A Cidade e as Serras
(Eça de Queiroz)
A Cidade e as Serras é um livro de contrastes, cuja temática assenta na ideia de retorno; retorno a um mundo simples e fiável, corrompido por uma sociedade ânsia de civilização e de progresso que se esqueceu de valores essenciais e autênticos da condição humana. Nesse processo, o protagonista, Jacinto Galião, oriundo de classe social priveligiada, "homem culto e elegante", leva uma vida luxuosa na sua mansão de Paris que lhe é proporcionada pelos rendimentos fundiários familiares. Nessa ociosidade opolente, Jacinto divide os seus dias 'de côrte' em manifestações e eventos da elite parisiense.
A visita do seu amigo, e narrador da história, José Fernandes, torna-se no mote para o redescobrimento interior de Jacinto que o levará de volta à sua terra natal, cansado da futilidade e prazer efêmero que se esgota no fundo de uma garrafa de bom vinho, ou em qualquer outro utensílio de enebriadês intelectual e espiritual.
Aí chegado, como no mito do bom selvagem, Jacinto redescobre o prazer das coisas simples, do que é puro e autêntico, em ambiente bucólico, sem necessidade de máscaras e convenções sociais, o homem devolvido à natureza e a natureza devolvida ao homem, numa simbioiose remanescente do Éden primordial.
Em suma, o campo, visto como utopia, face ao mundo cinzento e degradado da nemesis citadina, é o fôco temático da obra, que pode igualmente ser interpretado como redescobrimento pessoal, o resgate do indivíduo a condições sociais exógenas à sua autenticidade humana, ou da insatisfação inerente a essa mesma condição humana, que nos impele e leva à procura da utopia desejada.
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