Introdução a filosofia
(Marilena Chauí)
Marilena de Souza Chauí é mestre, doutora e livre docente de Filosofia. Já foi secretária municipal da Cultura na cidade de São Paulo durante o mandato da ex-prefeita Luiza Erundina (1988-1992). Dentre seus livros escritos, o que obteve maior sucesso foi "O que é Ideologia", de linguagem fácil que vendeu mais de cem mil exemplares. Esta resenha é uma análise crítica do texto “Para que Filosofia”. In: CHAUÌ, Marilena. Convite à Filosofia.São Paulo: Àtica, 1995.
Chauí começa abordagem atentando ao fato de nossa vida estar repleta de certezas cotidianas óbvias, as quais são oriundas, muitas vezes, de pré-conceitos, pré-juízos e do senso comum – aquelas coisas que todos sabem. Manifestam-se, vez em quando, em regras implícitas que acreditamos ser do conhecimento de todos. O exemplo que ilustra muito bem essa questão é “não pegar chuva, pois se o fizer, acabará gripado.” Aí vemos uma certeza implícita, que não podemos provar exatamente, mas sabemos que quem pega chuva fica com gripe. Levamos essa crença adiante porque foi passada pela nossa mãe e da nossa avó para ela. A filosofia entra na hora de refletir sobre essas certezas cotidianas.
Porém, a reflexão se deve fazer de maneira ordenada, racional, para que se possa atingir resultados satisfatórios (se é que existem!). Assim, utiliza-se da atitude filosófica, na qual o pensador procura isolar-se do mundo para poder observá-lo. O ente se desgruda de sua mente e questiona tudo o que já está afirmado, como se ele fosse um ser neutro. Nesse exercício é tomada uma postura negativa, na qual se vai contra tudo o que está estabelecido, para logo depois questionar o que são as coisas, por que são e como são; sendo estas as indagações fundamentais da filosofia.
“Mas para quê tudo isso?” é a pergunta que surge naturalmente. A pergunta existe – e persiste – pois as pessoas não conseguem ver na filosofia uma aplicação prática, como acontece com as ciências tecnológicas, com a matemática ou as línguas. Entretanto, a filosofia – o pensamento lógico e racional – contribuiu e continua contribuindo para todas as áreas científicas, pois é ela quem procura sempre aperfeiçoar os métodos e até mesmo os instrumentos para verificação das teorias elaboradas. Ela tem o poder de ratificar uma nova afirmação, tanto quanto de refutá-la.
Chauí alerta para o fato de não existir apenas um significado para a filosofia, mas sim várias, as quais ressalta:
Filosofia como visão de mundo de um povo ou de uma sociedade. O problema desta definição se dá em ela ser muito vaga, cabendo também à religião.
Como sabedoria de vida. Essa definição se atém no produto da filosofia, no que se espera dela: uma vida plena, na qual o indivíduo alcançou o entendimento de si próprio. Nesse caso, a definição é falha por não dizer exatamente o que é e nem o que faz a filosofia.
Como esforço racional para conceber o Universo como uma totalidade ordenada e dotada de sentido. Nessa concepção a filosofia seria a ciência que explicaria o mundo e o universo, com um sistema padrão e verdadeiro. O problema é que já se sabe que isso é impossível, além de ser o foco de outras ciências, além de requerer uma única resposta certa e verdadeira, o que a própria filosofia não aceita.
Como fundamentação teórica e crítica dos conhecimentos e das práticas. Essa é a filosofia que tem tido maior recorrência em nosso tempo presente. Ela apresenta-se como elemento de validação do conhecimento, analisando os métodos de aquisição dos saberes, bem como interpretando seus resultados. Ainda faz-se presente no estudo da consciência de nossos sentimentos e ações gerais.
Mesmo a filosofia estando enraizada junto ao conhecimento humano, mesmo ela dando suporte ao avança tecnológico e científico da humanidade, o senso comum a vê como uma prática inútil. Isso acontece, principalmente, porque, na sociedade em que vivemos, o que não tem uma aplicação prática direta e imediata, o que não gera lucro e não pode ser vendido – e, então, não traz prestígio algum – não é visto como útil. O senso comum está tão preso a esses ícones do nosso modelo de sociedade, que não consegue libertar-se dele para entender a filosofia, quem dera praticá-la para trabalhar melhor, viver e conviver melhor. A filosofia é necessária – e mais - é inerente à vida.
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