Diário remendado 1971-1975
(luiz pacheco)
Um diário que não tem precedentes na literatura portuguesa. É verdade que a sinseridade e a autenticidade podem esconder uma finalidade estética. Podem ser fingidas. Mas, não haja dúvidas, este foi escrito sem pruridos sem posses, contém momentos de indiscutível fraqueza (...) Independentemente daquilo que pensarmos de Luiz Pacheco e do seu estilo de vida, este diário é a tentativa mais aproximada de dizer a verdade acerca de si próprio."Não há tempo a perder, disse-me esta, digo ontem de manhã 31, escrevo às 3 horas do dia 1, quando vi no espelho por acaso, as pálpebras, bolsas avermelhadas, debaxo dos olhos, mais no esquerdo que no direito. E no entanto, já de véspera tomara precauções: nada de jantar, nenhum calmante para que a tensão não baixasse, como repousado e com sonhos até divertidos.Como escrita organizada e em episódios completos, Leitura de Mim, tão pouco cumpriu. Não posso permitir-me o luxo de reservar uma ou mais horas por dia para escrivinhar assim, nem tenho feitio, nem me apeteceria sempre. É verdade que facilitei interrupç~~oes que não aproveitei oportunidades. Mas as lacunas ou ausências, espaços claros no papel, representam justamente forte actividade noutros campos.Uma etapa termina: os Exercicios de Estilo, minha principal preocupaç~so durante mais de um ano e objetivo visionado ainda em Setúbel, em 63-64, já est~~ao. Não me modificaram a vida, continuo quase na mesma sob muitos aspectos. Noutros terá sido decisivo. Não sei bem quais; não os posso exergar com nitidez lúcida e precaver-me ..."
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