Resumo de Tempestade de Gelo -

O cineasta Ang Lee focaliza duas famílias no estado de Connecticut num período de mudanças de valores que desmantelou o “sonho americano” da revolução dos anos 60 e abriu espaço para o individualismo, a indiferença e a insatisfação que dominaram os anos 70 e 80 do século XX: um momento entre o fim do desejo “hippie” e as primeiras pinceladas do advento da era dos “yuppies”. Tudo questão de nomenclatura, adversa e contestável. Contudo, a película de Ang Lee, lançada em 1997, trata de casais em crise, adultério, apatia e curiosidade sexual. Acompanhamos o jovem Paul (Tobey Maguire) universitário em Nova York (que sente atração física por uma colega vivida por Katie Holmes) que volta para casa, na cidade de New Canaan, pouco antes, das comemorações do dia de Ação de Graças, nos primeiros nos da década de 70, ainda com Richard Nixon na presidência e o escândalo Watergate no auge. O pai de Paul, Ben Hood (Kevin Kline) tem um caso com a vizinha Janey Carver (interpretada por Sigourney Weaver); uma relação de infidelidade, só que marcada pela frieza e pela incomunicabilidade dos amantes. Paul é casado com Elena (a ótima Joan Allen). A relação deles está esmorecendo, há muitos segredos, falta de entusiasmo e uma densa barreira que os impede de trazer à tona os problemas conjugais. A filha do casal Wendy (Christina Ricci) transita entre o interesse e o descobrimento do sexo com os filhos do casal Carver, Sandy (Adam Hann-Byrd) e Mikey (Elijah Wood). Wendy, ora deixa-se atrair por um, ora seduz, marca encontros furtivos com o outro, ou é flagrada pelos pais, envolvida com um dos meninos em momentos eróticos. No dia de Ação de Graças, os relacionamentos dos adultos e dos adolescentes ganharão contornos definitivos, sufocantes e trágicos.
“Tempestade de Gelo” é um filme árido, em certos instantes cruel, pois evidencia a lacerante dificuldade que o ser humano tem em se comunicar e de obter satisfação: o que compromete a sinceridade, a honestidade e o dom da entrega aos desejos ou ao amor de maneira límpida e incondicional.
O ritmo letárgico combina imagens assépticas e diálogos que transitam entre o cortante e o provocativo. Todas as personagens têm sua responsabilidade nos desprazeres que vivem e tentam todas as maneiras de fuga: Ben no caso com Janey, Wendy em seus jogos de sedução em meio a uma turbulenta revolução sexual, Paul na tentativa de conquistar a colega ricaça, Elena na cleptomania ou num flerte ligeiro. Porém, todos estão entediados à espera que algo aconteça. E o rumo das coisas, proporciona um final devastador, que expõe a tristeza e o complexo funcionamento das famílias e da mente humana. Ang Lee criou um retrato preciso, inquietante e franco de um período que nos acompanha até hoje em pleno século XXI.

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