A inflação
(Manolo Florentino)
O século XIV é lembrado na Europa pela terrível peste negra que devastou a Europa.As enfermidades varreram a Europa de 1350 a 1371 ( em ciclos). Mas aconteceu um fenômeno de inflação que é pouco comentado, mas que causou transformações profundas no continente. Debelada a inflação os países estavam prontos para a Renascença que viria 200 anos depois.
O pão, alimento essencial na mesa do homem, tornou-se caro e faltou na mesa dos pobres.Na Inglaterra, após mais de 100 anos de estabilidade, seu valor quintuplicou em 1315. Na França aumentou 25 vezes em 1313 e multiplicou-se por 21 em 1316.A carestia disseminou-se pela Europa e perdurou por décadas.Famintos e enfermos com a peste, guerras constantes, os menos afortunados se revoltaram, na França ( 1358), em Florença (1378), na Inglaterra e de novo na França em 1381, em Portugal (1383) e assim por diante.
As guerras eram comuns, sendo a dos 100 anos, apenas a mais famosa em que destacou Joana D'Arc.Os conflitos que opuseram as classes sociais tornaram-se tão reiterativos quanto as doenças e a fome.Não se surpreenda se vir em estatísticas que a população européia absoluta que era de 75 milhões na época, decresceu para 45 milhões em 1400. Pesquisando as estatísticas regionais, vê-se que a Inglaterra possuía na época 5 milhões de habitantes em 1340 e em 1470 3 milhões. Os franceses caíram de 21 milhões para 14 milhões e a Alemanha de 14 milhões para 10 milhões. Os níveis demográficos só cresceram 200 anos depois.O século XIV se viu preso em esferas inflacionárias de proporções nunca vistas e a fome gravou na memória coletiva das pessoas as idéias de castigos, penitências entre outros medos e as guerras muitas vezes justificavam-se para a purificação da alma.
Faltou comida, não pela falta de terras ou ausência de mão-de-obra, pois os camponeses, que eram o sustentáculo de toda pirâmide social, eram quem sustentava a nobreza e o clero, haviam chegado no limite em que o acesso de terras a eles era permitido. Não tinham mais onde produzir alimentos e começou o que a história registra como o aparecimento de burgos( ou cidades), que em palavras simples foi o Exôdo Rural e preparou o terreno para a consolidação dos países e a Revolução Indústrial logo após. Já os senhores de terra não produzam mais alimentos simplesmente por que não queriam.Moeda não era a base de seu poder e glória.
Foi preciso muita luta e tempo para que na Europa do Norte, senhores e camponeses chegassem a um acordo fundado em novas relações de trabalho e de aceso a terra, liberando a produção das amarras feudais e permitindo seu crescimento exponencial. Em história Geral verificamos que esse fato marca o inicio do absolutismo monárquico, a consolidação do estado moderno , o fim da Idade Média e do poder dos donos de castelos e o período conhecido como AS Grandes Navegações.
Na Península Ibérica,ocorreu o contrário, optou-se pela manutenção do statusquo, apoiado na montagem de impérios coloniais onde se destacariam Portugal e Espanha com suas formas distintas de colonização e continuação de uma monarquia parasitária, de idéias atrasadas, de brigas religiosas fervorosas e da Inquisição.Esse modo de pensar e de agir ( ou melhor de não agir, de parar no tempo e apenas explorar os outros) foi a causa do atraso tecnológico e indústrial dos dois países que hoje não são mais do que países de perifeira, sem nenhuma importância no mundo.
O mais interessante nessa idéias é que esses ciclos inflacionários e de carestia ressurge hoje com as recentes altas no preços dos alimentos (o preço do trigo passou de 375 dólares para 900 dólares a tonelada, o arroz também aumentou e a população idem). Nos próximos anos a China terá mais da metade de sua população vivendo nas cidades, a África idem).
Importante notar que assim como os senhores feudais não queriam dar mais terra para os camponeses plantarem hoje o fenônemo de concentração de terras continua.E nossa política de conceder alimentos a populações inteiras não existe.
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