Rock dos anos 80 e a sociedade brasileira
(maria izabel silva de almeida)
O que você lembra dos anos 80? Do relógio CHAMPION que trocava as pulseiras, do elo maluco um brinquedo de lógica. Todos diziam que as crianças ficariam mais inteligentes. Ou do “ água play” . O casamento da Lady Diana, o mundo parou para ver a ultima princesa do século XX, e Maycon Jacson, dançando Thriller de Zumbi e Madona com lenço no cabelo e cruzes no pescoço cantando “olhe a virgem”. No cinema ET, preocupado em voltar para casa, “minha casa , telefone”.
E na escola, não tinha mais questionário para decorar, agora à moda era entender. Não tinha mais as matérias de “técnicas comerciais” e “educação para o lar”, era a mesma coisa só que trocou de nome agora era “Educação Artística”. E o professor mais legal era o professor de história, que vivia em greve e tinha muita passeata: Ecológica, dos professores, para as diretas já, batendo panelas e apitando.
Neste contexto o que será esse tal de rock in roll. Os Precursores do movimento no Brasil e a indústria que se envolve vagarosamente sendo conquistada pelos jovens. E a teoria da libertação que norteou as reformas pedagógicas com os acertos e erros de uma geração.Nesse panorama histórico, as bandas paulistas e cariocas, e a obra musical de Brasília na banda Legião Urbana e a profissionalização das bandas brasileiras após o Rock in Rio e a atualidade das letras. E a marca, a fissura que ao ouvirmos a música nossa memória; lembramos dos anos 80 das compras e da vontade de construir um Brasil Melhor.
A política descobrindo a força popular, e o Rock, deflagrando o movimento, a nova constituição, os novos valores expostos nas letras das músicas de bandas como Titãs e Barão vermelho. A causalidade explicita da Blitz, e a Vida Bandida do maldito amado Lobão. E a paz e o amor, finalizando com a mesma palavra “Amor” no trovador solitário Renato Russo.
Na década final de 1980 o rock estava em busca de novas alternativas. Cazuza agonizava , estava doente havia contraído AIDS, e Renato Russo usava palavras demais em suas músicas que já não faziam tanto sentido e Arnaldo Antunes estava em carreira.
Na virada para os anos 90, Cazuza morre, ele reunia todos os traços do roqueiro brasileiro. Uma geração de punk – anglo americano, não importava saber tocar, saber cantar, era o rock “faça você mesmo”. Importava era cantar em português e falar de coisas comuns como: amor, ética, sexo, política, da cidade, do estado natural da juventude pelas brechas da redemocratização. Um dos principais participantes Edgar Scandurra avalia que o “... rock era mais viril, de letras mais contundentes...”. O rock dos anos 80 tinha uma ligação muito forte com a conjuntura política e este jovem cantava sem medo olhando nos olhos do público, irreverentes, largados.
Com o Plano Econômico Cruzado “O Plano” substituiu a moeda, e veio a desinflação, assim veio a vontade de consumir.
O BRock era urbano e de esquerda e pró-Lula [1], não foi só o rock que se uniu a esquerda pró-Lula uma parte da classe artística. Com a Eleição de Fernando Collor de Mello. O BRock se tornou oposição e também o “inimigo a ser combatido”. “O governo Collor tirou nosso espaço da mídia”, diz Lulu Santos (DAPIEVA,1995.p202) O “Profeta Lobão”, diz: o que não nos mata , nos torna mais fortes. Em 1996 morre Renato Russo.
Na educação todas as tentativas progressivas de esquerda foram aplicadas e seus resultados não tiveram continuidade e tomando rumos que não foram definidos e sequer sonhados quando idealizados no afã dos radicais comunista. O maior exemplo foi às eleições para diretores das escolas públicas e universidades; sua origem era para apoiar o exercício democrático. Em tese era o ponto de partida para a democratização do país, e na realidade leva a direção das escolas profissionais que não estavam comprometidos com a educação, exemplos de discursos falidos como: a escola tem que ser igual a uma empresa, favorecendo assim a política escola – empresa.
Outro aspecto refletiu-se na política, os mesmos candidatos revezam o poder executivo e legislativo e seus sucessores “hereditários”;. Em contrapartida as administrações dos partidos de esquerda foram ínfimas e uma decepção para a população que ao contar das datas foi tão ou igualmente corrupto como os combatidos na ditadura.
Mesmo assim a palavra critica do BRock dos anos 80, manteve-se atual. Ainda nos perguntamos Que País é esse? Ainda com vinte anos de democracia é tão atual esta frase da canção de Renato Russo: na favela no senado sujeira pra todo lado.
As composições do BRock estavam em perfeito estado de crítica e descrição da realidade, e o BRock funcionou como um grande canal para o conhecimento ideológico , para o pensamento e a liberdade conquistada por essa geração que usou a espontaneidade , o talento e atingiu , elucidou e informou o novo tempo democrático.
“... Para fazer justiça uma vez na vida eu me vali deste discurso panfletário. Mas a minha burrice fez aniversário ao permitir que num país como o Brasil ainda se obrigue a votar por qualquer trocado, por um par de sapato , um saco de farinha, a nossa imensa massa de iletrados...” Hebert Viana
[1] Lula – Luis Inácio Lula da Silva, Sindicalista, fundador do partido dos trabalhadores eleito Presidente da Republica do Brasil em 2002, com uma ampla promessa de modificações socialistas.
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