O Idiota.
(Fiódor Dostoiévski.)
É difícil começar alguma coisa. Quando nos propomos a fazer algo, o começo, com certeza, é o que mais perturba. Deve ser assim com a maioria das pessoas. Ficamos na ansiedade de um começo bom com a sensação de que, se começarmos bem, o resto também vai ser pelo mesmo caminho.
E é assim, falando sobre difíceis começos (como se eu viesse de uma longa viagem de trem, morrendo de frio e sem nada para me proteger) que inicio minhas impressões sobre um dos livros mais importantes do romancista russo, Fiódor Dostoiévski: O Idiota.
Sinceridade que, se alguém me perguntasse se eu recomendaria esse livro eu diria que... Não. Contraditório, porque gosto muito de Dostoiévski e sempre fico fascinada pelas suas narrativas complexas.
Mas o caso é que ele consegue massacrar seu leitor. Ele não tem pena dos que se propõem a lê-lo . Não exagero em dizer que essa leitura foi a mais penosa e angustiaste de minha vida. Foi um difícil começo, pensei em parar umas vinte vezes, mas mesmo assim, varei noites a dentro com o objetivo de terminá-lo.
O idiota, no caso, é um príncipe sem cetro e sem dinheiro. Epilético e de uma bondade tão extrema que somente a palavra "idiota" o define para as personagens ao seu redor. E isso é o mais angustiaste, ver aquele homem se deixar maltratar pelo simples fato de saber perdoar, sim… porque ele sabe que o enganam, sabe que não gostam dele e mesmo assim ele oferece a outra face, como Jesus. E essa não é uma alusão minha não, é do próprio Dostoiévski, referências a Bíblia é o que não faltam em O idiota.
Agora, o que torna mais penosa a leitura desse livro, fora as mais de 600 páginas e discussões filosóficas, políticas e econômicas que o autor desenrola com paciência, é o fato de você não suportar a bondade do príncipe e, em certos momentos, se dá conta disso. Ora, ser contra a bondade? Por mais extrema que ela possa ser é bondade, é perdão, é amor, capacidades humanas que nós tanto reclamamos a falta e que de repente, lhe ultrajam de uma maneira tão vil.
Existiram momentos que eu pensei que o príncipe podia quebrar a cara de um, se vingar de outra, ou mandar uma pessoa para o inferno. E eu queria isso porque, naquele momento, perdoar para mim era um ultraje ao… orgulho. E quando eu me percebi pensando isso foi que eu tive a certeza que o ser humano não tem a capacidade de fazer a bondade de uma maneira plena sem que, para isso, exista muito esforço dele numa renuncia dos instintos que nos controlam disfarçados sob o manto da civilização, seja lá o que isso signifique.
Mas a genialidade de Dostoiévski não está aí, a genialidade está em você, ao final de tudo, perceber que ele mostra que idiotas são aqueles que rodeiam o príncipe, com seus atos contraditórios e egocêntricos, em tudo tão parecidos a nós.
No final você percebe que os idiotas somos nós.
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