The doors. Jim Morrison: música, drogas e mito
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The doors, o filme, aborda a trajetória do grupo homônimo de rock'n'roll, centrando as atenções em seu vocalista, Jim Morrison. Na verdade, a vida de Morrison é apresentada desde os tempos de estudante de cinema em Los Angeles até sua morte em Paris, aos 27 anos, em 1971. “The doors”, a banda, foi uma das mais importantes de seu tempo, mais até do que os Beatles e os Rolling Stones, para a caracterização do rock como expressão de rebeldia e transgressão dos valores estabelecidos, com a devida licença da crítica cultural autorizada. Como um meteoro, com sua fama construída em apenas quatro anos de atuação, Jim Morrison representa, no meu modo de ver, o mergulho de cabeça no inconsciente e no fluxo da potência de prazer suicida. Não faço crítica de cinema. De modo geral, entretanto, é um filme a ser apreciado como uma peça musical, uma performance teatral, um quadro ou um jogo. Sem 'autorização' canônica, como Jim Morrison teria recomendado, sem os percalços da dependência da indústria de 'cultura' americana ou alienígena. Desse modo, a figura de Morrison é o que me interessa enfatizar. O filme é a memória (direção de Oliver Stone, EUA, WGA, 1991). O que realmente indica a qualidade de uma produção dessas é o prazer que ela proporciona, a profundidade existencial ou a plenitude artística (o que quer que venha a ser), utilizando a recepção perceptiva de um mortal comum para atingir o absurdo, o nada, o inconsciente, o "ninguém-sabe-o-quê", para além do "estar-aí". Assim, Morrison se deixou levar por esse fluir da quase-loucura – e o espectador corre o risco de ir com ele – de uma forma bem diversa daqueles que viveram nessa época de maior turbulência espiritual. O estopim dessa jornada ao centro do absurdo alucinógeno é a viagem que Morrison convence seus colegas de banda a fazerem para o Vale da Morte, onde experimentam os efeitos hoje largamente conhecidos das drogas psicodélicas. O comportamento de Morrison pode ser descrito, por certa perspectiva, como ingênuo, fraco e até mesmo irresponsável, por deixar todo o seu absurdo existencial atingir seu público, agredindo-o. Aí imagino a divisão da sociedade em dois polos principais: aqueles que são bons e sãos, e os outros que são doentes e desajustados. Imagino um público inofensivo, vulnerável e frágil diante de um Morrison questionador, agressivo, se masturbando ou mostrando seu pênis no palco. São imagens que o cinema podem fazer parecer mais contundentes. É possível que esse público não consiga dormir à noite com aquela cena 'violenta' na cabeça. Ainda sobre o comportamento desse herói pop underground, ao passo em que a banda “The doors” ia ficando famosa, Morrison se tornava, à Dorian Gray, cada vez mais apaixonado por sua própria imagem, o que o levou à degeneração pelo álcool e pelo vício em drogas. Se Morrison morreu muito jovem, por displicência com o corpo ou por "asfixia existencial" (termo a ser patenteado!), não é por isso que eu direi que sua vida é essencialmente mais válida ou melhor do que a de um de seus fãs, que eventualmente ainda esteja vivo, sadio, respeitável e agregado. Se o pecado de Morrison foi se entregar à sensibilidade que o levou a assumir o inconsciente mais pastoso e a morte como estética de vida (ou ética), então todos têm algo de pervertido. E o filme se torna altamente recomendado para essa reflexão. Se o ser humano é uma combinação de inconsciência e matéria, além de seus acessórios, Morrison quis negar seu lado material, sua máquina corpórea - pelas drogas, inclusive -, levando-o à desestabilização e à negação da condição humana, enquanto um equilíbrio instável entre corpo e espírito. O final do filme, como em geral, nesses casos, na biografia concreta, é previsível. Mas o cinema é arte, portanto.
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