Os donos da voz: Indústria fonográfica brasileira
(Marcia Tosta Dias)
A música, durante toda a história, foi um importante elemento de expressão dos povos. Adorno e Horkheimer afirmam que o homem vai realizando um desencantamento do mundo através da razão instrumental, processo que eles chamam de esclarecimento. Esse esclarecimento proporcionou o advento da sociedade administrada, que estabeleceu padrões para tudo, até para a cultura, que nada têm a ver com a qualidade do objeto. Assim surge a indústria cultural e seus produtos perdem sua especificidade para dar lugar à lógica da economia e da administração. A indústria cultural fica subordinada à lógica de mercado e as mercadorias acabam ficando idênticas. As obras foram sendo dominadas pelo detalhe técnico.
As mercadorias musicais sempre estiveram limitadas ao aparato tecnológico. Com o fonógrafo e depois os gramofones, surgiu uma guerra entre as empresas para produzir aparelhos que reproduzissem músicas. Surge uma disputa pelo monopólio de mercado do hardware-software, gerando muitas fusões entre as empresas.
A música popular se torna pop ou famosa através do processo de repetição. Ao ouvir muitas vezes uma música, o ouvinte é levado a pensar que ela já é um sucesso e com isso há o reconhecimento e a aceitação. Dessa forma, os empresários utilizam esse fenômeno para dizer que oferecem ao público o que ele quer.
Os meios de comunicação no Brasil começam a se desenvolver em 1964 por causa do governo militar. O mercado de bens culturais também toma impulso nos anos 60 e 70. Assim, os meios se desenvolvem e se complementam e um impulsiona o desenvolvimento do outro. Na televisão, os enlatados americanos deram impulso aos produtos nacionais, como a telenovela, que depois foi exportada a diversos países. A venda de discos também aumenta muito nesse período. A produção de música brasileira se consolida. Surgem nomes como Gal Costa, Gilberto Gil, Caetano Veloso e Roberto Carlos. Surge o LP, que dava mais possibilidades e otimizava investimentos, uma vez que substituía 6 compactos simples. Devido à censura, muitos artistas brasileiros sumiram do cenário. Porém, a censura também os favoreceu, uma vez que depois foram vistos como mártires, vendendo muitas cópias. A integração entre os meios de comunicação e a música favoreceu a indústria fonográfica. As trilhas sonoras de novelas e comerciais foram responsáveis pelo boom registrado na década de 70 no mercado fonográfica brasileiro.
A autora cita o artista de marketing, que é concebido e produzido a um custo baixo com o objetivo de fazer sucesso mesmo que por um tempo reduzido. Esses artistas são criados pelas gravadoras num momento específico para sustentar os artistas do seu cast. Dessa forma podemos dizer que surgem as modas musicais.
O rock estava estourando no mundo no final da década de 70. As gravadoras reconheceram isso e passaram a investir nesse estilo por ser mais barato. Não havia profissionais como arranjador, maestro, acompanhantes para receber cachês. Assim, a indústria fonográfica brasileira passa a querer que o rock dê certo e por isso investiu em bandas na década de 80. A indústria na verdade não fez mais do que constatar a grande movimentação existente no Brasil nos anos 80 em torno do rock. Muitas empresas não eram verticais, tinham artistas de todos os gêneros, uma estratégia para lucrar mais. Dessa forma, se a moda muda de um dia para o outro, elas não saem perdendo.
Nos anos 70, três coisas estavam definidas: a consolidação de um cast de artistas, a segmentação como estratégia e o LP como produto principal. Assim, as empresas passaram a investir em outras áreas, como gravação, prensagem, duplicação e distribuição. Nos anos 90 o Brasil sofreu a mais grave crise no setor de venda de discos, em parte devido à sucessão de planos econômicos.
O CD não teve grande expansão no Brasil no começo da década de 90 porque era caro e os aparelhos reprodutores também. Mas, de 92 para 93 os preços caem muito e as vendas aumentam. Quase metade dos CD’s vendidos eram relançamentos antigos porque os consumidores procuravam em CD os títulos que tinham em vinil. Assim a indústria ganhou porque não precisava arcar com as despesas de produção. O CD se torna algo moderno e acaba sendo mais importante, muitas vezes, que o conteúdo.
As empresas independentes, ao procurarem oportunidades e ao testar produtos, permitiram às majors realizarem escolhas mais seguras na hora de investir em novos nomes. As majors buscam nas indies produtos acabados, prontos para a difusão. Nos anos 50, com o surgimento dos gravadores, os novos produtores puderam entrar no mercado fonográfico, porém, para as pequenas empresas, o problema foi a difusão e distribuição. A produção em estúdios, hoje, também está mais barata, o que facilitou o surgimento de gravadoras e artistas independentes. Esse fenômeno não alterou o poder das majors, mas, ao contrário, lhes deu melhores condições de produção. Para as indies, a situação ainda é de insegurança. Muitas delas têm vida curta e ficam subordinadas às grandes. No Brasil, as gravadoras independentes ganham mais força no início dos anos 80. Para vencer o problema da distribuição, muitas indies se uniram às majors através de contratos de distribuição.
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