Teoria Freudiana e o Padrão da Propaganda Fascista
(Theodor Adorno)
A maioria esmagadora das declarações dos agitadores é dirigida ad hominem.
Isto não se liga apenas à unidade fundamental do propósito político: a abolição da democracia através do apoio de massa contra o princípio democrático, mas mais ainda à natureza intrínseca do conteúdo e da apresentação da própria propaganda. Sem jamais se dedicar ao estudo dos desenvolvimentos sociais contemporâneos, Freud apontou tendências históricas através do desenvolvimento de seu próprio trabalho, da escolha de seus temas e da evolução dos conceitos-guia. fundamental da manipulação fascista. É pouco adequado definir as forças da rebelião fascista simplesmente como poderosas energias do id que se livram da pressão da ordem social existente. O padrão libidinal do fascismo e a técnica toda dos demagogos fascistas são autoritários. Faz-se um fetiche da organização como tal; ela se torna um fim ao invés de um meio e esta tendência predomina do começo ao fim nos discursos do agitador. individual da horda primitiva com o pai primitivo... O pai primitivo é o ideal do grupo, que governa o eu no lugar do ideal do eu. A agitação fascista está centrada na idéia do líder, não importando se ele lidera de fato ou se é apenas o mandatário de interesses do grupo, porque apenas a imagem psicológica do líder é apta a reanimar a idéia do todo-poderoso e ameaçador pai primitivo. Esta afirmação-chave da teoria freudiana da psicologia de grupo, aliás, explica uma das mais decisivas observações sobre a personalidade fascista: a externalização do supereu. Através da identificação eles também tendem a se submeter ao eu do grupo às expensas de seu próprio ideal do eu, o qual acaba virtualmente fundido com valores externos. Deve-se notar, entretanto, que o Ernst Simmel tardio, ao qual devemos valiosas contribuições à psicologia do fascismo, tomou o conceito de Freud da natureza ambivalente da identificação como um derivado da fase oral da organização da libido, 14 e o ampliou em uma teoria analítica do anti-semitismo. Pode bem ser que este componente pré-edipiano da identificação ajude a provocar a separação da imagem do líder como a de um pai primitivo todopoderoso, da imagem paterna real.O papel essencial do narcisismo em relação às identificações que estão em jogo na formação de grupos fascistas é reconhecido na teoria de Freud da idealização. Isto, por sua vez, corresponde à semelhança da imagem do líder com uma ampliação do sujeito: fazendo do líder seu ideal. Todavia, Freud está atento a outro aspecto da imagem do líder que aparentemente contradiz o primeiro. De acordo com ele, o indivíduo desiste de seu ideal do eu e o substitui pelo ideal do grupo tal como encarnado no líder. Por causa daquelas partes da libido narcisista do seguidor que não foram investidas na imagem do líder mas permanecem ligadas ao próprio eu do seguidor, o super-homem deve ainda se assemelhar ao seguidor e deve aparecer como sua ampliação.A imagem do líder satisfaz o duplo desejo do seguidor de se submeter à autoridade e de ser ele próprio a autoridade. Todos os dispositivos padrão (standard) dos agitadores são projetados em acordo com a linha da exposição por Freud daquilo que mais tarde se tornou a estrutura básica da demagogia fascista, a técnica da personalização23, e a idéia do grande homem comum. Freud apresenta uma explicação exaustiva do elemento hierárquico em grupos irracionais. A causa deve antes ser encontrada no inegável enfraquecimento dos sentimentos religiosos e dos vínculos libidinais deles dependentes. Ao mesmo tempo, o impacto mitigante da doutrina religiosa do amor desapareceu. exceção da hierárquica. Igualitarismo repressivo ao invés da realização da verdadeira igualdade pela abolição da repressão é parte e parcela da mentalidade fascista e se reflete no dispositivo se-você-soubesse dos agitadores, que promete a vingativa revelação de todo tipo de prazeres proibidos desfrutados por outros. A adequação dos dispositivos dos agitadores à base psicológica de seus objetivos é aperfeiçoada por outro fator. Sob as condições prevalecentes, a irracionalidade da propaganda fascista se torna racional no sentido da economia instintual. A assim chamada psicologia do fascismo é amplamente gerada por manipulação. O conteúdo da teoria de Freud, a substituição de narcisismo individual pela identificação com a imagem dos líderes, aponta na direção do que poderia ser chamado de apropriação da psicologia de massa pelos opressores. A emancipação do homem do domínio heterônomo de seu inconsciente seria equivalente à abolição de sua psicologia . O fascismo promove esta abolição no sentido oposto, pela perpetuação da dependência ao invés da realização da liberdade potencial, pela expropriação do inconsciente pelo controle social ao invés de tornar os sujeitos conscientes de seus inconscientes. Este aumento bem pode terminar numa súbita consciência da inverdade do feitiço e, eventualmente, em seu colapso.
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