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Folha de Sao Paolo
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Reflexão sobre o Infanticídio

    Tenho como princípio norteador de minha conduta pessoal e profissional, estar sempre aberta a conhecimentos que possam fazer com que mude em algum momento, sobre um ponto de vista por mim defendido como verdade. Isto me faz ter flexibilidade de pensamento e ação, quando percebo que pensei ou agi às vezes, por falta de informação, de maneira incorreta. Quando isso acontece, tenho a humildade para imediatamente, de posse da nova informação, mudar a minha diretriz assimilando o novo conhecimento.
    Isto posto, devo dizer que sempre fui uma ardorosa defensora da manutenção da tradição e costumes dos povos indígenas, porém um fato revelador me fez rever esta posição: trata-se do infanticídio ainda praticado por algumas tribos.
    Segundo dados, publicado no jornal Folha de São Paulo (em junho do ano 2008), o infanticídio ainda é praticado por cerca de 20 etnias entre as mais de duzentas, levando à morte, gêmeos, filhos de mães solteiras e crianças com deficiência mental ou física.
    Diante desse fato, aparentemente aceito por alguns antropólogos e Instituições Públicas, que pregam o relativismo cultural, onde não há espaço para a intervenção direta na cultura indígena, temo por milhares de vida de inocentes mortos impunemente, (como, aliás, acontece no centro da cidade também) sem direito a defesa. Acredito que toda cultura deve ser preservada e sua tradição transmitida aos seus descendentes para sua manutenção, no entanto, quando se trata de vidas humanas, acho que este conceito deve ser revisto.
    Há uma lei em tramito na Câmara, desde o ano passado, conhecida como Lei Muwaji, nome dado em homenagem à índia que enfrentou a tribo para salvar sua filha com paralisia cerebral (fato que causou a criação da ONG Atini, cujo objetivo é combater a prática do infanticídio), que estabelece que qualquer pessoa que saiba de casos de criança em situação de risco e não informar às autoridades, responderá por crime de omissão de socorro.
    Esta temática gera muita polêmica; segundo a Antropologia para as tribos, o índio só considera um ser como pessoa, quando ele é recebido pela sociedade, portanto quando acontece essa prática, do ponto de vista cultural, ainda não se considera um ser como completo. Segundo essa lógica, o infanticídio não seria uma desumanidade, para alguns antropólogos.
    O que seria um ato desumano então? Enterrar uma criança abandoná-la a própria sorte só porque tem alguma deficiência física ou mental (e também gêmeos e filhos de mãe solteira)?
    Até que ponto nossa sociedade pode aceitar tal prática no nosso século, onde com o apoio de pesquisadores, estudiosos e técnicos, estamos finalmente conseguindo desmistificar o conceito de deficiência?
    Acredito que em sociedades, onde a força física é primordial para a sobrevivência, deva haver uma seleção natural dos aptos à caça e pesca, por exemplo, e dos não aptos a esta atividade, como os deficientes físicos ou mentais, que poderiam exercer outra função dentro de sua comunidade, mostrando que todos são capazes de realizações, quando motivados e estimulados. Uma solução simples como essa, deveria ser proposta pelas pessoas que propagam o não intervencionismo nas culturas adeptas ao infanticídio, como uma alternativa para uma atuação mais humanitária pelos grupos praticantes.
     Para nós pessoas envolvidas com a causa dos deficientes, restam-nos esta reflexão: até que ponto nós ainda teremos que conscientizar toda a sociedade (índios e não índios) que uma vida humana, seja ela com alguma deficiência ou limitação, deve ser preservada, acolhida e amada pela sociedade da qual faz parte?
    Espero que num futuro bem próximo, as pessoas comecem a respeitar o ser humano e suas diferenças, como algo inerente à capacidade do indivíduo de se adaptar, e respeitar os padrões divergentes dentro de sua comunidade.

Salete Dias



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