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O velho que lia romances de amor
(Luís Sepúlveda)

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  António José Bolívar Proaño, casou aos quinze anos, com Dolores Encarnación del Santísimo Sacramento Estupiñan Otavalo, em San Luis, junto do vulcão Imbadura. Como passados três anos Dolores não engravidava, começaram a ser alvo da má língua local, e por isso, quando ouviram falar de um plano de colonização da Amazónia, resolveram partir. Depois de uma viagem  muito atribulada, chegaram finalmente a El Idílio, onde lhes deram dois hectares de floresta, machetes, pás e algumas sementes, para construirem uma choça e trabalharem a terra. No entanto, o trabalho revelou-se difícil, sobretudo devido às chuvas constantes que arrasavam as colheitas e à malária, doença a que Dolores não resistiu...
   António José Bolívar, ficou só, desesperado e principalmente odiando profundamente a floresta! Quem lhe valeu, foram os xuar, o povo da Amazónia que o acolheu e o ensinou a caçar, pescar e com o tempo a amar aquela terra... Foram também eles que o curaram de uma mordedura de uma víbora xis, e, depois de curado, o autorizaram a ficar, adoptando-o como sendo um deles. E ele ficou...
    Um dia, uma enorme explosão ecoou no rio matando inúmeros peixes e destroçando os xuar! Eram homens brancos munidos de armas de fogo que, assustados pela chegada dos índios, dispararam acertando em dois deles, um dos quais o seu compadre e grande amigo Nushiño . Chegara a altura de pagar a dívida que tinha para com eles... Por isso, foi atrás do homem branco, encontrou-o, atirou-lhe com a zarabatana mas não lhe acertou, percebendo então que estava velho! Então, saltou para cima dele, tirou-lhe a espingarda e atirou matando-o... Os xuar desataram a chorar. Ele acabara de mudar a sua vida. Tinha que partir pois desonrara o seu compadre e o povo xuar ao matar o homem com uma arma de fogo impedindo-o de se defender... Devia tê-lo feito com um dardo envenenado, permitindo-lhe lutar como um valente, expressão que ficaria para sempre retida pela paralisia provocada pelo curare. Assim, deixava de ser bem vindo às aldeias xuar...
    Regressou a El Idílio  onde se apercebeu dos constantes massacres que os gringos faziam à floresta, devastando-a e matando abusivamente os animais. Foi também nessa altura que descobriu que sabia ler...mas não tinha que ler! Então, um dia, ao conversar com um padre que apareceu por aquelas bandas, apercebeu-se que havia milhares de livros no mundo, sobre muitos assuntos, sobretudo que havia livros que falavam de amor! Por isso, apanhou alguns casais de micos e de papagaios para vender, e foi pedir ao mestre do Sucre, o barco que trazia as provisões para El Idílio,para o levar até El Dorado. Aí viveu durante cinco meses, pernoitando na escola, onde havia uma biblioteca com cinquenta volumes, entre os quais O Rosário de Florence Barclay que era um livro de amor. A professora emprestou-lho e ele regressou à terra levando-o consigo para o ler vezes sem conta... Mais tarde, o dentista que ia duas vezes por ano a El Idílio, sabendo da sua paixão por ler romances de amor, passou a trazer-lhos, emprestados de uma prostituta, que, também ela, gostava de livros de amor.
     Certo dia, os xuar trouxeram à aldeia um gringo morto. António José Bolívar, analisou os ferimentos e, com o seu olhar experiente, chegou à conclusão que tinha sido obra de uma onça fêmea, a quem provavelmente tinham ferido o macho e morto as crias, já que dentro da mochila do homem havia  peles de onças pequenas... Nos dias seguintes, apareceram mais vítimas. Por isso, resolveram fazer uma batida para apanhar a onça e o administrador intimou o Velho a acompanhá-los. Saíram cedo, sob as  suas indicações, mas perdendo várias oportunidades de a apanhar devido à precipitação e falta de experiência do administrador, que, cansado de ser gozado pelos homens, entregou a tarefa a António José Bolívar , a troco de cinco mil sucres.
     Assim, e apesar de não se interessar pela recompensa e de achar que o animal tinha razão, o Velho ficou... Sabia que ela andava perto... Viu-a passar entre as árvores, para cá e para lá, observou-a e percebeu que a onça esperava pela escuridão para o atacar... Esperou que ela iniciasse novamente a volta e deitou a correr rapidamente em direcção ao rio... No entanto, ela foi mais rápida e empurrou-o pela encosta abaixo... António ficou à espera de novo ataque, mas apercebeu-se que a onça se sentara e o olhava rugindo tristemente... De repente, viu o macho gravemente ferido, mal respirando e sofrendo e aí percebeu... A fêmea queria que ele acabasse com aquele sofrimento... E ele assim fez. Afagou a cabeça do animal, preparou a espingarda e disparou. 
     Depois,encontrou uma canoa virada ao contrário e meteu-se debaixo dela. A meio da noite, sentiu o animal caminhar por cima da canoa, para lá e para cá... Depois, pelas frinchas da madeira sentiu escorrer um líquido pestilento, urina... Ela estava a marcá-lo... Quando a claridade raiou, o Velho resolveu acabar com aquilo... Pegou na arma, apontou por uma nesga, e disparou, ferindo a onça numa pata, mas também o seu próprio pé. Estavam em igualdade! Virou a canoa e esperou o salto fenomenal da fêmea... Quando chegou ao ponto mais alto do salto, ele disparou e a onça caiu aos seus pés!
      O Velho ajoelhou junto dela e chorou... Chorou pela maldade dos homens, pelo belo animal que matara, pela destruição da Amazónia... logo ele que só gostava de romances de amor!!!      
 



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