Tim Kretschmer
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Agressões A adolescente sentia-se entediada enquanto assistia ao noticiário da noite. Levantou-se por várias vezes, deitou-se, sentou-se, levantou-se novamente e buscou na cozinha uma bebida. Assistindo ainda ao noticiário, algo lhe chamou a atenção. Um rapaz de 17 anos havia invadido uma escola, matado 15 pessoas antes de suicidar. Ao contrário do sentimento de tristeza que muitas pessoas teriam, ela sentiu-se animada pela idéia que lhe ocorrera. Há tempos sentia-se sufocada e excluída pelos colegas de escola, por causa do seu jeito tímido. Até mesmo em casa sentia-se recriminada por não ser extrovertida como suas duas irmãs. Pensou então que poderia fazer algo parecido com o que o rapaz do noticiário fizera. Durante dois meses a adolescente planejou seu ataque. Comprou algumas facas, pois se pegasse as de casa logo alguém desconfiaria, encheu algumas garrafas de gasolina que guardou no porão de casa, onde ninguém costumava entrar. Foi a uma loja de fantasias, comprou uma máscara e pegou numa caixa velha, há tempos guardada e intocada, uma pistola de gás pertencente ao padrasto. Com o plano armado acordou na segunda-feira disposta a colocá-lo em ação. Antes, porém, lembrou-se de escrever uma carta dando explicações e explicitando todos os motivos que a levaria a fazer o que pretendia. Enquanto escrevia sentiu certa angústia que se misturava ao medo. Entretanto, não desistiu. Colocou todas as coisas dentro da mochila, vestiu-se e saiu. Enquanto caminhava sentia ódio e vontade de vingar-se por todo o desprezo a que fora submetida. Uma imagem veio à sua cabeça. A de uma colega de sala que na semana anterior havia lhe proferido palavras de desprezo e chacotas. Naquele momento a adolescente decidiu quem seria sua primeira vítima. Chegou à escola já vestida de sua máscara e munida de facas. Entrou no complexo Albert Einstein e dirigiu-se ao banheiro feminino, pois sabia que naquele horário encontraria sua vítima lá dentro. Entrou sorrateira e lhe agarrou pelas costas de frente ao espelho enquanto a garota se debatia tentando desvencilhar-se da pessoa de máscara. A vítima gritava muito e ao mesmo tempo tentava fugir. A garota já estava muito ferida quando a agressora ouviu vozes e passos no corredor sucedidos pelo som de um alarme. Esta sentiu uma onda de terror, medo e angústia. Sem pensar, soltou sua vítima e fugiu do local. A garota ferida foi levada a um hospital e teve seu dedo amputado. Logo após a fulga da agressora as salas de aula do colégio foram evacuadas pela polícia alemã e todos os cerca de 800 alunos foram isolados em uma quadra esportiva. A adolescente sentia euforia, medo, tristeza e solidão. Enquanto fugia misturava lágrimas aos risos de loucura. Pensava que por tantas vezes fora agredida por palavras, atos, olhares, cochichos. Pensava em sua vingança fracassada e que agora estava sem ninguém e logo seria descoberta. Decidiu parar. Parou. Sentou-se, colocou a cabeça entre as pernas e esperou. Esperou pelo socorro. O mesmo socorro que a entregaria à condenação, mas naquele momento sua alma só pedia uma coisa... Compaixão.
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