Psicodiagnóstico Clínico: Novas Contribuições.
(ARZENO, Maria Esther Garcia.)
O Primeiro Contato na Consulta Sintoma: À medida que a primeira entrevista se desenvolve poderemos perceber se é realmente um sintoma (aquilo que o consutante traz como motivo manifesto da consulta), do ponto de vista clínico, ou se está somente encobrindo outros. O que ocorre comumente é que o motivo latente não aflora no início porque, geralmente, angustia muito e permanece no inconsciente. Podemos ter diferentes motivos de consulta manifestos dentro de um mesmo caso. Da mesma forma, quanto maior o tempo transcorrido entre o aparecimento da sintomatologia até o momento em que se concretiza a consulta, maior a nossa suspeita de que exista outro motivo latente, que foi o desencadeante para realizar a consulta. Certamente, o problema foi ignorado até esse momento, mas algo ocorreu que os fez tomar a decisão de consultar. É provável que fosse ?egossintônico? para a família, mas que algo tenha provocado a ruptura desse ?equilíbrio?. Fantasias de doença e de cura: Há uma fantasia de doença em cada um dos pais, no paciente e no profissional que escuta o que é relatado. Estas fantasias nem sempre coincidem. Detectar isto é importante porque nos informa que as resistências são muitas. Os dados (destas fantasias) alertará o terapeuta em relação ao enquadre de sua tarefa, e a ser muito cauteloso na entrevista final para ajudar aos pais de forma que revejam a sua concepção de vida, da doença e da cura. Madeleine Baranger enfatizou o conceito de fantasia de análise que vai se desenvolvendo ao longo do tratamento. Este conceito é importante porque fala da fantasia de doença com um núcleo enquistado com o qual a pessoa mantém um determinado tipo de relação; é algo que está ali, dentro dela; é algo de si mesmo; é algo que é sentido como egodistônico (do contrário não seria fantasia de doença) e que exerce uma enorme influência sobre si mesmo (self) e com o qual existe um determinado tipo de vínculo. É isto o que vai se modificando no decorrer do tratamento psicanalítico, até chegar ao ponto em que essa espécie de núcleo enquistado deixa de sê-lo. Transforma-se no ponto central da análise, mas, mesmo tornando-se mais frágil e menos perigoso, ficará sempre um resto irredutível à análise (algo assim como um ponto cego), com o qual manteremos relações mais permeáveis e maduras. Ou seja, este núcleo se tornará cada vez menos patológico em si mesmo, no vínculo que o ?self? mantém com ele e nos efeitos (de sua presença e desse vínculo) no resto da personalidade. É muito importante estudaar o material dos testes e das entrevistas, tentando descobrir estas fantasias. É importante que durante a primeira entrevista, além de explicitar o sintoma que o paciente traz, e as suas fantasias de doença e cura, tentemos obter uma história ou novela familiar. Os dados cronológicos extaos são importantes, mas mais importante ainda é a versão que os pais ou o paciente trazem sobre essa história. Isto significa desvendar a história do sintoma em torno do qual vai se entrelaçando a história d paciente e de sua família. O sintoma ou os sintomas trazidos como motivo da consulta devem ser colocados dentro de um contexto evolutivo, de forma a não serem superdimensionados e para prever a sua pera através de terapia ou não. O sintoma apresenta: 1. Um aspecto fenomenológico. 2. Um aspecto dinâmico. Mostra e esconde ao mesmo tempo um desejo inconsciente que entra em oposição com uma proibição do superego, ou seja, um conflito que é resolvido parcialmente pelo ego evitando fobicamente a situação angustiante. 3. Em todo sintoma há um benefício secundário: através de seus medos exige luz e ompanhia, que podem funcionar como interferência para a intimidade dos pais. 4. Esta análise, feita a nível individual, deve se estender ao nível familiar. O sintoma está expressando alguma coisa (algo não dito) dentro do contexto familiar. Por exemplo: fobia à escuridão seria explicado pelo incentivo do desejo edípico da criança. Este enfoque do sintoma dentro de um contextoda situação familiar faz com que em alguns casos se opte por uma terapia vincular ou familiar ou, ao menos, por uma orientação psicológica aos pais, paralela ao tratamento individual do filho para que consiga superar o problema. 5. Todo sintoma implica fracasso ou rompimento do equilíbrio entre as séries complementares. É sempre bom lembrar do gráfico freudiano: herança e constituição + história prévia real ou fantasiada + situação desencadeante = conflito interno ? angústia ? defesas ? neurose ? sintoma O sintoma, como mostrado por Freud, inclui sempre o indivíduo e o outro. O sintoma está no lugar de uma palavra que falta, ele vem como máscara ou palavra fantasiada. A mãe neste sintoma é participante. O sintoma então se desenvolve com outro e para outro. O primeiro contato, assim feito, nos dá uma imagem dos pais do paciente, conforme ele nos foi enviado, por que motivo, e segundo as caracterísicas de seu primeiro vínculo conosco. Assim, por exemplo, respeitar o horário marcado, ligar na hora combinada, implica desde o início uma atitude de respeito com o profissional. As consultas canceladas repetidamente não dão uma imagem positiva do paciente ou daquele que consulta, pois a atitude é evidentemente bastante fóbica. Não só os fóbicos podem ter este comportamento; também pode ser psicótico ou até uma atitude inconsciente de preservação, quando o paciente prevê que iniciar uma consulta vai ser algo muito mobilizador e talvez desestruturante.
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