O que é o cérebro?
(Mica 68)
O que é o cérebro? Esta parece ser uma questão que desde há muitos séculos preocupa o ser humano. O ser humano foi tomando consciência que era capaz de agir, de sentir e de pensar. Isso despertou nele a curiosidade de saber o que era essa capacidade e onde estava situada.
Há vinte e cinco séculos, Hipócrates, o lendário pai da medicina, propôs uma resposta (Fincher, 1994, p.39): “ não somente o nosso prazer, alegria e riso mas também desgosto, dor, luto e lágrimas provêm e apenas dele. (…) é com ele que pensamos e compreendemos, vemos e ouvimos distinguimos o belo do feio, (…) o bem e o mal”.
No século V a.c. não havia acordo entre filósofos e médicos, uns privilegiavam a matéria, outros, o espírito. Em relação à localização da psyche Hipócrates considerava que estava no cérebro, enquanto Empédocles afirmava estar no coração. Algum tempo depois Platão estabelecia a distinção entre corpo e alma, entre razão e sentidos; estabeleceu uma hierarquia entre as faculdades em função do valor que lhes atribuiu: colocou em primeiro lugar a inteligência, em seguida o coração e depois o desejo, os apetites considerados inferiores.
Já Aristóteles considerou que a alma não era substancialmente diferente do corpo, embora as suas funções: a alimentação, a sensação, a motricidade e a intelecção, fossem similares. Defendeu a hipótese cardiocêntrica e considerou o cérebro como um sistema de arrefecimento do sangue e do coração.
Galeno, médico grego do século II, completou a doutrina de Hipócrates ao distinguir quatro temperamentos e ao defender que os espíritos se formavam em órgãos diferentes: os espíritos naturais, no fígado, os espíritos vitais, no coração e os espíritos animais, no cérebro. A experiência como médico de gladiadores contribuiu para aumentar os seus conhecimentos sobre a anatomia do cérebro e para a criação da hipótese cefalocêntrica. Ele teorizava que se se retirassem as ramificações de suporte dos ventrículos, o que ficava era esférico e (Fincher, 1994, p.41) “que «o poder da sensação e do movimento flui do cérebro» e ainda que «o que é racional na alma tem ali a sua existência”. A sua teoria de localização do espírito no fluído dos ventrículos perdurou por vários séculos.
Nemésio, no século VI, estabelece a distinção entre: sensação e imaginação, que colocava no ventrículo anterior, a razão, que colocou no médio e a memória, no posterior.
Entre os séculos XV a XVII houve grandes alterações na Europa; entre as quais podemos salientar: a descoberta de novas terras e de novas vias de comunicação, a nova concepção da Terra, da sua cartografia e da física. Este clima de mudança e inovação estendeu-se à investigação anatómica.
Assim, no século XVI, Andreas Vesalius que realizou várias dissecações, sobretudo em crânios de criminosos executados, refuta a ideia de Galeno, na obra De Humani Corporis Fabrica, afirmando que a sede funcional deve ser (Siksou, 2008) «mais cerebral».
Thomas Willis (1664-1670), professor em Oxford, na Inglaterra, no Cerebri Anatome, reclassificou os nervos cranianos traçando o percurso do fluxo sanguíneo para o cérebro. Concluiu que o pensamento procedia do cerebrum, os hemisférios exteriores do encéfalo.
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