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Amar, Verbo intransitivo
(Mário de Andrade)

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Esta obra foi publicada em 1927, ela chama a atenção por vários aspectos. Primeiramente, a linguagem, provavelmente considerada “errada” na época, pois se afasta do português clássico ao imitar o padrão coloquial brasileiro, o  modo de falar do povo. Outro aspecto interessante é o emprego constante das digressões, que  lembra o estilo machadiano. A obra apresenta elementos formais que a colocam à frente de seu tempo, caracterizando-a, portanto, como moderna.

Critica o povo brasileiro, principalmente o paulistano. Essa critica de valores brasileiros, ao mesmo tempo que diz que é a nossa forma de comportamento, deixa subentendido um certo ar de “não tem jeito”, “somos assim mesmo”. Além disso, ao mesmo tempo em que elogia o estrangeiro, principalmente a força dos alemães, desmerece-os ao mostrá-los como extremamente metódicos, ineptos para o calor latino. Sem mencionar que reconhece que o imigrante está sendo como que simpaticamente absorvido por nossa cultura.

Porém o que mais chama a atenção é a utilização da teoria freudiana (grande paixão do autor) como embasamento da trama. A história, classificada como idílio (história de amor leve e poético), é sobre a iniciação sexual do protagonista, Carlos Alberto. Seu pai, Sousa Costa, preocupado em prepará-lo para a vida, contrata uma profissional para isso, Fräulein Elza (o grande medo de Sousa Costa é que, se seu filho tivesse sua iniciação num prostíbulo, poderia ser explorado pelas prostitutas ou até se tornar toxicômano por influência delas). Oficialmente, ela entra no lar burguês de Higienópolis para ser governanta e ensinar alemão aos quatro filhos do casal Sousa Costa-D. Laura.

Outros aspectos. O tema é completamente inédito em nossa literatura e deve ter sido motivo de certo escândalo em sua época. Além disso, a iniciação sexual tranquila e segura é vista como garantia para uma vida madura e até para o estabelecimento de um lar sagrado. Interessante é que Fräulein (em alemão significa “senhorita”, mas também “professora”) realiza seu serviço com dignidade, não enxergando relação com prostituição. É um elemento que destoa do olhar de Sousa Costa e até do próprio narrador. Além disso, esse disfarce, meio hipócrita, de Fräulein ser na aparência governanta, revela a complexidade em que a sexualidade humana está mergulhada (as teorias freudianas). Há aqui um jogo de querer e esconder, negar e afirmar, que será a relação que Elza estabelecerá naquela casa.

A atitude de Sousa Costa de contratar uma profissional do amor para realizar os serviços debaixo do seu próprio teto revela determinados valores da burguesia da época. São ricos que ainda não tem, no entender de Mário de Andrade, estrutura para merecer seu presente status. Nesse aspecto o autor mostra-se bastante cruel. Críticas à burguesia paulistana e à sua mania de tentar ser o que não é ou esconder o que no fundo é. O fato é que Carlos realmente precisava ser educado. Constantemente ao brincar com suas três irmãs mais novas acabava, sem querer, machucando-as. Há aqui toda uma conotação freudiana, mas o que mais importa é entender que o protagonista fere porque não sabe controlar sua força. É um desajeitado. Nesse aspecto sua iniciação será importante, pois servirá para domar seus impulsos, sua energia, sua afetividade.

Fräulein tem plena consciência disso. Quer ensinar o amor em sua forma tranqüila, sem descontroles, sem paixões. O problema é que o garoto é aluado. Por mais que Elza se apresente, se insinue, ele não percebe. A noção de prazer e pecado, de o instinto desejar algo, mas a educação e a formação religiosa marcarem isso como condenável, é outro elemento muito analisado por Freud). O jogo da sedução continua, veladamente, até que o garoto toma consciência, portanto, de que a deseja O contato corporal é mais intenso, o que assusta Carlos. Medo e desejo. Delicadamente Fräulein vence. Inicia, ainda que sensualmente, Carlos. Mas em pouco tempo a iniciação sexual torna-se efetiva. O garoto passa a freqüentar de noite a cama de Elza.

Os dois acabam assumindo uma cumplicidade gostosa, o que indica o amadurecimento de Carlos. È uma situação preocupante, pois Fräulein acaba se envolvendo. Preocupada em não perder controle da situação, decide acelerar o término de sua tarefa. Quer que tudo termine de forma dramática, pois acredita que a lição sentida no corpo é mais efetiva. O trauma amadurece. Acerta com Sousa Costa um flagrante. Ela recebe seus oito contos, parte, mergulhando Carlos num luto monstruoso. Faz parte de seu crescimento.

Fräulein tem um misto de emoções ao ver Carlos na rua, no carnaval. Ao mesmo tempo em que seu lado sonhador sente-se frustrado, o rapaz, depois do que ocorreu, mostrou-se frio. Ela sente-se realizada ao lembrar de todos os que iniciou, os que ensinou o amar, intransitivamente, ou seja, a amar não importa qual seja o objeto, o alvo. É como se quisesse ensinar que o mais importante é aprender a amar intransitivamente para depois poder amar alguém, transitivamente. Vê-se, pois, como a mãe do amor. Transforma-se em um arquétipo, um mito.



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