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O Poema de Jorge de Lima
(Aline Macedo)

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Tempos e tempos passaram
                                               Sobre teu ser
                                               Da era cristã de 1500
                                               Até estes tempos severos de hoje,
                                               Quem foi que formou de novo teu ventre,
                                               Teus olhos, tua alma?
 
                                               Os modos de rir, o jeito de andar,
Pele,
Gozo, coração...
Negro, índio ou cristão?
Quem foi que te deu esta sabedoria,
Mais dengo e alvura,
Cabelo escorrido, tristeza do mundo,
Desgosto de vida, orgulho de branco, algemas, resgates
                                                                                 {alforrias?
 
Foi negro, foi índio ou cristão?
Quem foi que mudou teu leite,
Teu sangue, teus pés,
Teu modo de amar,
Teus santos, teus ódios
                        Teu fogo
                        Teu suor,
                        Tua espuma,
                        Tua saliva, teus braços, teus suspiros, tuas
                                                           [comidas,
te vendo, medito: foi negro, foi índio ou foi cristão?
            Neste poema, Jorge de Lima apresenta um eu-lírico reflexivo e indagador. Suas reflexões giram em torno das transformações ocorridas no decorrer do tempo com o povo brasileiro. (“Da era cristã de 1500 / até estes tempos severos de hoje”.Grifo nosso). Tempo este que é limitado, ou melhor, é marcado, historicamente, por uma data precisa: 0 descobrimento do Brasil, período no qual se produzem  mudanças do ponto de vista étnico (miscigenação), religiosas ( chegada dos jesuítas/ Companhia de Jesus) e morais ( chegada dos brancos colonizadores).
            Em princípio, a principal indagação que permeia o trajeto do poema é a origem do povo brasileiro. O eu lírico deixa claro que esse povo foi “transformado” ( não sabe de certeza quem o transformou) e que essas mudanças provocaram  uma mistura étnica: “Te vendo, medito: foi negro, foi índio ou foi cristão?” Os traços estão  misturados de forma que nenhum prevalece sobre o outro.
            Nota-se que, implicitamente, o eu lírico dirige-se ao negro, relembrando  a escravidão ( “algemas”, “alforrias”). Esses versos são reflexos de transformações ocorridas em um tempo histórico e que foram  moldando um perfil que parece enigmático para o eu  lírico: “até estes tempos severos de hoje’.  Nota-se uma insatisfação com essas transformações na medida em que vão alterar a essência que faz parte deste povo.   Essas modificações atingem o corpo físico : “teu sangue, teus pés, tua saliva, teus braços”. Atingem também a cultura: “teu leite”, “teus suspiros”, “tuas comidas’, “tua língua”.   O  poema  ( a nosso ver, antológico) oferece  uma riqueza de procedimentos e de idéias de tal modo que o leitor dificilmente consegue apanhá-lo em suas minúcias.  Segundo Fábio de Souza Andrade, “: a poesia final de Jorge de Lima não funciona à maneira das fábulas, que, sob disfarce de uma cadeia de imagens, encobrem um único sentido, uma moral a ser desentranhada”. (ANDRADE, 1997).
            A poesia de Jorge de Lima   é, de fato,   uma transfiguração da realidade,  a qual é transposta para os versos de forma que choca e surpreende os olhares mais críticos e até os pouco experientes . Seu desfecho é composto pela circularidade poética , pois sempre ocorre nos poemas (pudemos verificar essa questão nos poemas analisados) uma retomada às origens refletidas por caminhos variados e complementares.



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