Rosa Mistica
(Frei Francisco da Simplicidade)
Após o nascimento, aquela pequenina, desde os primeiros vagidos era possivel dislumbrar o timbre de vóz que possuiria mais tarde, tambem pudera, filha de uma corista, bebera musica no leite. Com dezoito anos, na explosão da sua esperança, teve como todos nós, a infelicidade muito humana de amar. Más como não amar, ela que nascera para enlevo da arte, do drama, do palco, do canto, da poésia? Depois ela possuia uma voz tão linda, tão delicada! Amo-a. Pobre corista! Por mais divino que fosse o seu amor, não tinha o poder mágico de transformar pedrouços em moedas de ouro e a sua minguada bolsa de artista novata não pôde competir com outras que apareceram tintilantes, muito mais cheias, embora a mão que as ofertasse, não tremesse do mesmo afeto que a sua. E ela, fragil como todas as mulheres vaidosas, esqueceu-se, deslumbrou-se dela, dos juramentos feitos de ama-la só a ela, a ninguem mais; desprezou as lagrimas derramada a seus pés as vigilias passadas de sob a sua janela, o seu tormento infernal, para fugir com o outro enganador. Ah! que destino existe, ás vezes, oculto nas letras de um nome... Rosa!... sim, tôda perfume para o rival!... toda espinhos para o único que lhe dedicava tanto amor! Como poderia haver sorrisos naquela mocidade infeliz? Como cantar nos coros se a seu lado, só a sombra dela, a sombra do ela fôra, lhe projetava a treva dolorosa da desilusão inesquecida? Como continuar naquele teatro, cuja a lembrança lhe era uma angustia, um pesadelo, um sepulcro? E um dia, cheio de tristezas nas olheiras profundas, com um diluvio de magoas a gotejar-lhe dos olhos, na capela de Santa Clara Dolorosas. Como de mal algum não há que se regozige, daquela angustia de Frei José raiou para o convento uma grande alegria; doravante, a capela regorgitaria de fiéis trazidos pela belissima voz do novo Frade cantor. Conheci-o já velho e expatriado, sob este céu calmoso do Brasil. Gostava imensamente de acercar-me de Frei Jósé, tão artista em tudo, até no simples falar cotidiano. Nas tardes de maio, cressia o meu fervou, aprimorando-se na voz bem timbrada, sonora ainda, um pouco tremula, apenas, nos registros agudos. Todo o seu prazer, a sua gloria toda, a sua santa vaidade, se resumia em ser o solista das ladaínhas da Virgem. Tirava as invocações com alma e fé; todas lhe saíam cálidas, volumosas, quentes, como se passassem por um brasido ou por lumaréus. Todas lhe saiam, assim, mas quando chegava aquela "ROSA MÍSTICA" - oh! punha-se na ponta dos pés, alçava-se todo, como a esforçar-se por arremassar até o céu a sua voz que retumbava pelo templo. transmutada, cheia de tremores, delíquios, tal qual se arrojasse através de uma golfada de sangue ou de lagrimas. O proprio compaço musical se alterava e todos nós comoviamos diante daquela angustia rediviva. Num crepusculo branco, perguntei-lhe por êsse romance e contou-mo todo, teatralizando-o, revivendo os trechos de ópera cantados juntos, os sonhos dessa época romântica, os desenganos desse tromento inesquecivel..."Minha Rosa!... Hoje minha Rosa Mística, porque o meu amor já te purificou na terra, já te fez santa o meu martirio de tantos anos!" Quando morreu, Eugenia, Cobri de rosas o seu corpo de martir. Na pauperrima campa do seu ultimo sono, plantei roseiras que sob a benção deste clima divino da nossa terra, o revestem de pétalas todos os dias, Sou talves a única pessoa, que recorda ainda. Cada vez que ouço essa invocação da litania: - "ROSA MÍSTICA!" É quase chorando que respondo - Orai por Ela. Tu meu amor, faze o mesmo em memória de mais esta vitima do coração, que nasceu para amar e ser ludubriada oela ambição, pela vaidade de mulher.
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