Vésperas
(Adriana Lunardi)
Em Vésperas, Adriana Lunardi toma como tema principal a morte para falar de finitude e de eternidade. Homenageia grandes escritoras já falecidas, boa parte delas em circunstâncias trágicas que, como a autora diz em um dos seus textos, em homenagem a Sylvia Plah, é como os jornais varrem para as entrelinhas a palavra suicídio. Partindo de detalhes biográficos, Adriana recria, ficcionalmente, os últimos dias e momentos das vidas dessas mulheres. As homenageadas são Virginia Woolf, Ana Cristina César, Dorothy Parker, Colette, Katherine Mansfield, Clarice Lispector, Sylvia Plath, Júlia da Costa e Zelda Fitzgerald. Nas nove narrativas, com notável delicadeza e criatividade, o narrador ora se expressa através do fluxo de pensamento da homenageada, de seus sonhos, fazendo balanços de vida ora, na pele de personagens, vivos ou mortos, contracena com a escritora em foco, fala de solidão, de angústia, de frustração, de saudade. Os títulos remetem a apelidos de infância das homenageadas. A prosa poética de Adriana, em Vésperas, brilha em textos ricos em metáforas, em imagens, em lirismo, flui em frases modeladas com cuidado, numa dicção leve, suave, flutuante, quase etérea, onde o ritmo e a musicalidade são pontos fortes na opção estética da autora. A autora usa de recursos estéticos sofisticados para construir um texto sem contorcionismos formais ou hermetismos resultantes da mera exibição de erudição. Em Vésperas, a aparente e enganosa simplicidade das narrativas seduz o leitor, que as acompanha com prazer e facilidade. A despeito da escolha temática, Adriana não se perde em dramalhões ou pieguismo, trata da morte com a dignidade que o tema pede, e sempre de um ponto de vista positivo, o que transforma o livro, paradoxalmente, numa celebração da imortalidade, e da criatividade, já que o mesmo tema é visitado, a cada narrativa, de maneira nova, sob pontos de vista diferenciados. Vale conferir.
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