Contos Vagabundos
(Mário de Carvalho)
Os contos dispersos por jornais e revistas, do escritor português Mário de Carvalho, foram selecionados e reunidos, formando o livro de coletânea com 17 contos soltos, intitulado “Contos Vagabundos” e lançado em 2000. Neste livro o autor utiliza a língua portuguesa e seu conhecimento profundo da mesma, para criar contos nos quais a ironia aparece constantemente, ou então, para criar textos de grande comicidade. Misto de comédia e paródia são utilizados para contar e retratar o cotidiano dos cidadãos portugueses. O humor non sense, o humor negro, o insólito, o fantástico, o inverossímel, o grotesco, o absurdo, os sonhos, a subversão da ordem das coisas e da vida, permeiam suas histórias, nas quais aparecem relatos que ultrapassam o realismo da vida portuguesa, porém os mesmos acontecem com pessoas reais, levando o leitor para um mundo de ilusão, alucinação. Estes contos apresentam vários temas. No primeiro conto, “Três personagens transviadas”, o autor trabalha com o fantástico ao apresentar homenzinhos de trinta cm de altura, que cismam em ficar sobre um móvel de computador de um escritor; seus personagens o assediam constantemente; um homenzinho magro, escuro e chapéu fora de moda, sai detrás do teclado e começa a fazer esforços para conseguir subir para o tampo superior, onde encontram-se monitor e impressora. Após perguntar a um amigo o que fazer com elas, o homem decide prendê-las em um texto que estava escrevendo.
Já na história de “Carolina, Fernando e eu”, o autor nos fala sobre o amor que Carolina sente pelo ex-namorado, que a deixou, não se sabe o porquê, e ela sofre demais sua ausência, não dando atenção devida ao rapaz que ora está apaixonado por ela. Este é o único conto no qual o autor permanece no campo da realidade. No conto chamado “Deus”, um homem chama um amigo, que vive longe dele, para lhe mostrar o que acha ser Deus (ele achara uma concha na praia e acredita que este objeto é Deus e parece que seu amigo fica convencido com a sua hipótese). Neste conto estamos diante do imponderável, do inverossímel.
Em “Interminável invasão” o autor usa e abusa de sua veia cômica e acaba arrancando boas risadas do leitor, pois critica a vilania, a grosseria com que são apresentados alguns concursos que aparecem na TV portuguesa. Já no conto “O binóculo russo”, o autor brinca com a seguinte questão: se ao comprarmos um binóculo para espionarmos a vida de outras pessoas e não nos sentirmos sós neste mundo, o binóculo nos mostrar as pessoas totalmente diferentes do que as conhecemos ou as idealizamos? Uma mulher começa a espionar um vizinho e acaba comprando binóculos para observá-lo melhor. Porém, um dia no supermercado, acaba desiludindo-se, pois o homem que ela achava ser o vizinho que espionava, tratou-a mal e a partir desse dia ela nunca mais o observou. Passam-se alguns dias e ela nota que um outro vizinho sempre ia a uma determinada hora até a janela para regar umas plantas. Deste dia em diante este passa a ser alvo de suas observações e assim, ela deixa de sentir-se sozinha.
Em “Fenômenos de aviação”, o autor cria um clima de absurdo com pessoas reais. Em “Carolina”, utiliza velhas histórias de prodígio; já em “Andando”, o autor usa e abusa das fábulas e o leitor terá que desvendar o que está por trás destas; em “Do conserto do mundo” o escritor coloca o homem diante do imponderável e em “Por uma vereda na falésia” o autor nos coloca diante do insólito, do incomum.
Leitura fácil, pois o livro nos faz rir e tem poucas páginas. A crítica literária portuguesa considera Mário de Carvalho um dos mais importantes autores de ficção da atualidade e a sua obra encontra-se traduzida em vários países.
Resumos Relacionados
- Fantasmas Do Século Xx
- As Melhores Histórias Fantásticas De H. G. Wells
- O Homem Nu
- Doze Contos Peregrinos
- O Conto Na Modernidade Brasileira
|
|