Resumo de A Fraternidade É Vermelha -

Em 1994, Kieslowski entregou a última
parte de sua trilogia das cores da bandeira da França. “A Fraternidade é
Vermelha” acompanha Valentine (a deidade Irène Jacob), uma jovem modelo suíça,
que mantém um relacionamento à distância com um homem aparentemente rude e
ciumento, e tem uma vida familiar atribulada, pois seu irmão mais novo
descobriu um impactante segredo, e vislumbrou no uso de drogas um refúgio para
seu deslocamento. Um dia, ao voltar de uma sessão de fotos, Valentine atropela
uma cadela, cuja identificação a conduz à casa de um juiz aposentado
(Jean-Louis Trintignant), que rejeita atender o animal ferido e parece
indiferente e amargo. Valentine, após levar a cadela ao veterinário, tenta
devolvê-la ao seu dono, que novamente a recusa. Porém, o juiz havia enviado
dinheiro para custear o atendimento do pastor alemão. Valentine devolve a
quantia excedente, como o homem demora a voltar com o cheque do valor exato,
ela entra na residência e descobre que ele ouve, com o auxílio de grampos os
telefonemas da vizinhança inteira. Valentine repudia o ato do juiz, o censura,
mas sente certo fascínio. Mas, a sua repulsa é mais forte que a atração; ameaça
delatar o “divertimento” do juiz para os vizinhos. Ela tenta levar o seu
intento até o fim, contudo não consegue. Um dia, a cadela foge de Valentine, e
se dirige à casa do juiz. O reencontro dessa vez é menos árduo, e Valentine vai
aos poucos quebrando a resistente armadura do velho homem do poder judiciário.
Até que um dia, o juiz se entrega à polícia e conta aos vizinhos o crime que
praticou: invasão de privacidade. Motivado pela simpatia que sente pela modelo,
o juiz abandona o casulo de amargura e se rende a amizade e afeição que a jovem
lhe apresenta
Paralela, a história de
Valentine, acompanhamos o romance de um estudante de Direito, Auguste, com uma
jovem (residente da mesma rua do aposentado homem da lei) que trabalha num
serviço de meteorologia. A relação de Auguste com a moça recorda um triste
enlace romântico do juiz no passado, relembra os planos para o futuro, a
decepção, a infidelidade, a falta de explicação, além da justificativa que
evitasse o dissabor e a queda no desgosto. Desabafo que a modelo suíça ouve com
sincera atenção, e assim dá o último nó na costura da amizade. Uma viagem que
Valentine fará a bordo de um navio para a Inglaterra dará o desfecho da
trilogia do polonês Kieslowski.
O vermelho explode na tela em “A
Fraternidade é Vermelha”. A cor está nas roupas de Valentine, nos cenários, nos
carros. O vermelho do sangue das relações humanas, dos encontros e dos
desencontros. A circulação do líquido vermelho motivada pela afeição, pela
curiosidade, pelas dúvidas, pelas escolhas. Kieslowski intercala sua película
com música clássica, pontuando o silêncio com imagens que mesclam o vermelho e
o turvo. Contudo, “A Fraternidade é Vermelha” possui mais diálogos que suas
obras irmãs. A ética, o direito, as emoções, as relações pessoais e a verdade
são temas que transitam entre os telefonemas que Valentine recebe do namorado
do exterior e as conversas da jovem modelo com o juiz aposentado.
Kieslowski, no fim, nos lembra
que apesar de sentimentos nobres e contraditórios que nos alvitra e nos move,
os desastres e as tragédias são partes imanentes da vida. Entretanto, esses
mesmos sentimentos nobres e contraditórios, nos fazem permanecer, sobreviver no
(ao) mundo. Kieslowski parece querer abraçar a Europa, com personagens de
diferentes nacionalidades que têm em alguma capital o seu ponto de partida ou
gravitacional. Porém, ele consegue tornar suas obras uma saudação aos
sentimentos universais do amor, da equidade e da cumplicidade. O que a
revolução francesa traçou e o Iluminismo esboçou como direitos que não podem
ser outorgados a outrem, e somente pertencem a cada um, são vividos num
cotidiano de encontros, desafios, tristezas e reestruturações.

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