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As Invasões Bárbaras
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Denys Arcand retoma seus
personagens de “O Declínio do Império Americano” (1986) para observar e
discutir o fim das ideologias que, deslocadas pelo princípio do capital que a
tudo que compra, reduziu as instituições públicas e os agentes privados, ao
papel de prestar favores remunerados. E, no extremo contrário, como forças
essenciais, o cineasta canadense exalta a amizade, o amor, a memória e o
conhecimento.
“As Invasões Bárbaras”, de 2003,
narra os últimos dias de vida de Rémy (Rémy Girard), um socialista que está em
fase terminal de uma grave enfermidade. Seu filho, Sébastien (Stéphane
Rousseau), um bem-sucedido operador financeiro em Londres, é convocado pela mãe
para assistir ao pai em seu derradeiro momento. Sébastien e Gäele, sua noiva,
rumam para Quebec, parte francesa do Canadá, onde a saúde é institucionalizada,
mas o atendimento e os recursos são deficitários. Ao encontrar o pai em um
quarto compartilhado com vários pacientes, Sébastien decide por em prática a
circulação do papel-moeda. Aluga o segundo andar, que está vazio, convencendo
financeiramente a diretora do hospital e o sindicato. Depois de conduzir o pai
até uma clínica nos Estados Unidos, e descobrir que a situação de seu genitor
será de dores intensas e deploráveis, Sébastien é aconselhado pelo médico
estadunidense a aplicar heroina em vez de morfina para aplacar mais rapidamente
o sofrimento físico. Para realizar a sugestão do médico, o operador financeiro
procura a polícia de Quebec, que recusa ajudá-lo oficialmente, porém faz vistas
grossas quando Sébastien, com o auxílio de Nathalie (Marie-Josée Croze, melhor
atriz em Cannes 2003), jovem viciada em heroina – que é filha de uma amiga e
ex-amante de Rémy -, procura um traficante para conseguir a droga. Sébastien
ainda reúne todos os amigos do pai, intelectuais que viveram todas as utopias
políticas e aproveitaram toda a liberdade sexual permitida pós-1968. Ele ainda
coloca a irmã, Sylvaine, em contato com o pai; ela que está no mar a serviço,
declara seu amor via satélite graças à tecnologia. No fim, Sébastien, sua mãe,
Gäele, Nathalie e os amigos de Rémy vão para o campo assisti-lo morrer. Rémy,
um pouco antes de sua morte, se percebe um privilegiado, pois viveu a vida,
criou dois belos seres humanos e amou seus amigos e todas as suas aventuras
sexuais. A eutanásia alivia a agonia de um intelectual sedutor que abraçou a
vida e os movimentos políticos. Sébastien e o pai buscam a paz num processo de
superação da incomunicabilidade e o passo definitivo para o afeto, último
refúgio das noções que sustentam quaisquer ideais de humanismo.
“As Invasões Bárbaras”, que
rendeu a Denys Arcand o Oscar de melhor filme estrangeiro de 2003, discute as
decepções dos “ismos”, regimes políticos e movimentos sociais, que pareciam
consolidar um rumo diferente para o mundo, tentativas de superar o valor
econômico e os traços tecnocráticos, regentes do ideário mundial do progresso,
por um sentido mais igualitário e justo par o mundo globalizado (global,
talvez, desde o comércio grego na Antiguidade, a hegemonia romana, o massacre
das civilizações da América Latina pelos espanhóis nos séculos XIV e XV, etc.).
As invasões tidas como bárbaras, pós-11 de setembro, são os gritos audíveis e
letais do Terrorismo, mas já foi o dos exploradores espanhóis na América, e, é
o do dinheiro como governante e motivador das ações dos homens e das mulheres
num Ocidente de relações humanas frágeis. Sébastien corrompe um mundo já
corrompido; a sua intenção é nobre: reservar ao pai enfermo o final mais
tranqüilo possível. As “invasões bárbaras” também são a da apatia, do medo de
se relacionar e dos entorpecentes que muitos pensam dar sentido à vida.
Considerando que as utopias políticas
se banalizaram, cometeram crueldades, se autodestruiram ao se renderem as
“invasões bárbaras”, o amor continua sendo o motor móvel (aqui um pequeno
empréstimo do termo aristotélico) dos atos de solidariedade entre homens e
mulheres. É o amor que cultiva a amizade, que garante alegrias em um cotidiano
profundamente instável. Além disso, há o conhecimento, os livros que mantêm
viva a chama da curiosidade e dos desejos de mudanças. Nas estantes de Rémy,
Nathalie observa um lugar novo e inexplorado. Talvez, nesse ponto, diante todas
as decepções pessoais e frustrações políticas, estejam o legado que sustenta os
impulsos de renovação que, com o amor e a amizade, tencionam uma utopia
possível que perdure diante de quaisquer “ismos”.



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