Politica CULTURAL E EDUCAÇÃO
(MICHEL W. APLLE)
POLÍTICA CULTURAL E EDUCAÇÃO
APLLE, Michael W. Política Cultural e Educação/ Michael W. Aplle; tradução de Maria José do Amaral Ferreira. – 2. ed – São Paulo: Cortez, 2001
A política cultural na educação trata dos recursos que empregamos para questionar as relações existentes, para defender as formas contra-hegemônicas que já existem, ou para dar luz a outras. O trabalho do autor, michael W. Apple, investiga as propostas da aliança neoliberal e neoconservadora para uma reforma educacional. Além disso, o livro ressalta a habilidade da coalizão conservadora em liderar grupos com interesses diferentes.
Considera que um dos efeitos perversos de um currículo nacional será, na realidade, o de ‘legitimar a desigualdade’. Ele pode de fato ajudar a criar a ilusão de que, não importa quão maciças sejam as diferenças entre as escolas, todas têm alguma coisa em comum e todas são culturalmente iguais", explica o autor, argumentando que usa a palavra "ilusão" de propósito, para deixar claro o poder enorme das diferenças absolutamente reais que existem entre escolas de cidades pobres do interior e de regiões rurais e aquelas dos subúrbios ricos.
O currículo nunca é simplesmente uma montagem neutra de conhecimentos, sempre parte de uma tradição seletiva, da seleção feita por alguém, da visão de que algum grupo tem de que seja conhecimento legítimo. O texto procura compreender as tensões mediadas entre as conseqüências globais e locais do capitalismo corporativo internacional, o crescimento e a formação do Estado conservador e os movimentos sociais. O autor faz um estudo sobre a educação pública articulado com os objetivos econômicos, os valores, a visão de família, raça e classe, a política cultural adotada, a identidade e o papel do Estado, dentre outros componentes.
Segundo o autor, o movimento rumo à centralização do currículos e da avaliação pode contribuir para os objetivos de longo prazo da direita: a privatização. O texto procura discutir um currículo e uma avaliação comuns de maneira diferente. Para o autor, a discussão dessas questões não é apenas retórica, mas um ato político. "Um dos aspectos mais cruciais da política é a luta para definir a realidade social e interpretar as aspirações e necessidades básicas das pessoas".
Como se sabe, no neoliberalismo a idéia de democracia tem uma forte conotação econômica e não política. Dentro dessa concepção, a democracia é traduzida como prática de consumo. O mundo é visto essencialmente como um grande supermercado. O princípio da " liberdade de escolha" passa a ser o garantidor dessa democracia. Nessa ideologia, o ideal do cidadão é aquele do consumidor, ou melhor, o cidadão é concebido como o próprio consumidor. Além disso, o neoliberalismo está orientado para a visão de um " Estado fraco" . O Estado deve intervir o mínimo possível na sociedade, pois esta deve se reger de acordo com a " lógica do mercado" . Consequentemente, tenta-se reproduzir a idéia maniqueísta de que o privado é bom e eficiente e que o público é ruim e ineficiente.
A principal conseqüência dessa ideologia na reforma educacional norte-americana é que a educação passa a ser concebida simplesmente como mais um produto a ser consumido no mercado. Os estudantes, assim como seus pais e responsáveis, também são tratados como consumidores. A " teoria do capital humano" é fortemente resgatada ao se conceber os alunos, além de consumidores, como " futuros trabalhadores" . Tem-se a partir daí a fabricação do seguinte discurso: " O mundo está intensamente competitivo economicamente e aos estudantes – como futuros trabalhadores – devem ser dadas oportunidades e habilidades apropriadas para competirem eficientemente" .
Outra conseqüência dessa visão da educação como mercadoria, do princípio de que a sociedade deve se reger de acordo com a " lógica do mercado" e da idéia de que " o privado é bom e o público é ruim" , é o processo de privatização do ensino público. Sendo assim, tenta-se garantir o livre direito de escolha do cidadão, ou seja, do consumidor, por meio do estabelecimento de carnês e programas de escolha. Os pais ou responsáveis, também consumidores, caso insatisfeitos com a educação pública de suas crianças, poderão requisitar dinheiro público para custear a educação delas em instituições privadas de ensino. Além de recursos públicos serem enviados diretamente para a iniciativa privada, esta também se interessa em " contribuir" com a escola pública de boa qualidade, financiando programas educativos na televisão ou a produção de materiais didáticos, exigindo em troca " apenas" a veiculação da propaganda de seus produtos nas escolas. Porém, no contexto norte-americano, os neoliberais não estão sozinhos. Existem outros grupos também de direita responsáveis pela concepção e implantação da atual reforma educacional no país, que são os neoconservadores.
Segundo o autor, os neoconservadores constituem o segundo elemento mais poderoso nessa nova aliança hegemônica conservadora na reforma educacional dos Estados Unidos. Diferente dos neoliberais, esse grupo é guiado por uma visão de " Estado forte" e interventor na melhoria da educação norte-americana.. Na opinião do professor Apple, apesar de divergirem quanto à participação do Estado na sociedade e, mais especificamente, na educação, neoliberais e neoconservadores têm forjado coalizões criativas na reforma educacional estadunidense. Por exemplo, assim como para os neoconservadores, interessa aos neoliberais a homogeneização dos currículos escolares e o estabelecimento de testes padronizados. Para os neoliberais, por um lado, a padronização do currículo e da avaliação é importante para se atingir um de seus objetivos na reforma: “garantir as oportunidades e habilidades apropriadas para os estudantes competirem eficientemente”.
Resumos Relacionados
- Politica
- Público
- Do Projeto Politico Do Banco Mundial Ao Projeto Politico Pedagogico Da Escola Publica Brasileira
- Política - Significado
- Reforma Universitária Ii
|
|