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Deixa ela entrar
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sueco legendado português
Longa-metragem
 
"Deixa ela entrar", produção sueca do diretor Tomas Alfredson, em 2008, foi apontado pela crítica em geral como gênero terror. Em meu entendimento, a história contada em 114 minutos é um conto de fadas moderno que confronta medos arquetípicos, como as ameaças ao equilíbrio psíquico, representadas pela falta de bons afetos dos objetos primários (pais ou primeiros cuidadores, desde o nascimento) na infância.
Vejamos, o filme apresenta o bullying, um conjunto de maus tratos físicos e psíquicos dirigidos a uma vítima sem condições de defender-se - esta vítima pode transformar-se no que são seus agressores ou sucumbir a eles, morrendo física ou moralmente; e o vampirismo - no filme representado por uma aparentemente invencível menina, pela antiguidade de sua alma e ameaçadores meios de vida -, simbolicamente é o mesmo que sugar o outro à exaustão, até que ele transforme-se em seu igual ou morra de inanição, em ambos os casos, pelo vazio emocional.
O que se vê ao longo da história, porém, é que tanto o garoto Oskar, quanto ela, a vampira Eli, ambos com 12 anos na contagem cronológica humana, são o oposto um do outro. Ele, aparentemente frágil, é forte. E ela, aparentemente forte, é frágil. Ambos estão em busca do amor: ele, na modalidade de dar, e ela, na de receber - sem para isso ter de sugar, roubar.
O menino solitário, isolado do mundo, ao que parece por opção, encontra sustentação desta sua escolha, de ser só, no amparo e acolhimento dos pais que, embora separados, dispensam-lhe grandes doses de cuidados e bons afetos. A fortaleza dele é esta. Por isso mesmo talvez, os colegas por ele deixados de lado, se sintam rejeitados e, daí, os repetidos episódios de bullying. Como se dissessem: não temos bons afetos como você, então o atingiremos pela agressividade; mas, uma coisa é certa: nossa vontade de proximidade do amor fará com que estejamos sempre perto de você, ainda que como algozes. Esta é uma das faces da inveja.
Eli, por outro lado, tem apenas um tutor atrapalhado, que tenta em vão capturar vítimas para retirar-lhes o sangue. Consegue seus intentos, matando pessoas, mas não vai até o fim da coleta do alimento tão necessário à sobrevivência de Eli. O que a força a ir em busca de pescoços alheios para manter-se morta-viva. A menina, de aparência anoréxica, está sempre pálida e gelada, como uma morta. O que me faz pensar nisso como uma metáfora possível do que se vive na estética feminina dos tempos atuais.
Anteriormente aos transtornos alimentares, como anorexia e bulimia, pode haver distúrbios relacionados à falta de afetividade, em especial da mãe (ou dos objetos de amor primário, que podem ser os cuidadores) para a filha. A redução do corpo a pele e ossos, efeito da anorexia, pode representar o desejo de retirar-se do mundo: se não sou objeto de amor do outro e o meu desejo de dar amor é rejeitado, a vida não vale a pena. Se o corpo é a representação concreta da vida, é sobre ele que se impõe a morte.
Ao contrário de Oskar, Eli não tem pais. Seu cuidador tem o propósito único de suprir-lhe a necessidade de alimento concreto, o sangue. Mas, como se viu nem isso ele consegue fazer. Por que então, quando Oskar, presa fácil, aparece na vida de Eli, ela não sacia sua fome de alimento? Por que ele olha para ela e lhe oferece um outro alimento, os bons afetos, aceitação, compreensão, paciência, tolerância e até crítica construtiva, todos estes ingredientes do amor.
Ela o quer vivo, inteiro, forte e... quente. Prova disso é que ela sai correndo ante a possibilidade de sugar-lhe a alma, quando ele se corta e propõe um pacto de sangue. O sangue está ali, ela lambe o chão onde o líquido escorreu da mão do menino, mas vai-se embora, pra longe da tentação de esvaziar o outro pelo pescoço (não à-toa, onde se localiza a garganta, que abriga o chacra das emoções).
Simbolicamente, o que quer um vampiro? E... os meninos que se defendem por meio do ataque ou bullying? Ao que me parece, ambos querem bons afetos, reconhecimento da sua existência emocional. É o que faz com que a personagem mais forte do filme "Deixa ela entrar" seja Oskar, o menino bem-amado pelos pais - apesar de certos momentos de abandono, que são suplantados por um entorno muito maior de bons afetos. Por isso mesmo, Oskar pode decidir seguir Eli, sem deixar-se sugar por ela e sem que ela represente qualquer ameaça de destruição dele.
A conquista primordial de Oskar, representada pelas relações de amor primário (que se dão com os pais ou cuidadores diretos, desde o nascimento), foi bem resolvida, consumada. Ele pode, portanto, dar amor, ser porto seguro para Eli que, assim como os meninos do bullying, nunca teve um, e por isso mesmo anda à deriva no mundo, destruindo nos outros o que não possui: a vida sustentada pelos bons afetos - seus e dos outros. Como diz o ditado, não se dá o que não se tem. E a afetividade é, antes de tudo, aprendizado. Para depois ser ensinamento. Oskar é mesmo um "Oscar", uma láurea de amor a si, aos outros e à vida.



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