A Liberdade é Azul
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Julie Vignon (Juliette Binoche) é
a única sobrevivente de um terrível acidente de automóvel que vitimou seu
marido – um célebre compositor de música clássica – e sua filha de cinco anos.
Abalada, ela pensa em suicídio. Mas não consegue engolir os comprimidos. Então,
logo após receber alta do hospital, Julie muda completamente de vida; coloca a
casa à venda, garante financeiramente à vida da mãe do marido, dos empregados e
da sua genitora, que tem Alzheimer e vive em uma clínica, e, depois, se muda
para o subúrbio de Paris. Tudo porque conclui que não vale a pena construir
laços afetivos, pois a vida é frágil e as coisas se findam de uma hora para
outra. Por isso, Julie se recusa em envolver-se romanticamente com Olivier –
compositor e amigo da família – e se livra de partituras escritas pelo marido
para um grande concerto que celebraria a unificação da Europa.
Porém, um fato transtorna o
calculado isolamento de Julie. Após saber, em um programa de TV, que cópias das
partituras estavam em poder de Olivier, ela vê exibidas na emissora, fotos da
vida do marido, e entre esses retratos, a imagem dele com a amante. Julie a
procura, e descobre que a jovem está grávida. Então, ela começa a auxiliar
Olivier no término da composição que o marido escrevera. Ao mesmo tempo, estreita
uma relação, travada no prédio onde reside, com uma jovem dançarina de um night club acusada de prostituição por
alguns moradores. Aos poucos, aceita a gravidez da amante do marido (apesar de
toda decepção) e concede espaço para Olivier entrar em sua vida.
Krzysztof Kieslowski iniciou em
1993, com “A Liberdade é Azul”, uma trilogia baseada nas cores da bandeira
francesa. Nesta obra, o aterrador sentimento da perda, a ausência da família
que proporcionava um sentido para a vida, é captado com excelente uso da música
– cada composição executada desvela a sensação da personagem, como um
caleidoscópio que revela uma imagem; as cenas fragmentadas (que recorrem
extensivamente ao fade out) e o
silêncio incômodo e poético desnudam a tristeza e o desamparo emocional.
O “azul” de Kieslowski é o
processo de retomada da vida; o “azul” representativo da generosidade, da
bondade, de uma placidez capaz de absorver a profunda dor da incompreensão. O
“azul” das coisas, do fundo da piscina, do maiô de Julie, do lustre que enfeita
o apartamento. Um “azul” que invade e se metamorfoseia na cor da
reestruturação. Um horizonte que acomoda uma melancólica esperança. O tom é
soturno, requer do espectador que se abra à liberdade de um olhar criador, à
beleza de um gesto de reconhecimento.
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