Uma simples formalidade
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O filme “Uma simples formalidade” evidencia diversos aspectos que a escrita assume em nossa sociedade. Em primeira instância, a personagem principal (Onoff) é um escritor. Em segunda instância, grande parte do filme decorre em uma sala de interrogatório, com a presença de um escrivão. Essas duas instâncias tornam clara a presença forte da escrita e da leitura no filme.
Já no início do filme, quando Onoff é encontrado correndo na chuva, podemos perceber uma das formas pelas quais a escrita se insere na nossa comunidade: como escrita identificadora. Por não possuir seus documentos, Onoff é levado para uma delegacia de polícia, onde sua identidade seria confirmada. Até que os policiais consigam identificar positivamente Onoff, ninguém lhe dá crédito e ele é tratado como um criminoso. Nessa passagem do filme fica evidente a importância da escrita como atestadora da identidade. Sem um documento autêntico, uma pessoa não possui identidade na sociedade. Um indivíduo não é ninguém sem um documento escrito que ateste sua identidade. Percebemos logo quão importantes são a escrita e a leitura na sociedade.
Outra cena na qual se pode perceber essa importância é durante o interrogatório. Onoff, ao relatar, sem registro escrito, os acontecimentos de seu dia para o comissário de polícia, dá certas informações. Quando o escrivão chega para registrar o interrogatório, Onoff muda seu relato, negando o anterior. Essa cena mostra que, na nossa sociedade, não há verdade sem registro escrito. A escrita atesta a verdade, e sem ela nada pode ser comprovado.
É interessante ressaltar que em uma outra cena acontece a reversão desse papel “comprovador da verdade” da escrita. Ao final do interrogatório, Onoff declara não ser esse seu verdadeiro nome. Ele diz que sua identidade e biografia são falsas, forjadas por um mendigo, Faubin. Essa cena é interessantíssima, pois mostra que a mesma escrita que antes era um símbolo e prova da “verdade incontestável” também pode ser falsa, forjada, manipulada de acordo com os interessantes de um indivíduo qualquer. Outra parte do filme que mostra essa falsidade da escrita é a que Onoff admite ter publicado como seu o livro “O palácio das nove fronteiras”, de Faubin. Mais uma vez fica provado como a escrita é passível de manipulação.
Muitas outras relações são evidenciadas no filme, mas acredito que as citadas são as mais marcantes. O filme é realmente muito interessante quando olhado sobre o enfoque das relações que ele estabelece com a escrita e a leitura em nossa sociedade. Pude perceber que essas relações são em demasia complexas e nem sempre bem estruturadas, sendo inclusive muitas vezes confusas.
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