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Revista VEJA, 14/10/2009
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Com 22 anos de carreira, e 2 000 operações no currículo, o cirurgião paulista Ben-Hur Ferraz Neto, de 47 anos, chefe do Programa de Transplantes do Hospital Albert Einstein, em São Paulo, tem propostas revolucionárias, mas de fácil adoção, para melhorar a prática da medicina no Brasil. Nesta entrevista à jornalista Adriana Dias Lopes ele fala a respeito delas. Para ele, não existe cirurgia 100% segura, pois parte dela é fazer o que foi planejado, mas a outra parte é reagir aos imprevistos. A evolução nos equipamentos de imagem contribuiu muito para reduzir os riscos, mas eles ainda não fornecem todas as informações necessárias. O cirurgião tem de tomar decisões rápidas e ter autocontrole. Os imprevistos testam ao máximo essas duas qualidades. Elas ajudam o médico a mudar o procedimento de acordo com as exigências da situação. Infelizmente, o erro médico não precisa de imprevisto para ocorrer. Às vezes, um pedaço de gaze escapa aos olhos do cirurgião, pois ela absorve o sangue com muita facilidade e se confunde totalmente com outros elementos do campo cirúrgico. Um pedaço de gaze esquecido no corpo do paciente pode causar abscessos, infecções e danificar um órgão. Os bons hospitais têm procedimentos que impedem essa ocorrência. Ele defende a idéia de que os grandes hospitais instalem "caixas-pretas" nas salas de cirurgia, pois elas têm muitas similaridades com o cockpit de um jato comercial e é proveitoso para todo mundo que as decisões ali tomadas sejam devidamente registradas. Além de elucidar erros médicos, um banco de informações de imagens, sons e dados de milhares de cirurgias seria de incomensurável valor para os profissionais médicos, para os pesquisadores e estudiosos. Ele reconhece, porém, que essa ideia assusta os médicos e precisa de um tempo de maturação para ser aceita. O grande beneficiado por ela seria o paciente, muitos prefeririam ser operados em um hospital com caixa-preta na sala cirúrgica do que em outro que não possua esse item adicional de segurança. Toda garantia que possa ser dada ao paciente deve ser dada. Submeter-se a uma cirurgia é a maior demonstração de confiança que um ser humano pode dar e é justo que em um momento desses tenha a segurança de saber que tudo está sendo gravado. O cirurgião está no total controle da situação, comanda os procedimentos dos quais depende a vida do paciente, mas ele tem limites. O limite é sinalizado pela dúvida e o cirurgião precisa ter respeito por ela. Quando ela aparece, ele tem a obrigação de parar, pensar e discutir com a equipe sobre a conduta a ser seguida. Dúvidas que prosperam no centro médico são um perigo e a situação começa a se deteriorar quando um cirurgião não tem a humildade e a maturidade de dizer um "não" ou um "não sei". O único paciente que perdeu na mesa de cirurgia morreu por ele não ter dito um "não" e ele aprendeu que às vezes a melhor coisa a fazer pelo paciente é não fazer nada. Isso ocorreu em 1995, era o segundo paciente que ele iria transplantar com sua própria equipe. O paciente era portador de cirrose, tinha várias tromboses pelo corpo e já havia sido recusado por mais de um médico. Mesmo assim ele decidiu aceitar esse paciente. Estava claro que ele morreria em poucos meses se não fosse submetido a um transplante de fígado.  Depois de seis horas de operação o fígado foi retirado. De repente, quando foi reconstruir uma das veias do paciente, um pouco antes de ele receber o novo órgão, o vaso começou a sangrar incessantemente porque as veias estavam muito frágeis em decorrência da cirrose. Ele tentou durante quatro horas controlar o sangramento, mas não teve sucesso e o paciente morreu em decorrência da hemorragia. Foi uma lição definitiva para ele. Ben-Hur considera que os médicos brasileiros são pouco controlados e deveriam passar por um controle de qualidade maior e isso teria de ser fator determinante na remuneração deles. Em qualquer atividade profissional há indicadores de avaliação. Na medicina, raramente eles existem. No caso dos transplantes, a situação começa a mudar. Em São Paulo, criou-se um sistema que permite aos médicos comparar seus resultados on-line, em tempo real, com a média das demais equipes transplantadoras do estado. Ele tem batalhado para que esses resultados possam ser consultados por qualquer pessoa, e não apenas pelos médicos. Isso ajudaria o paciente a comparar os dados e escolher com mais segurança a quem ele vai entregar o cuidado com sua saúde. Outra medida simples e revolucionária seria os médicos passarem a cobrar apenas a partir da segunda consulta, no retorno. A primeira consulta, com duração mínima de uma hora, seria usada somente para que o médico se inteirasse do problema e avaliasse sua capacidade de oferecer ajuda efetiva ao paciente, que só voltaria se estivesse plenamente de acordo com o que ouviu do médico. Essa ideia também desagrada aos médicos, mas ele os convida a repensá-la. Em médio prazo, eles perceberiam que dessa forma passariam a contar com um paciente fiel e com total confiança no tratamento. Todos ganhariam.



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