Cartas de Iwo Jima
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A preparação do exército japonês
para conter a invasão estadunidense a Iwo Jima é contada com extrema
sensibilidade e apuro técnico pelo cineasta Clint Eastwood em “Cartas de Iwo
Jima”. Produção do ano de 2006, a película de Eastwood (que com o seu par que
foca o lado estadunidense, lançado no mesmo ano, “A Conquista da Honra”,
completa um duo de filmes relevantes sobre os reveses da guerra) capta a tensão
existente entre duas culturas e a forma como elas se enxergam com os exageros
habituais, fruto do desconhecimento, do medo e do ufanismo
Iwo Jima, 1944. Saigo (Kazunari
Ninomiya) é um jovem que está no limite de suas energias física e mental devido
às inúmeras carências vividas diariamente no acampamento e a saudade da esposa
Hanako (a bela Nae). O general Tadimiche Kuribayashi (Ken Watanabe, excelente),
novo comandante das ações do exército japonês na ilha, inspeciona o local.
Nesse momento, ele presencia o castigo físico imposto por um oficial a Saigo
motivada por uma declaração considerada antipatriótica. Kuribayashi revoga a
sentença, argumentado que disciplinar os soldados dessa forma não é uma
contribuição comprovada para ganhar a guerra. Saigo não tem espírito de
soldado; matar ou morrer são coisas que o incomodam. Kuribayashi, que já vivera
nos Estados Unidos, pretende montar uma estratégia de defesa racional, apoiada
no que ele conhece do país adversário. No entanto, aos poucos, Kuribayashi vai
descobrindo sua real situação; sem o auxílio das outras companhias das forças
armadas japonesas, o general se vê em posição desfavorável. Os principais
oficiais estão discordes em relação aos seus planos, que prefere não combater
na areia, mas construir trincheiras e túneis na montanha. Na figura do Barão
Nishe (Tsuyoshi Ihara), campeão de salto a cavalo, Kuribayashi encontra amizade
e fidelidade. Enquanto isso, o grupo de Saigo desconfia que entre eles há um
soldado colocado no pelotão para espioná-los. Eles suspeitam que Shimizu (Ryo
Kase) faça parte da polícia ideológica, responsável pelo encaminhamento do
recrutamento obrigatório.
Antes do decisivo combate, os
japoneses sofrem um pesado bombardeio aéreo que anuncia a invasão
estadunidense. Durante o confronto, a tradição e o conceito de honra para os
japoneses são postos em teste pela difícil escolha entre o Harakiri, o combate feroz e a sobrevivência. Kuribayashi deseja que
seus homens lutem até o último momento. Porém, grupos inteiros encurralados
optam pelo suicídio, sinal de honra, pois, assim evitam serem capturados com
vida. Saigo em desacordo a ordem de seu capitão, não põe fim à própria vida, e
convence Shimizu (de quem começa a conhecer a triste história) a prosseguir na
luta pela sobrevivência. Em meios aos combates brutais traços individuais dos
componentes da temível batalha se revelam: na cordialidade e respeito na
relação de Nishi com um soldado estadunidense feito prisioneiro, no linchamento
de um jovem ianque por aterrados japoneses ou na execução a sangue frio de dois
soldados japoneses que havia se rendido por um militar estadunidense. Saigo
quer apenas sobreviver, e nessa pugna contra a vicissitude, se incorpora aos
pelotões que encontra, pensa em rendição, e termina a cargo de queimar todas as
correspondências e documentos do quartel-general. Kuribayashi vive o conflito
como pretendeu até o último instante. Ele conseguiu prolongar uma batalha que
se contava durar cinco dias por exaustivos quarenta dias.
O filme começa com uma expedição aos túneis
usados durante a guerra. Lá são
encontradas cartas enterradas, relíquias de tempos sombrios, passagens que
falam de amor à família, que descrevem atos de coragem e revelam os medos
ocultos de homens que têm o dever de serem bravos. Eastwood imprime um tom
poético à narrativa sem deixar de observar a face bárbara de uma contenda
bélica. Kuribayashi se mostra um cavaleiro lançado na selvageria, e tenta
coordenar as ações dos homens que estão sob o seu comando de maneira honrada e
destemida. A luta de Kuribayashi é a batalha que engloba o dever da vitória, a
preservação da civilidade, o respeito às tradições e o desejo de rever àqueles
que ama. Nas leituras das cartas que apresentam trechos sobre a convivência
militar, a saudade e a esperança de retornar para casa são e salvo, Eastwood
torna sua película intimista, próxima de uma compreensão ecumênica a despeito
dos episódios viscerais do prélio armado.
Eastwood revela ousadia e
sensibilidade em focar o lado japonês do conflito em Iwo Jima. Ele mira as
dores dos vencidos que, sob o jugo dos oponentes e da falta de reforço dos
compatriotas, buscaram na probidade seu vinculo com a tradição e a esperança de
louvor.
“Cartas de Iwo Jima” se projeta
como um dos melhores filmes da primeira década do século XXI, devido à decisão
de Eastwood de olhar a alma de seres humanos acossados que buscam num instante
a grandeza de uma vida que está frente a frente com a morte.
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