Terra em Transe: A vida como ela é!
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América Latina, idos de 1966/67, período pré-ditatorial. Alto teor de conturbação política. Indecisões ideológicas e práticas.
Nesse período foi filmado talvez o grande marco do chamado Cinema Novo, movimento que visava a integração do cinema com o pensamento voltado à realidade social. O título do filme cai como uma luva na descrição da atmosfera da época: Terra em Transe.
Produzido e dirigido por Glauber Rocha - que entre outras coisas pensou e criou uma nova maneira de fazer cinema, recebendo por isso menções honrosas de nomes como Martin Scorsese e Jean-Luc Godard – o filme descreve de maneira inovadora e chocante a realidade sócio-política vivenciada em toda a América Latina naquele momento da história.Temas extremamente atuais como o descaso dos representantes do povo para com o próprio povo e a conseqüente inexistente qualidade das políticas públicas para o oferecimento de condições mínimas de sobrevivência aos mais necessitados, são tratados de maneira genial.
O protagonista do filme é um poeta, um artista que serve tanto à direita quanto à esquerda, divagando entre o idealismo e o pragmatismo. Este poeta perambula por diferentes correntes políticas buscando encontrar o líder ideal para a imaginária cidade de Alecrim, situada no também obviamente imaginário país de Eldorado (ponto para o filme, pois, desvinculando o contexto do Brasil, o cineasta consegue abranger toda a América Latina). Entre os concorrentes ao cargo estão um típico político de direita que se acredita no direito de liderar os homens por ser superior a eles, um político populista de esquerda que apoiado pela igreja chega ao poder para em seguida abandonar todos os ideais incluídos em seus discursos de campanha, e um industrial, dono de um império que tenciona apenas proteger seus negócios de um concorrente internacional.
O filme possui diversas passagens marcantes, com uma sinceridade que é quase um vômito na consciência sócio-política do espectador. Uma dessas cenas é o momento em que, após tanto reclamar, o “povo” recebe o direito de falar. E quando todos se calam para ouvir, tudo o que há é um silêncio que ensurdece. O povo não passa de uma massa débil e manipulável ...
Terra em Transe é uma aula não só de cinema e política, mas de ciências sociais. Conta, em seu elenco com atores do porte de Paulo Gracindo, Francisco Milani e Paulo Autran. Foi vencedor do prêmio de Crítica Internacional no Festival de Cannes, em 1967.
Glauber Rocha disse a respeito da obra “O cinema prolonga a morte. Estas imagens estarão eternas. Além da morte.”
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