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Cartas a Théo
(Vincent Van Gogh)

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"Cartas a Théo" reúne as 200 mais importantes missivas enviadas por Vincent a seu irmão mais novo, Théo. A primeira edição foi publicada em Paris, por Georges Philippart, na década de 1930. A presente edição em formato pocket, traduzida para o português por Pierre Rupretch, é uma versão ampliada, anotada e ilustrada, sobre a anterior, também lançada pela L&PM, em 1997.

É difícil descrever em poucas palavras a grandiosidade da vida do pós-impressionista Vincent Van Gogh, um dos maiores pintores de todos os tempos, mas que vendeu apenas uma tela, em vida  - o comprador foi o seu irmão Théo. A grandeza de Van Gogh percebe-se, ao longo da leitura das cartas, é sustentada pela simplicidade, a sabedoria, a espiritualidade, a benevolência, a compaixão, a sensibilidade e muitos outros bons atributos que poucos seres humanos são dignos de ostentar.

Não é possível saber, por meio das cartas, qual era afinal a loucura de Van Gogh. De quantas sinapses a mais ou a menos se faz um gênio. Nem se sua criação nos primeiros meses e anos de vida, pelos cuidadores primários (dos quais pouco ou nada se fala), foi falha em algum aspecto ou não. Fica clara, no entanto, sua obsessão pelas cores e seus mil tons, saindo da palheta primária e partindo para a exploração das possibilidades infinitas  - aliás, pesquisa e descrição obsessivas, minuciosas e profundas dos tons podem cansar o leitor desinteressado pela técnica; mas também podem indicar um sintoma autista (no espectro das esquizofrenias) em Vincent, pela alienação (em relação ao entorno) que o trabalho exigiu ao longo de vários anos da curta vida do artista.

Pode ser que a "quebra" psíquica de Van Gogh, típica nas psicoses (autismo, esquizofrenia, bipolaridade), se evidencie na concretude com que lidou com a quebra das cores em milhares de tons, como nenhum outro pintor fez. E, ainda, na quebra representada pelas pinceladas diminutas que compõem cada uma das suas grandes obras. Se mais ou menos compostas de cada vez mais e menores fragmentos, ao longo da evolução de sua doença, não tenho dados e observação suficientes para sustentar tal hipótese.    

Hoje, especialistas em psiquiatria acreditam que Van Gogh padecia de Transtorno Afetivo Bipolar (TAB), diagnóstico que, à época, não existia. Lendo as cartas, nota-se no humor do artista períodos de mania em que trabalhava dia e noite, quase sem tempo para dormir ou cuidar de si - alimentação, higiene etc. E percebe-se, também, períodos de depressão melancólica, quando não surtos causados por perdas afetivas, sempre marcadas pela necessidade de internação.  

O episódio da amputação da orelha é causado por uma desavença com Paul Gaugin, às vésperas da partida do amigo. Os dois dividiam o ateliê de Van Gogh e já há algum tempo enfrentavam crises diárias na dinâmica do relacionamento. Numa noite, Van Gogh perde o controle emocional e se autoflagela, como se quisesse chamar a atenção para si, suprir sua carência via chantagem emocional, tentando impedir a viagem do amigo. Mas, mais do que isso, a passagem ao ato, por hipótese, estava gritando "não quero ouvir mais nada que venha de você; não quero mais que você entre em minha casa psíquica; ou o contrário: retiro a 'porta' do meu ouvido pra que você entre mais profunda e intensamente". Quem saberá?  

Além da atuação no concreto (ou passagem ao ato, como foi o corte da orelha e o suicídio), outro traço de TAB é a megalomania de Van Gogh que, mesmo sem reconhecimento da crítica em geral (obteve apenas um artigo favorável a sua obra, durante a vida), se considerava o melhor entre todos os demais, famosos já no seu tempo e até hoje. Em nenhuma carta a Théo, Vincent refere-se a algum deles como gênio.
 
Com razão, Van Gogh foi insuperável em ao menos dois quesitos. A descoberta de tons onde ninguém via mais do que o trivial da cor. E nas pinceladas pós-impressionistas, que nenhum outro artista jamais conseguiu reproduzir. Esta fase, porém, mais tardia, pode indicar forte influência da evolução da doença sobre sua obra, que então se fazia de mínimos fragmentos para formar um todo, mas sempre sem o fio do contorno. Como se fosse uma projeção do seu estado psíquico sobre a tela: despedaçado, frágil, sem margem, delirante e alucinado e à beira, para não se precipitar no real  - o que acabou acontecendo, pelo suicídio.  Talvez e por isso mesmo, por meio destes quesitos, traços cada vez mais geniais e fora dos parâmetros de então, considerados "normais".



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