Memórias à beira de um estopim ( O coquetel Molotov)
(Cássio Amaral.)
Memórias à beira de um estopim
(O coquetel Molotov)
Não ore, nem reze. Pegue a bomba relógio desmonte o poema. Cuidado, ele pode explodir na sua cara.
Versos na base de Marx, ora entrincheirados de um solo de guitarra de baionetas. Uma sinfonia de fuzil bem armado e preparada para a Guerra:
“ 1
Não há nascimento normal
Todo parto é um vômito
Dizem os mais relevantes, um engulho!
Imaginei o quanto seria belo
se os homens conseguissem
com as mãos, tocar as estrelas.
_ Mas percebi que isso seria feio:
haveria radiação agindo,
e queimadura e bolhas e dores...”
L. Rafael Nolli gangrena o texto poético em prosa de forma bem clara, com muita leitura traz à tona uma escatologia em fases da vida, do nascer e morrer:
“ XXXIX 240/01/04
Como pode ser bom esse nosso espetáculo que se inicia com um abrir de pernas e termina com um baixar de caixão?”
Nolli, faz a penetração exata nas palavras:
“... vencendo barreiras e hímens,
galgando distâncias e reentrâncias,
superando obstáculos, seios e vaginas
plantando pênis, semeando porra:
o sexo de ontem faz os homens de amanhã”...
Sua poesia é bem trabalhada, há nela um despropósito com a construção, despropósito não, há nela a própria desconstrução verbal:
“ Vendo fazenda com cem cabeças de gado
Leiteiro, sede própria e dez homens para abate
Procuro um motivo para procurar.
Racista frustrado compra pele branca
para sua ideologia edificada.
Bicicleta sem pedal procura ciclista
sem pé para um passeio descompromissado”...
É esse pedal que faz do poeta um helênico por natureza, alguém que sabe que a poesia essa prostituta que nos assaltou está agora morta, que deseja o sexo dos sentidos e formas, e percebe que esta esculhambação a deixou:
“... Funerais para a Poesia, viva! Enterro em caixão vazio
“O corpo se perdeu na correnteza”, dizem os homens do resgate.
“O corpo? Destroçou na explosão!”, afirmam os peritos policiais.
O povo:
-O pouco juízo do concreto lhe baratinou as idéias.
-Ter nascido lhe estragou a vida...
Funerais para a poesia viva! Cemitério vazio, epitáfio em branco. A poesia
morta não se cravou no mármore frio de sua própria lápide – nem, nas estrelas, foi descansar em paz. Ela atormenta-se no limbo escuro (A utopia celeste, atômica, a massa de hidrogênio a nauseava) Cemitério vazio: sem um único sussurro de um orador.
Um dia, ela bate em nossa janela e diz: “Voltei”. Daremos ela por assombração barata, é zás: lá vai ela de novo erguer seu vôo de Ícaro e quebrar como Ismália.
Pronto, lá vai ela”.
O poeta não suporta o domínio das grandes transnacionais e dos países dominantes em nosso país:
“... O brasil me pariu
Num parto anormal.
Eu vomitei seu nome verde amarelo
em engulho de restolhos tupiniquins
E tive como bandeira
as estrelas dos States...”
Preocupa-se com nossa condição de “bons” emergentes no âmbito internacional, onde a Globalização é uma Bobalização armada para nos esculhambar mais facilmente:
“América, que é você?
Só o Norte?
Só os EUA?
O que é essa América?
Somo nós, o abaixo do trópico?
(e o Chile e o Peru e a Argentina e a Colômbia e os outros? E os centrais?)
América, quem é você?
Um nome de Guerra
utilizado por um explorador Português/Italiano?
(seu nome, meu valoroso explorador, não era Américo?)
Te ferrei brasil,
mas fui apatriado?
tive que ajoelhar diante de meus restos no chão,
almocei meu vômito ainda quente
O brasil que vomitei voltou para meu estômago
Repleto de estrangeirismo barato
O brasil me pariu
eu o prostitui numa esquina
eu e uma puta com sífilis;
eu e um tenente com AIDS;
eu e um gay de catapora;
eu e um cafetão com gonorréia;
eu e uma nação
doente
Patologia
Perturbação
Moléstia
Suores noturnos
Tiros noturnos
Balas perdidas
Favelas perdidas
Juventude débil
Enfermidade,
Mal –Estar,
Depressão
Brasil (brasil)
-É o futebol
(Vivas!)
-É o carnaval!
(Vivas!)
É Augusto Comte , hoje em dia, um Positivista Possesso!
É o povo em sua lamúria
É a Patologia que se espalha com Ordem e Progresso!
É a nação que ouve os riscos de um Tio Sam Perverso.
(Vivas!)
É o povo
em sua seca...
... Viva a ALCA e o FMI!
Viva os embargos econômico!
Viva a dívida externa!
Viva as juras de amor platônica!
Viva e viva
e
Viva
Não há América normal
Toda América é uma mentira!
Dizem todos latinos imigrantes: Culpa
Os esTADOS Unidos!
Memórias à beira de um estopim mostra um poeta comprometido consigo mesmo, transgressor por natureza, não aceitando os ditames que os países dominantes fazem com o mundo. Reflete nossa capacidade de sermos mais íntegros, com nossa responsabilidade de cidadão. Enfim, o livro traz um poeta bem conhecedor da forma, do conteúdo.
Nolli, L. Rafael.
Memórias à beira de um estopim/ L. Rafael Nolli.
Araxá: JAR Editora, 2005.
Literatura Brasileira. 2. Poesia Brasileira. 3. Memória I Título.
CDD. 869.904.
Seu blog: http://rafaelnolli.blogspot.com
Cássio Amaral.
Blog: http://cassioamaral.blogspot.com
Resumos Relacionados
- Sexo, Tempo E Poesia
- O Hino Nacional Brasileiro Em Verso Simples
- Amor. Viva Esse Espetáculo!
- Significado Da Bandeira Do Brasil Downlods Gratis
- "100 Anos De Vinicius Em Memorias Do Brasil"
|
|