortos, exilados, gente que ficou na miséria, famílias destruídas, separadas, crianças roubadas, vidas truncadas.
Em 1974, numa altura em que estava preso em Temuco, soube da notícia da Revolução dos Cravos em Portugal e isso deu-me esperança, mas foi passageira. A Dita - Dura, tinha vindo para ficar.
O Chile dos anos setenta, alterou-se por completo. A mentalidade das pessoas é outra. Há muito individualismo. Houve um retrocesso enorme a nível de solidariedade e de partilha. A nossa economia era forte, mas o novo modelo económico, tornou o Chile, dependente do exterior.
 Sonho ainda com uma sociedade mais justa e saudável. Em conjunto com um amigo, abrimos um Editora em Santiago do Chile, para recuperar o nosso património cultural, para o partilhar com os jovens a quem foram escondidas as atrocidades, os desmandos que eram feitos nas costas dos cidadãos.
Houve quem jurasse a pés juntos que no seu país, não havia tortura, mortes, roubos, desaparecimentos. Isso era tudo propaganda da oposição.
Felizmente há jovens, ainda que poucos, que começam a interessar-se por esta temática, a procurar informação e a acreditar que as pessoas que apareciam nas praças e ruas com fotografias, procuravam saber dos seus que, se tinham evaporado no tempo e no espaço.
Quanto a mim, não esqueço e não perdoo. Precisamos de chorar e de saber dos nossos pais, filhos, irmãos, para podermos fazer o luto e para perceber a dimensão da tragédia.
Pinochet, tem de pagar pelos crimes cometidos, durante o tempo em que esteve à frente dos destinos do país. Oxalá, tenha uma doença grave que o faça sofrer bem e mesmo isso será pouco.
Ele tenta esquivar-se, e os seus médicos alegam que sofre de demência vascular leve. Uma loucura oportuna, mas juízes como Guzmán e Gárzon, em nome das vítimas, não lhe têm dado descanso.
Tenho vivido sempre exilado, porque não pude viver no meu país. O meu país desapareceu, mas apareceram outros. Contudo, adoro a minha Patagónia e as suas gentes pioneiras e onde volto sempre que posso.
Estive na ex - União Soviética, com uma bolsa de estudos. Aquilo era uma tristeza e a culpa de tudo era sempre dos judeus. Acabei expulso.
Vivi na Alemanha, em Hamburgo, onde havia muita solidariedade, em Paris, onde à excepção dos portugueses com quem se podia conversar e tomar um café, não guardo boas recordações daquela gente sem tempo para nada.
Continuo socialista, agnóstico e sempre cheio de dúvidas. Os meus luxos são  as palavras, é a minha voz, ao serviço dos que a não têm.
E é aqui, nas Astúrias, onde me sinto em casa que, tenciono ficar em definitivo, recebendo a visita de filhos, netos e amigos.
É aqui também que, espero terminar uma novela que, comecei há dez anos e cuja principal  personagem é um pirata, um pirata português, pela certa, de seu nome – Sebastião Alentejo.
E encostada à parede aqui continua a minha guitarra, para quem a queira dedilhar.



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