Além do Bem e do Mal
(Nietzsche)
O título mostra objetivo de Nietzsche: transcender o nosso modo de ser buscando mais elevadas realidades. Até hoje, a filosofia e a humanidade vivem de acordo com a lógica - cartesiana ou aristotélica, tanto faz, ou enfim, de acordo com aquilo que chamamos de razão -,porém, a razão é somente um modo de considerar a existência e a realidade. Ainda a humanidade não transcendeu a razão. É o tema do livro. Quando ele fala em ir além "do bem e do mal", ele quer nos levar a considerar uma modalidade de consciência que observa o mundo sem dar sentido a coisa alguma e sem definir as coisas como boas ou más, mas, apreendendo-as tal como elas, para nós, se revelam diretamente. Ele fala de transcender os valores e não de transcender a razão, porque a razão e a lógica surgem do dar sentido e do criar significados e não o contrário. Assim, a razão está implícita dentro dos valores, ela é somente um valor, um "ídolo", um elemento dentro do universo dos valores. Todo o nosso modo de ser diante da humanidade começa a partir do momento em que criamos valores, ou seja, quando definimos e dizemos o que é bom e o que é mal. Daí surge tudo. Para transcendermos esse nosso modo de ser que nos limita, porque nos tornamos escravos dos conceitos que nós criamos, para sermos melhores e superiores, "para sermos nobres", é preciso que nós - inicialmente - criemos novos valores, novas definições do que é bem e mal, invertendo: o que antes era bom, agora é mau, e vice-versa. Mas isto é só inicialmente; a meta é chegar a ter consciência de que não existe o bem, nem existe o mal, mas, somente experiências e fenômenos.
A vida era, pois, para Nietzsche, a felicidade da observação e da contemplação da multiplicidade infinita dos fenômenos da existência, sem dar-lhes sentido, sem querer definí-los, mas, apreciando-os na sua espontaneidade, no seu mistério, naquilo que a existência tem de curioso, de exótico. Ou seja, o super-homem é aquele que vive em permanente estado de admiração diante das coisas da vida; é esse estado que devemos alcançar.
Dizer que alguém considera que a vida é trágica, no sentido nietzschiano, é dizer que este alguém observa a própria desgraça, a própria catástrofe, a própria dor e o próprio sofrimento como fenômenos, como experiências, como acontecimentos sobre os quais ele não compreende e que por isso os observa atentamente para tentar percebê-los com clareza, para identificá-los ou reconhecê-los e descrevê-los em detalhes, porém, sem pensar sobre nada eles, sem fazer afirmações sobre eles, sem querer deduzir nada, sem dizer se são bons ou maus, nem por qual razão, nem saber causas, nem efeitos; é somente observar com curiosidade e admiração filosófica como se fossem objetos de estudo, como se essas tragédias e sofrimentos estivessem acontecendo não conosco, mas, com outra pessoa.
É no aforismo 292 do livro que Nietzsche diz aquel célebre trecho que resume de forma excelente, o Além do Bem e do Mal e a idéia fundamental do autor que desejava a trasncendência do ser humano. (Aliás, na opinião de Nietzsche era o seu melhor livro. Ele dizia que era a mesma coisa que ele tinha escrito no Zaratustra só que em forma de prosa.) Eis o trecho: (o texto é adaptação nossa de uma tradução.)
"O filósofo é um ser humano que constantemente experimenta, vê, ouve, suspeita, espera e sonha coisas extraordinárias... que é atingido por seus pensamentos vindos de fora, de acima e de abaixo; para ele, tais pensamentos são experiências pessoais, luminosas como relâmpagos; ele é semelhante a uma tempestade cheia desses relâmpagos, cheia desses pensamentos; um ser humano fatal em torno do qual há experiências e pensamentos estranhos. Infelizmente, um ser que foge de si mesmo por medo desses pensamentos sinistros. Entretanto, é curioso demais... e por isso, volta de novo para si mesmo e para os seus pensamentos estranhos e luminosos."
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