O subalterno pode falar? (Can the subaltern speak?)
(Gayatri Chakravorty Spivak)
Como o título sugere, esse artigo da intelectual diaspórica indiana, Gayatri Chakravorty Spivak, trata da possibilidade de fala do subalterno. É uma leitura crítica do diálogo entre Michel Foucault e Gilles Deleuze para explicitar como ambos sistematicamente ignoram a questão da ideologia e de sua própria responsabilidade na história econômica e intelectual. Defende o desconstrucionismo de Derrida, cuja morfologia considera muito mais cuidadosa e útil do que a de Foucault. Também considera Derrida mais imediatamente envolvido com assuntos mais ‘políticos’ – um intelectual que faz crítica radical ao perigo de se apropriar do outro por assimilação. Porém, o que de fato interessa aí é a discussão quanto à fala/silêncio do subalterno, bem como a questão levantada por Spivak em relação à consciência e à conscientização de resistência do subalterno. Desse modo, quanto ao subalterno, Gayatri Spivak defende que os que intentam reivindicar a subalternidade de fato estão incorporando formas outras de identificação ao discurso dominante. A possível maneira de colocar o subalterno para falar não é “doando-lhe voz”, ou falando por ele, mas permitir espaço para que ele se expresse de forma espontânea. É um dilema.Em “Can the subaltern speak?” (in: Colonial discourse and post-colonial theory: a reader. New York: Columbia University Press, 1994. p. 66-111), a paisagem da qual Spivak fala é a da colonização da Índia pela Inglaterra e seus desdobramentos na possibilidade de atuação de uma intelectualidade periférica, ou na possibilidade de fala do subalterno em geral. Também aborda a questão da consciência e da conscientização de resistência do subalterno, oferecendo em detalhes um exemplo concreto da cultura indiana tradicional – sati, sutee: o ritual de suicídio da viúva na pira funerária de seu marido para salvar seu próprio corpo em encarnações futuras – e sua representação tanto pelo discurso colonizador quanto pela sociedade hindu. Spivak conclui que o subalterno não pode falar, e que a posição da mulher subalterna é ainda mais grave. Para Spivak, a classe trabalhadora, por exemplo, pode ser oprimida, mas não precisamente subalterna, no sentido que ela aponta – subalternos são todos aqueles que não participam, ou que participam de modo muito limitado, do circuito do imperialismo cultural, sendo a mulher subalterna, nesse sentido, duplamente colocada na sombra. Desse modo, ao dizer que esse subalterno não pode falar, Spivak não afirma necessariamente que não haja ‘clamor’ ou protesto, mas que não chega a se estabelecer uma relação dialógica, ou melhor, não há um trânsito da voz entre falante e ouvinte. O subalterno de Spivak, é justo destacar, distingue-se daquele inicialmente definido por Gramsci (em seu Selections from the prison notebooks), que se referia aos oprimidos em geral, e ao proletariado em particular. Entretanto, permanecem os obstáculos e ambigüidades inerentes ao processo de construção de uma categoria de "subalterno", que agencie uma fala distinta, que possa fazer face tanto às práticas e estratégias coloniais quanto às tentativas de homogeneização dos vários matizes de subalternidade, conduzem Spivak a defender a impossibilidade de existência de um "sujeito subalterno" que se defina e fale por si próprio. Spivak conclui que o subalterno não pode falar, e que a posição da mulher subalterna é ainda mais agravada.
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