Carta PARA AMANDA
(NELSON PASCARELLI FILHO)
Nem sei o que te dizer. Vi tua foto ontem, eram duas horas da madrugada.Fiquei incomodado com tanta beleza e sensualidade. Desejei ainda mais querer-te em minha vida. Perdi o pouco sono que tenho. Refleti se estou amando a beleza que há em teu corpo ou o quanto te amo pelo teu caráter. Bem sabes tu que sou homem de tradições romanas, íntegro, trabalhador, provedor e culto, acostumado à fartura, não quero migalhas afetivas de ti, desejo-te por completo em meu coração e, se um dia tu me quiseres, prepararei-me para recebê-la, darei ao teu viver o melhor de mim. Muito eu terei que abrir mão, a tantos farei sofrer, e terás somente a ganhar. Eu sou único e tu bem sabes disto; eu não pertenço à imensa massa de pessoas previsíveis e medíocres que estão nesta humanidade apenas para ter prazer mundano. Considere, considere! Nem sei o que te dizer. Vi sua foto ontem e eram 2 horas da madrugada...Nem sabes o que tens me acontecido e como teu ser habita meu inconsciente. Há dois meses relaciono-me com uma jovem de 19 anos, linda, moleca e sensual, com a cabeça repleta de utopias; é divertido, mas é fútil. Então, ela adormeceu em cima de mim enquanto assistíamos a um filme tão fútil como ela. Eu também cochilei. De súbito, ao acordar e ver que as horas adentravam pela madrugada, disse-lhe: - Amanda, já é tarde, tua mãe ficará preocupada! Nem percebi a troca de nomes! Ela, que estava dormente, olhou-me com o seu olhar de imenso verde-caramelo-vidrado e disse-me: - quê? Amanda?! - Vamos! Sua mãe deve estar a te esperar. Insistiu: - Amanda? Do que me chamou? - Estás dormente, a sonhar, falsei. No dia seguinte, encontrava-se frívola; ela, que sempre foi menina-mulher tagarela e risonha, cobrava-me com o frio silêncio uma explicação. Silenciei diante do óbvio e a abracei ternamente. Sabe ela que não sou dela, sente isso a cada toque meu. E tu, Amanda, bem deves saber o quanto o vapor de ti está a esvoaçar dentro de mim, assim, como uma onipresença ameaçadora.Oh! Deus! São apenas nove horas de uma sexta-feira fria e cá estou a te escrever e a sentir e a re-sentir complexidades afetivas que não mais disposto a viver não queria, não! Considere, Amanda, considere!Nem sei o que te dizer. Vi sua foto ontem, eram duas horas da madrugada. Ninguém nesse mundo te amará como eu amo-te. Mas quem estou a amar? A beleza perecível que está em teu corpo? Melhor é apaixonar-se pelas lindas bailarinas de Degas. Releio todas as linhas aqui escritas e são apenas nove horas da matina, nem bebi meu café com amendrados e o meu coração está a pulsar em mil letras. O soturno vizinho põe a tocar um dolente tango, canta a dor junto do velho Gardel, parece ele saber o que estou a sentir, como se as paredes tivessem sido transpassadas pelo nobre sentimento que estou a nutrir por ti, desde que a vi em meio a tantas obras de artes eu a elegi para mim. (Quem é esse louco que ouve um tango, uma milonga, às nove horas da matina? Alguém que ama a dor de amar: Mera compaixão de um franciscano que vive a beijar as chagas alheias).Considere Amanda, considere Amanda...Nem sei o que te dizer. Vi sua foto ontem, eram duas horas da madrugada...Desejei ainda mais querer-te em minha vida... ainda mais, ainda mais...Amanda, seu nome no gerúndio é-me tão torturante quanto a idéia de infinitude. Considere.Saber mais: www.pascarellisciensead.com.br
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